O silêncio reinava no salão do Conselho. As tochas ardiam baixo, lançando sombras longas sobre a mesa circular de pedra recém-esculpida. Era a segunda reunião oficial desde a formação do Conselho, e cada palavra dita ali carregava peso histórico. O futuro dependia de decisões firmes.Michael permanecia sentado em sua cadeira de madeira escura, ainda se acostumando ao peso do título que lhe haviam dado. “Representante dos humanos.” Por mais estranho que soasse, ele sabia que não era apenas um cargo. Era um legado.Annabelle o observava com ternura, mas também com expectativa. Andreas, sempre imponente, mantinha-se em silêncio, esperando que Michael falasse. Victor, o vampiro de olhos rubros, parecia curioso com a presença de um homem frágil entre tantas criaturas imortais. Eva, a bruxa ancestral, mantinha os olhos semicerrados, como se enxergasse através da alma dele. Eros, o alfa mais desconfiado, ainda cruzava os braços, duvidando da utilidade de um humano entre eles.Michael respiro

A lua estava alta naquela noite, escondida parcialmente pelas nuvens densas que pairavam sobre o território da antiga alcateia do norte. Annabelle caminhava firme ao lado de Andreas, ambos cercados por guardas híbridos. Haviam recebido a notícia de que dois jovens gêmeos, com apenas dezessete anos, haviam matado o próprio pai, um alfa que jurara lealdade a Maginos.Normalmente, tal crime não poderia ser ignorado. Um alfa morto por seus próprios filhos era uma afronta à lei do Conselho. Annabelle, como rainha, tinha o dever de julgar. Andreas, como rei, deveria garantir que a ordem fosse mantida.Mas no coração de Annabelle algo já pesava diferente. Havia um sussurro estranho que acompanhava a notícia, um vento frio que só ela percebia. E quando ouviu o nome da mãe — uma banshee de olhos sombrios e voz carregada de presságios — soube que esse julgamento não seria comum.O EncontroA alcateia estava em ruínas. As casas de madeira queimadas, os campos abandonados, e um silêncio pesado do

O tempo passara com a rapidez de um sopro, e agora os filhos de Annabelle e Andreas, os gêmeos Benjamin e Bernardo, já tinham vinte e um anos. Jovens adultos, estudando em prestigiadas universidades no mundo humano, passavam mais tempo em bibliotecas, laboratórios e centros de pesquisa do que dentro das paredes do refúgio sobrenatural. O sangue real que corria em suas veias sempre os colocaria em destaque, mas eles haviam herdado dos pais não apenas o poder, como também o desejo de trilhar caminhos próprios.Annabelle, embora orgulhosa, sentia a distância como uma punhalada silenciosa. A maternidade era um vínculo que nenhuma coroa conseguia suavizar. Cada carta, cada ligação, era um misto de alegria e dor. Seus filhos estavam crescendo, ganhando o mundo, mas isso significava que a Rainha já não os tinha ao seu lado.Andreas compreendia essa dor, ainda que nunca admitisse em voz alta. Seu modo de lidar com a ausência dos filhos foi mergulhar no treinamento de Apolo e Arthur. O rei sab

O sol começava a se pôr no horizonte quando os portões do Refúgio dos Híbridos foram abertos para receber aqueles que todos aguardavam ansiosamente. O cheiro de ervas queimadas misturava-se ao aroma de carne assada que vinha das fogueiras já acesas no pátio principal. Era noite de celebração, e o Refúgio estava em festa. Bandeiras e símbolos das diversas linhagens tremulavam ao vento, lembrando que aquele não era apenas um lar, mas o coração pulsante do mundo sobrenatural que resistira à guerra.No alto de uma das varandas, Annabelle observava tudo, com os olhos marejados de emoção. Ao seu lado, Andreas mantinha a expressão firme, mas a mão dele segurava a dela com força, como se fosse a âncora que mantinha sua companheira estável diante da onda de lembranças que os envolvia.— Eles estão chegando — anunciou um dos guardas, a voz grave ecoando pelas pedras do salão.Um silêncio reverente se espalhou por todos. Mesmo os jovens lobos e híbridos que corriam pelo pátio pararam para olhar

O Refúgio ainda tentava se reerguer depois de tantos anos de guerra, mas a paz nunca era completa. O Conselho se reunia quase semanalmente para resolver questões que surgiam das criaturas espalhadas pelo mundo. Lobos, bruxas, homens-feras, banshees e até anjos caídos pediam apoio ou reclamavam de injustiças. Porém, nenhum povo era tão difícil de lidar quanto os vampiros.Os filhos da noite nunca aceitaram facilmente a liderança de um Conselho. Viviam às margens, em suas cortes obscuras, obedecendo apenas às próprias leis. E quando a tragédia atingia um dos seus, o sangue costumava ser a única resposta.Foi isso que aconteceu quando a notícia chegou: a companheira do rei vampiro, Victor, havia sido morta por caçadores humanos. Ela fora emboscada numa estrada escura, sozinha, e queimada viva sob a luz do sol trazida artificialmente em lâmpadas ultravioleta. Um ato cruel e meticulosamente planejado.Victor, ao saber, caiu em uma fúria insaciável. Durante três noites, desapareceu em silên