Pamela
Pamela
Por: Vania Grah
Capítulo 01

 Pamela Campos 

Sabe o que dizem de homens perfeitos? Que eles não existem! Mais há um ano atrás falar qualquer coisa negativa contra o homem que era cega de paixão era bobagem. Não enxergava nenhum defeito nele, ou não queria ver os que ele tinha. Foi em um dia chuvoso igual ao dia em que nos conhecemos que tudo teve fim. Eu não era de chegar de surpresa em sua casa, entretanto, pensei que mudar um pouco fosse apimentar nossa relação. Após colocar uma lingerie novinha e um vestidinho curto, chamei o táxi e cheguei em sua casa em vinte minutos. Tirei as chaves da bolsa e entrei em silêncio. Estávamos juntos há quase três anos. No momento que cheguei perto do quarto ouvi gemidos. Nem preciso detalhar não é mesmo a cena que acabei vendo? Aproximei-me da porta do quarto que estava entreaberta e o vi com outra em sua cama. Surtei batendo em ambos, em um dos socos arranquei um dos dentes do desgraçado. O que posso dizer da cadela? Arranquei parte do seu alongamento capilar!

Depois de quebrar o que ele considerava de mais valioso que era seu videogame, jurei pra mim mesma que aquela seria a última vez em que acreditava na fidelidade masculina. O meu choro durou apenas uma noite. Por que ficar sofrendo? Eu tinha me livrado de uma grande enrascada, tinha mais que ficar aliviada, portanto, foquei no meu trabalho de fisioterapeuta. Nos meus vinte e oito anos foram sempre de altos e baixos, mas com força de vontade e paciência venci cada obstáculo no meu caminho.

Meus pais moravam em outro estado com meu irmãozinho Gabriel de dezesseis anos. Infelizmente não nos víamos com frequência, somente uma vez no ano. Morar longe da minha família era bem difícil, contudo, necessário pra ter um ganho financeiro melhor. Meus casos amorosos sempre mantive distância da minha família, o que foi uma escolha com sabedoria ou cada um deles ficariam frustrados com todas as minhas decepções. Não se pode ter tudo e aquela era minha realidade.

— Vamos lá, senhor Francisco. — disse, motivando um dos meus pacientes. Ele queria até o final do mês se livrar do andador, pois sua neta casaria e ele queria chegar na igreja caminhando sem auxílio algum.

Segurei firmemente em suas mãos por conta de sua insegurança, de vez em quando soltava-o para motivá-lo a caminhar sozinho. O emocional em alguns pacientes era o que mais prejudicava em sua recuperação.

— Estou velho, minhas pernas não são as mesmas de quando era um jovenzinho. — resmungou, colocando mais dificuldade do que realmente existia para caminhar.

— O senhor quer ou não caminhar sem o auxílio do andador? Está desistindo? — perguntei, sugestiva.

— Minha netinha merece o melhor. — afirmou, decidido a continuar.

Com um sorriso simpático no rosto prossegui com o tratamento dele. Aquele dia tinha muito trabalho ainda na clínica. Uma das melhores partes do meu trabalho era a recuperação dos meus pacientes. Infelizmente não era sempre que conseguia alcançar a meta, alguns pacientes acabavam desistindo do tratamento na metade. Após concluir a fisioterapia do senhor Francisco naquela manhã, saí um pouco pra lanchar ali mesmo na clínica. Trabalhava em uma das melhores clínicas particulares da capital e tinha feito algumas amizades.

Acenei para a Dra. Bruna, ao vê-la sentada em uma das mesas da cantina. Ela era uma das melhores médicas de cardiologia. Admirava a loira de pele alva por sua competência profissional. Não tem como esconder que o machismo também existia no meio de nós, alguns homens costumavam tirar sarro da nossa competência profissional, principalmente a dela.

Servi-me com uma das guloseimas disponíveis e caminhei até a mesa onde ela estava.

— Aconteceu algo? Não costumo te encontrar essa hora. — comentei, preocupada. Ela não parecia com uma cara muito boa.

Sentei em uma das cadeiras. Bruna suspirou e depois grunhiu.

— Foi o Luiz outra vez. Acredita que ele me corrigiu na frente de todo mundo? Eu não posso nem abrir a boca em paz. Tenho sotaque sim, e daí? Isso não é defeito.

Dr. Luiz era ginecologista muito do babaca com quase todos. Eu tinha minhas suspeitas em relação a implicância toda com Bruna. Isso pra mim era uma paixão incubada das fortes porque não tinha sequer um dia que ele não desse um jeito de falar com ela, mesmo que fosse pra zombar.

— Luiz é um...

Quem disse que completei a frase? Minha amiga arregalou os olhos e captei a mensagem. O dito cujo estava atrás de mim!

— Falando mal de mim, meninas? Pode falar na minha frente, por favor, Pamela! — falou provocando-me, senti seu tapinha no ombro descarado que me deu ranço.

— Você não é o único Luiz no mundo, Doutor. E pode deixar que quando eu tiver algo pra lhe dizer, direi! — desdenhei. — Cansou de examinar vaginas e veio nos importunar? Talvez devesse mudar de carreira....

— Por que nunca segura a língua? Você é invejosa por não ter tudo que tenho! Fisioterapia não ganha tão bem quanto eu ganho! Querem falar mal de mim? Pois falem! Tenho mais o que fazer!

Ele saiu da cantina furioso, Bruna e eu caímos na gargalhada. Luiz se achava demais e nem era tudo isso. Baixinho e calvo, que usava da academia pra suprir o que lhe faltava, talvez tivesse um pau pequeno. Sem perder mais tempo comecei a lanchar pra retornar pro trabalho.

Meus planos pra quando acabasse o expediente era me esparramar no sofá e assistir uma maratona de filmes. Durante o trajeto pro meu consultório encontrei a senhora Albuquerque, aquela era a segunda vez na semana que ela procurava-me. O desespero de uma mãe não tinha limites, pensei.

— Senhora Albuquerque, outra vez veio ouvir um não? — perguntei, impaciente.

Eu não queria tratar em domicílio o filho doente dela. A família Albuquerque era famosa por seus escândalos, o último foi o filho mais velho ter dado um tiro em sua fisioterapeuta apenas por sentir uma dorzinha no joelho e culpou ela. O homem era um louco como a mídia mesmo disse que era. Com dinheiro calaram rapidinho a fisioterapeuta que por sorte levou um tiro no braço esquerdo.

— Posso te pagar muito bem, dinheiro não é problema! Meu filho, precisa de ajuda e está em depressão por causa do problema dele.

— Ele precisa primeiro tratar a cabeça então! Desculpe, falar assim, mas é verdade. O filho da senhora é sem limites, poderia ter assassinado aquela fisioterapeuta. — lhe lembrei do que ele tinha feito anteriormente com sua fisioterapeuta.

— Seu medo é esse? Não se preocupe, não tem mais nenhuma arma de fogo no alcance do meu filho. Por favor, ajude-o.

Por que tanta insistência? Bom, eu não era a única fisioterapeuta que ela costumava procurar, a diferença entre eu e as outras era que ainda lhe dava atenção.

— Não quero senhora Albuquerque! Pare de insistir. Duvido muito que encontre alguém que queira correr o risco de acabar em um caixão! — aquela foi mais uma das minhas respostas para ela.

Eu conseguia entender seu desespero de mãe, em querer ajudar seu filho, mas não seria a próxima vítima do mimado Theo Albuquerque! 

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