Zara não havia contado a Orson em qual hotel estava hospedada. Mas, afinal, aquilo era Cidade N. Ali, provavelmente, não existia nada que ele não pudesse descobrir. Na manhã seguinte, assim que Zara acordou, ouviu a campainha tocar. Ao abrir a porta, viu Orson parado na entrada, com um sorriso tranquilo no rosto. — Vamos? Hora de irmos ao cartório. Ele não estava usando blazer naquele dia, apenas uma camisa branca impecável. O cabelo macio e bem arrumado o fazia parecer, por um instante, com aquele jovem de anos atrás, aquele que Zara costumava observar escondida, de longe. Mas esse pensamento foi rapidamente descartado. Zara já sabia: aquele Orson do passado era uma ilusão. O Orson que ela achava ter conhecido depois também era uma mentira. O homem diante dela agora, manipulador, implacável e desprovido de escrúpulos, era o verdadeiro Orson. — Eu já preparei sua roupa. Os documentos, você trouxe tudo, né? Zara pensou em dizer que não, mas Orson, como se previsse sua tentat

As palavras de Marta pairaram no ar, e Zara permaneceu em silêncio por alguns segundos. Então, ela soltou uma risada. Mas o som de seu riso fez as sobrancelhas de Marta se franzirem. — Então, você ainda o ama. — Zara disse suavemente. Foi uma frase simples, dita quase casualmente, mas que fez com que a mão de Marta se cerrasse instintivamente. — Eu não vou culpá-la. Mas, da mesma forma, jamais o perdoarei. — Zara colocou a xícara de café de volta na mesa com calma. — Se não fosse pelas pressões que ele fez nos negócios e por suas manipulações, eu já seria esposa de outra pessoa. Você acha que, nessas condições, eu ainda conseguiria me enganar e acreditar que o amo? Sua voz era serena, assim como sua expressão. Marta, por outro lado, não conseguiu encontrar uma resposta. Na verdade, ela preferiria que Zara estivesse sendo agressiva, jogando acusações ou mostrando raiva. Pelo menos isso indicaria que Orson ainda a abalava de alguma forma. Mas Zara não demonstrava nada. — Eu e

Já era noite na Brisa do Mar. Orson ainda não havia voltado, e Zara não o esperou. Simplesmente pediu algo para comer por delivery. O ovo que ela havia usado para aliviar a vermelhidão de sua bochecha já estava frio, e o inchaço começava a desaparecer. Inicialmente, Zara ficou preocupada que Orson pudesse voltar e notar o machucado, o que talvez o levasse a causar problemas para a família Jackson. Mas, pelo visto, essa preocupação era desnecessária. Ela olhou mais uma vez para o relógio na parede e concluiu que Orson provavelmente não voltaria naquela noite. Situações como aquela não eram novidade para ela. Estava acostumada a ficar sozinha naquela casa, com um "marido" que existia apenas no papel. A única diferença agora era que, em vez de dormir no pequeno quarto de hóspedes, ela estava no quarto principal. Talvez fosse essa mudança que a deixava inquieta. Zara ficou na cama por um longo tempo sem conseguir dormir. Em determinado momento, chegou a cogitar voltar para o pe

Zara não se lembrava de como havia voltado para a cama. Durante aquelas poucas horas, ela dormiu de forma pesada, oscilando entre o sono e a vigília. Em um desses momentos, uma sensação estranha percorreu seu corpo, como se algo estivesse se esfregando nela, quase como um cachorro tentando chamar atenção. Com os olhos semicerrados, ela despertou lentamente e, ao abrir os olhos, percebeu que havia alguém sobre ela. Orson estava ali. Quando viu que ela havia acordado, ele não hesitou. Segurou firme sua perna e a pressionou para baixo com força. Zara cerrou os dentes, tentando conter a dor. Instintivamente, ela ergueu a mão, pronta para arranhar o rosto dele, mas seu movimento foi lento demais. Orson, rápido, segurou sua mão no ar e a pressionou contra o próprio peito. Ela tentou se debater, mas percebeu que era inútil. Em vez de continuar lutando, Zara optou por parar, deixando-o fazer o que quisesse. No entanto, para Orson, essa passividade parecia obediência, e isso apenas alim

Zara e Emory marcaram o encontro em uma cafeteria no centro da cidade. Assim que se viram, Emory olhou diretamente para a bochecha de Zara. Zara percebeu o gesto imediatamente, mas preferiu não comentar. Em vez disso, perguntou: — Como está seu avô? — Está bem. — Emory respondeu, com um tom calmo. — Mas, com essa doença, não há cura. Então, estou pensando em aproveitar enquanto ele ainda está com o espírito bom para levá-lo para passear mais. Zara ficou surpresa por um momento antes de assentir. — Vai viajar? É uma boa ideia. Quando... — Não é exatamente uma viagem. — Emory a interrompeu, baixando a voz. Zara percebeu algo e perguntou, com cuidado: — Está pensando... Em se mudar? — Sim, mais ou menos isso. — Emory respirou fundo antes de continuar. — Pedi demissão da universidade, já cuidei dos documentos, e provavelmente... No próximo mês vou embora. Ainda tenho muita coisa para resolver, e sei que você também está ocupada. Por isso, hoje eu quis te encontrar para