Estevão narrando O som dos aparelhos, o burburinho da equipe médica e os gritos da Karen enchiam a sala. Eu tava ali do lado dela, com a mão presa na dela, vendo o quanto minha mulher era forte… mas também sentindo cada dor que ela tava passando. — Contração forte! — avisou uma das enfermeiras, ajustando o monitor. — Ai meu Deus, ai! — Karen gritou, apertando minha mão com força. — Eu não vou aguentar, Estevão… tá doendo demais! — Vai sim, meu amor. Respira comigo, vai… inspira, solta... Isso! — falei, com a voz trêmula, tentando manter a calma por nós dois. — Está com dilatação completa, doutora — informou a enfermeira que estava entre as pernas da Karen, já pronta para auxiliar o parto. A médica, com os olhos atentos por trás da máscara, assentiu e se aproximou. — Karen, você vai precisar fazer força, tá? Quando eu disser. O bebê já tá aqui, só falta a gente ajudar ele a vir. — Eu tô com medo! — ela chorou, o rosto suado, os olhos desesperados. Me abaixei até o rost

Anthony narrando Ver o Estevão com aquele neném nos braços foi uma das cenas mais fortes que já guardei na memória. O moleque que cresceu comigo, que viveu tanta coisa ao meu lado, agora era pai. E não só pai... era um homem completo, realizado, com a mulher que ama do lado e aquele pequeno milagre no colo. Me apoiei na parede do quarto, sem fazer barulho, só observando. Tinha algo mágico naquela cena. A Karen, com os olhos brilhando, acariciava de leve os cabelinhos do bebê enquanto o Estevão conversava baixinho com ele, como se estivessem só os dois no mundo. Eu sorri sozinho, com o peito cheio. Esse era o tipo de felicidade que não se explicava, só se sentia. Era o tipo de alegria que contagiava, que aquecia. Vi Ana Kelly ajeitando a manta no bercinho e trocando um olhar comigo. Aquele olhar cúmplice de quem sabia que a vida tava sorrindo pra gente. — Tá parecendo um bobo, Anthony — ela disse baixinho, rindo. — E eu sou mesmo. Ver esse cara aí… — apontei discretamente pro

Anthony narrando Eu não conseguia tirar o rosto daquele moleque da cabeça. Era como olhar pra mim mesmo anos atrás. O jeito de andar, a expressão séria, o formato dos olhos... tudo nele gritava Carter. E, por mais que eu tentasse achar uma explicação lógica, o medo já tinha se instalado dentro de mim. Será que...? Não. Não tem como. Nunca transei com ninguém sem camisinha. Nunca. Sempre fui cuidadoso com isso, até demais. Eu tinha noção do peso que meu nome carregava, da grana, do sobrenome. Sempre soube que bastava um vacilo pra minha vida virar do avesso. Então, não. Isso não fazia sentido. Só se... alguma estourou. Ou se alguém fez de propósito. Meu peito apertava. E se ele for mesmo meu filho? Se aquela criança ali carrega meu sangue e eu passei uma década sem saber? Levei a mão até o rosto, fechei os olhos. Senti a cabeça latejar. Não era só a ideia de ser pai que me abalava — era o fato de não ter estado presente, de talvez já ter um filho de 10 anos por aí, cre

Karen narrando Eu tava sentada no sofá, com o Enzo dormindo tranquilo nos meus braços, sentindo aquele cheirinho bom de bebê recém-banhado. A casa tava cheia de amor, cheia de presença. Cada detalhe daquele chá de recepção, cada abraço, cada risada, era prova de que eu tinha ao meu redor as mulheres mais incríveis que eu podia desejar pra vida. Olhei em volta e vi Josefa organizando as lembrancinhas na mesa, Marcela e Jéssica sentadas na beirada da cama do quartinho, rindo de alguma piadinha interna. E Ana Kelly... ah, a minha Ana, a mulher forte que segurou minha mão quando minhas pernas tremiam, tava ali, no cantinho da sala, com os olhos cheios d’água. Respirei fundo e falei: — Eu sei que o dia é pra mim... mas eu preciso falar uma coisa. Obrigada. De coração. Por cada uma de vocês estar aqui. Por cuidarem de mim, do Enzo, por deixarem tudo tão lindo. Eu nunca vou esquecer isso. Elas sorriram, emocionadas. Mas quando olhei de novo pra Ana Kelly, vi no rosto dela que não er

Luísa narrandoTem momentos que a gente guarda no coração como fotografia viva. Esse final de semana será exatamente assim. A família Carter toda reunida, respirando ar puro no hotel fazenda em Porto Alegre. Um cenário de paz, natureza por todos os lados e, claro, os pequenos roubando a cena.TomTom tá crescendo tão rápido… parece que foi ontem que a gente ensinava ela a dar os primeiros sorrisos, e agora já corre pelo campo atrás das galinhas, rindo com aquela liberdade que só uma infância feliz conhece. E o Enzo, meu netinho… um pedacinho de céu. Tá forte, saudável, mamando direitinho e dormindo melhor do que muito adulto. Tá uma benção.Claro que o Estevão, como pai de primeira viagem, ficou todo ressabiado quando a gente falou da viagem. “Mas ele é muito pequeno, Luísa… será que vale a pena ir?”, ele perguntava, olhando pro berço como se o filho fosse de porcelana. Lembro até da expressão dele quando fui responder.— Estevão — eu disse, colocando a mão no ombro dele com aquele tom