Elas ainda estavam naquele lugar esquecido pelo tempo, um sítio no meio do campo, afastado da civilização, onde só o vento da noite e o canto da coruja pareciam testemunhas de todo o fascínio e entrega que as envolveu. Ali, aproveitaram cada instante, como se não houvesse amanhã.Valentina acordou antes do amanhecer, em passos leves deu uma saída. Ao voltar, deitou-se novamente e ficou observando a outra ressonar, o rosto angelical em contraste com as tormentas da véspera. A tranquilidade do sono não combinava com o caos que lhe explodia no peito. Não era mais possível negar: havia cruzado uma fronteira. E não havia retorno.— Tem certeza que você acordou com esse cheiro de lírios e rosas-do-campo? — Alice sussurrou, abrindo os olhos lentamente, como se já soubesse que estava sendo observada.Valentina sorriu, acanhada. Como se fosse sua primeira vez.— Isso é raro. Você tem um gosto... é irresistível. É como hortelã com chocolate. Tem um frescor... suave e ardente. Não esperava que f

A mansão Lancaster estava impecável. Como se alguém tivesse estendido um véu de porcelana sobre os móveis, as cortinas, as flores meticulosamente dispostas sobre a mesa que levava à escadaria principal. Tudo organizado demais aos olhos dela. Havia algo naquele silêncio... que era diferente. Gélido. Carregado de significado. Quase profano.Valentina subiu as escadas com passos firmes, mas os dedos tremiam levemente ao tocar a maçaneta do quarto principal. Victor não estava ali. E sua ausência parecia ecoar pelas paredes como um presságio.Sem perder tempo, desceu os degraus e atravessou os corredores com passos leves e exatos, como se o chão da mansão pudesse traí-la. Seguiu até o porão, onde uma porta oculta se escondia, atrás de uma estante antiga, carregada de livros. Puxou um exemplar específico, sobre táticas de xadrez, e ouviu o estalo do mecanismo oculto. A estante deslizou, revelando uma passagem estreita e úmida que levava ao laboratório secreto.A penumbra era cortada apenas

Alice chegou em casa com o coração partido. As palavras, os tapas, as confissões de Valentina… tudo parecia um pesadelo do qual ela não conseguia se libertar. Largou a bolsa, com força, sobre o sofá e se afundou nas almofadas, os olhos marejados fitavam o teto, tentando encontrar nele alguma resposta ou um vazio onde pudesse se perder.Não contendo a angústia, ligou. Mandou mensagens. Uma, duas, três vezes. A última esperança se dissolveu ao ver a notificação: "bloqueada".Foi nesse instante que a campainha tocou.Ela levantou-se, em um sobressalto. Um lampejo de esperança atravessou. Uma esperança boba. De que era Valentina... Talvez tivesse voltado atrás, que tudo não passou de uma encenação. Uma tentativa desesperada de afastá-la para protegê-la.Mas ao abrir a porta, encontrou Rique. Parado ali, com aquele olhar gentil e disposto. Antes que dissesse qualquer coisa, ela o envolveu num abraço desesperado, como quem se agarra a uma boia em alto-m

Antes de deixar a fazenda, Valentina não perdeu tempo. Com um toque no celular, a foto do vestido de Rainha de Copas voou até as mãos de uma artesã discreta, especializada em trajes que escondiam mais do que revelavam. A mensagem era clara:"Preciso de uma réplica. Para ontem!"E então, partiu.Seus olhos brilhavam de ansiedade, conferindo a cada esquina se não estava sendo seguida. Chegando a um galpão abandonado na zona industrial da cidade, novamente olhou em volta com cautela. Respirou fundo e abriu o portão enferrujada, adentrando no local escuro, iluminado apenas pela luz que atravessava as frestas das paredes, como quem chegava em casa. Seus passos eram firmes. Ecoavam no concreto frio. Então, uma lâmpada pendente revelou cinco mulheres perfeitamente alinhadas. Cada uma trazia traços semelhantes ao dela. Algumas mais, outras menos, mas com a fantasia adequada seriam facilmente confundidas.Ao lado, seu cúmplice, com um terno discreto e expressão impenetrável, aguardando as ord

O relógio já marcava um pouco mais das seis horas da tarde, quando Carlito e Alice estavam prestes a sair do Pallace Club. O celular dele vibrou. Uma mensagem discreta do segurança informava:“A dona Valentina já está por aqui.”Ele sorriu, satisfeito. Aquele tipo de sorriso que antecede um movimento estratégico, de quem claramente tramava algo. Olhou de canto para Alice e, com a voz mansa, sugeriu:— Faz um favor? Esqueci de pegar uma pasta... Enquanto vou procurar, vai lá na cobertura conferir se está tudo em ordem. Só para garantir... não quero surpresas.Alice, comprometida, assentiu prontamente.— Tá... — respondeu, sem desconfiar de nada.Assim que ela saiu, Carlito foi até a varanda, olhou ao redor, depois partiu pela entrada de serviço, evitando ser visto. Desceu pelas escadas, indo direto para o estacionamento. Encostou-se à lateral do carro, tirou o celular do bolso e ficou observando o visor, com os olhos atentos a qualquer movimento.Enquanto isso, Alice foi até a cobertur