Ponto de vista: Sara O som do salto baixo dos meus sapatos ecoava suave pelo corredor de madeira polida enquanto atravessava o saguão da biblioteca. Havia algo reconfortante naquele lugar — no cheiro antigo de papel e silêncio, na luz dourada filtrada pelas janelas altas. Por mais que o mundo lá fora estivesse um caos, ali dentro tudo parecia... suspenso. Intocado. Eu precisava daquele livro. Um manual de procedimentos cirúrgicos atualizado, que mal tinha sido liberado pela universidade. Meu professor de residência exigia leitura detalhada até segunda-feira, e sinceramente, eu não queria falhar. Não depois de tudo. Saber que Enzo estava por perto — mesmo que mantendo distância, como sempre — também me dava uma sensação estranha de segurança. Desde o incidente na universidade, ele não desgrudava de mim. De certo modo, era como ter um lobo silencioso à espreita, mas sempre do meu lado. Percorri as prateleiras numeradas até chegar à seção médica. Meus dedos deslizaram pelos lom

Ponto de vista: Luca Havia algo diferente nela. Desde o momento em que entrou pela porta da mansão, com passos hesitantes e o olhar distante, soube que algo havia mudado. Ela tentou disfarçar, tentou agir como se tudo estivesse igual — mas eu conhecia Sara bem demais para não perceber. E o pior? Eu já suspeitava do motivo. Ela passou pelo salão usando um vestido que colava ao corpo como uma segunda pele. Um traje que, se fosse em outro momento, me faria atravessar a sala apenas para saborear o cheiro da pele dela. Mas hoje, não. Hoje eu só conseguia ver a culpa estampada em cada detalhe da expressão dela. Fingi que lia os documentos abertos à minha frente, mas minha atenção estava toda nela. Cada movimento, cada desvio de olhar, era um grito mudo. Enzo. A ideia dele perto dela queimava como fogo sob minha pele. Ele era meu homem de confiança. Meu irmão em armas. Mas, acima de tudo, era homem — e estava se aproximando demais daquilo que era meu. Ou que, pelo menos, eu achava que