O silêncio da manhã era quase respeitoso. O céu cinzento pesava sobre a mansão, como se a natureza já soubesse o que estava por vir. Ketlyn acordou com um aperto no peito, sem saber ainda se era resquício da noite anterior ou presságio de algo pior.Derick não estava ao seu lado.A cama enorme parecia mais fria sem ele. Ela se sentou devagar, puxando o robe, sentindo o corpo ainda marcado pelo que tinham feito. A lembrança da noite anterior queimava — não apenas nas coxas, mas no orgulho. Ela tinha cedido. Não porque confiava. Não porque o amava. Mas porque o desejo tinha vencido a lógica. Porque ele era Derick. Porque, de algum modo perverso, ele sempre soube como derrubar todas as muralhas.E agora ele havia desaparecido da cama como se nada tivesse acontecido.Ketlyn se levantou e foi até a sacada. Lá embaixo, no jardim, viu dois homens de preto conversando com um segurança. Um dos homens segurava um envelope. O outro mantinha a cabeça baixa, respeitoso demais para ser um mensageir

Luke estava estranho.Não era o tipo de mudança que se percebia de imediato. Era sutil. Um silêncio mais longo. Um olhar que demorava a encontrar o dela. Um aperto na mão que não vinha mais na hora de dormir.Na terceira noite seguida em que ele recusou o jantar favorito e ficou encarando o tablet sem som, Ketlyn se aproximou com cuidado. "Filho…"Ele não respondeu.Ela se agachou, tocou de leve o ombro pequeno."Tá tudo bem na escola?"Luke deu de ombros. Ainda não olhou. Apenas murmurou:"Todo mundo tem mãe de verdade."Ketlyn congelou.A garganta apertou. A resposta não veio. Ela sentiu como se o chão sumisse sob os joelhos. Mas forçou um sorriso."Eu sou sua mãe, Luke. Mesmo que não tenha te carregado na barriga."Ele assentiu. Mas não disse mais nada.O celular de Derick vibrou às seis da manhã.Ele ignorou. Queria mais dez minutos com Ketlyn dormindo ao seu lado, mesmo que de costas. O lençol marcava o contorno das pernas dela e o cheiro do cabelo ainda pairava no travesseiro.

Ketlyn estava na sala de leitura quando ouviu o toque insistente da campainha. Franziu a testa. Nenhuma visita era recebida sem agendamento, especialmente depois dos vazamentos na imprensa.Antes que pudesse se levantar, um dos seguranças entrou, rígido como sempre."A mulher está insistindo. Diz que tem documentos importantes sobre a guarda de Luke."Ketlyn se levantou num pulo. "Quem?""Erika."O nome caiu como ácido. Derick, que estava na escada, parou no último degrau."Ela não vai entrar", disse Ketlyn com firmeza.Mas Erika entrou.Usando um tailleur claro, sorriso educado e pasta em mãos, deslizou pela sala como se pertencesse ali."Boa tarde. Prometo que não vim causar confusão."Ketlyn fechou os punhos.Derick se aproximou, mais calmo do que deveria. "O que você quer?""Assinar papéis", respondeu ela. "Eu... conversei com meus advogados. Sei que não tenho direitos. Só queria entregar pessoalmente. Mostrar que estou disposta a colaborar."Ketlyn bufou. "Colaborar? Depois de e

O clima já estava insuportável há dias. O silêncio entre eles tinha deixado de ser incômodo e se tornado uma espécie de punição passiva, como se cada um estivesse esperando o outro implodir primeiro. E naquela noite, implodiu.Tudo começou com um comentário banal.“Você vai mesmo sair com esse vestido?” Derick perguntou, apoiado na porta, observando-a se arrumar para um jantar beneficente.Ketlyn girou devagar para encará-lo.“Por que não sairia?”“Tá curto.”Ela arqueou uma sobrancelha.“Você nunca reclamou antes.”“Antes você não parecia querer chamar atenção.”“Talvez antes você se importasse mais.”Ele bufou, cruzando os braços.“Não começa, Ketlyn.”“Sou eu que começo? Você vem me alfinetando faz dias e agora quer que eu cale a boca?”“Eu só tô tentando proteger você.”“Proteger de quê? Dos olhares ou da sua própria insegurança?”Derick deu um passo para dentro do quarto.“Você tá colocando tudo a perder.”“Tudo o quê, Derick? Esse teatro?”“O nosso acordo.”Ela soltou uma risada

As imagens eram nítidas. Erika, de preto, capuz baixo, entrando pelos fundos da escola. O momento exato em que segura Luke pela mão. O menino hesita. Ela sorri. Tenta puxá-lo. Ele recua. E então, o segurança aparece.Ketlyn assistia aquilo pela terceira vez. As mãos tremiam.“Ela tentou levar meu filho”, sussurrou.Carla, ao lado, manteve a expressão fria.“E agora temos provas.”Kleber cruzou os braços. “Já está com o advogado do Derick. A coletiva será hoje.”Ketlyn engoliu seco.“Ele vai mesmo se posicionar?”Carla assentiu.“Pela primeira vez, sim. E dessa vez, em público.”A sala de imprensa estava lotada. Ketlyn manteve-se no fundo, protegida por Kleber e Carla, enquanto os flashes invadiam o rosto de Derick. Ele usava um terno escuro, sem gravata, com os olhos pesados e os punhos cerrados.“Estamos aqui para esclarecer uma situação grave”, começou. “Minha ex-esposa, Erika Costa, tentou retirar meu filho da escola sem autorização. Isso está registrado em vídeo. O caso está sendo