Capítulo 7 | Liberdade?

— Você tem um mês para aproveitar a sua liberdade. — Carlos soltou, me fazendo assentir em seguida tristemente. Eu não queria ter só um mês.

— E depois? — Perguntei, torcendo os lábios.

— Depois, você irá comigo para a Colômbia, e ficará por lá até que a sua dívida esteja paga. — Explicou, tomando seu capuccino. — vai durar uns dois ou três anos.

— Mas, eu só devo três mil reais. — Franzi a testa.

— Me diz, você vai ou não vai segurar as dívidas do Lucas? — Carlos estava impaciente na minha frente, eu sabia que ele o mataria. Era tão perigoso.

— E quanto ele deve a você? — Cruzei os braços, suspirando alto.

— No mínimo, duzentos mil.. — Meus olhos se abriram em descrença e Carlos deu um leve sorriso de lado.

— DUZENTOS? — gritei.

— Sim, minha linda. — O homem me encarava com uma leve expressão de divertimento, e quis jogar a xícara fumegante em seu rosto.

— Não tem outro jeito?

— Tem, e talvez, você não goste de saber.. — Ele olhou para os lados e em seguida para seu relógio de pulso, impaciente. — E então, menina? Me diz.

— Sim, tudo bem. — Suspirei. — Dois ou três anos não mata ninguém.

— Ótima escolha! — Ele sorriu abertamente, antes de se levantar com um impulso e largar uma nota de cinquenta na mesa. — Nós nos falamos depois, gracinha. Tenho compromisso agora.

— Até mais, Carlos! — Me despedi sem humor.

Um mês. Um mísero mês, era tudo que eu tinha, e eu precisava aproveita-lo ao máximo.

Paguei a conta no caixa e sai do estabelecimento, fiquei parada ali por alguns minutos, esperando o Uber chegar.

Eu tinha um mês, mas hoje, eu só queria me aproveitar. Aproveitar minha liberdade. O resto, eu podia fazer depois.

Quando finalmente consegui chegar no meu apartamento, Manu não estava. Aproveitei a minha deixa, e me joguei na cama, passando o resto da tarde dormindo e assistindo programas aleatórios.

— Tá afim de sair hoje? — Manu se jogou na minha cama e roubou um Doritos do pacote em meu colo, fiz uma careta.

— Pra' onde? — perguntei sem emoção.

— Uma baladinha maravilhosa que os meus amigos costumam frequentar. — Ela sorriu animada.

Todos os meus pensamentos seguintes me levaram a um “Obrigada, amiga. Mas, ficarei em casa hoje, tenho umas coisas para resolver.”, o último, porém, foram as palavras de carlos e me lembrei apenas dos trinta dias restante a partir de hoje.

— Ah, pode ser! — Sorri amigável e voltei a minha atenção para a Televisão.

— Levanta, Donzela. — Ela desligou a televisão animada e ficou de pé. — Já são oito da noite. — anunciou, por fim.

Assenti e me levantei preguiçosamente da cama, sentindo meu corpo pesar pelo cansaço e indisposição.

Me tranquei no banheiro do meu quarto e coloquei uma playlist aleatória para tocar. Desfiz o coque mal feito em meus cabelos e toquei meus fios levemente desgrenhados.

Quando me despi, aumentei mais o volume do celular e entrei no box, liguei o chuveiro no morno e aproveitei as maravilhas daquela água.

Meu corpo se arrepiou com a sensação e os pensamentos dos últimos dias voltaram com força.

Depois de ligar para Carlos, marcamos em uma cafeteria perto daqui. Minhas mãos suavam e meu nervosimos era visto de longe, porém, decidi prosseguir e aceitar a proposta de Carlos, o acompanhando a outro país.

Senti meus olhos se afogando nas lágrimas teimosas que escorriam pelos meus olhos e permiti que elas viessem. Eu precisava chorar, extravasar. Eu necessitava disso.

A decisão já estava tomada e não tinha mais volta. Não existia mais volta. Pensei em meus pais, achando que sua princesa estava levando uma vida confortável, em Lucas que ficaria para trás e nos poucos amigos que fiz. Pensei em Manu e na falta que sentiria das suas loucuras.

Sofri sozinha naquele banheiro enorme, implorando aos céus uma luz, um caminho, uma saída para tudo isso. Eu precisava me libertar disso, eu necessitava. O sangue de Lucas estava nas minhas mãos e deixar que o matassem, seria o meu fim.

Fechei os olhos, aproveitando a solidão e deixando que a tristeza me abraçasse.

Despertei alguns segundos, ou minutos depois, com alguém esmurrando a porta do cómodo violentamente.

— Droga, Bruna.. — Manu gritou do outro lado. — Você morreu aí dentro?

— Han, Oi! — Gritei, desligando o registro e puxando a toalha do gancho. — Desculpe, não te escutei.

— Saia logo, já são quase nove. — Avisou, e o silêncio voltou a reinar no local. Quase como se ela nunca estivesse ido ali.

Enrolei meus fios molhados em uma toalha e vesti o roupão grosso no corpo, não permitindo que a friagem do local entrasse em contato com meu corpo.

Abri o guarda roupas, olhando entediada para todas as peças. Eu não sabia o que usar, e por isso, acabei optando por um vestido tubinho que ia até metade das cochas, era preto e não tinha decote algum na frente. A mágica acontecia atrás, com uma abertura do início até o final das costas.

Optei por um par de saltos altos pretos, e os coloquei perto da porta, para que eu pudesse me lembrar onde estava.

Me sentei na penteadeira branca do quarto, e fiquei encarando por alguns segundos. Eu não conseguia me reconhecer. Ainda era a mesma menina do interior, era mais ferida, mais destruída.. eu tinha me metido e tomado a pior das decisões e me arrpenedia amargamente.

Comecei a maquiagem, sem um rumo específico, mas fiquei feliz que o resultado saiu como o imaginado. Por fim, passei um pouco de creme capilar nas mãos, espalhei pelos meus cachos e desembaraçei os fios com os meus dedos longo e finos.

Encarei-me no espelho e fiz uma careta, peguei o secador e comecei a secar um pouco meus fios, torcendo para que fosse rápido.

— Você tá linda. — Manu disse, entrando no quarto e me assustando.

— Você me assustou. — Falei, levando a mão ao peito. — Obrigada, você também.

Bruna riu, antes de se sentar na minha cama e cruzar as pernas.

Bruna estava com um cropped preto e tomara que caia, uma calça de cós alto e um par de tênis nos pés. Seus cabelos haviam ganhado alguns cachos com o baby Liss, e uma maquiagem leve no rosto, exaltava a beleza natural da morena.

Me levantei da penteadeira, por fim, guardando o aparelho na gaveta do banheiro.

— Vamos? — Perguntei, pescando a bolsa de mão e enfiando meu celular dentro.

— Sim! — Ela sorriu animada e correu na minha frente.

Peguei os sapatos entre os dedos e me arrastei até a sala, antes de me sentar e encaixar meus dedos no meu martírio da noite.

~•~

— Eu vou pegar uma bebida. — Anunciei perto do ouvido de Manu, antes de caminhar até o bar do lugar.

Sentei-me no pequeno banco, e apoiei meus dedos ali.

— Boa noite, o que deseja? — A morena de tranças perguntou.

— Boa noite, uma caipirinha, por favor! — Pedi, olhando para os lados.

Eu odiava beber, não o fazia na maioria das vezes, mas hoje? Era uma exceção, eu merecia isso!

Logo, o copo estava na minha frente. Peguei o canudo entre os dedos e suguei o líquido gelado, sentindo minha garganta queimar, em seguida.

Olhei para os lados, enquanto tomava o líquido, tentando me acostumar com o gosto amargo. Encontrei, porém, com um par de olhos azuis, o homem sorriu de lado para mim e eu sorri de volta.

Ele era divino, alto, com braços grande e uma bela bunda, tinha dois belos olhos azuis e uma boca pequena. Era bonito, muito bonito, quase um super herói dos quadrinhos. O significado de inefável¹ acabou de ser atualizado.

Meu corpo chamava por ele e quase andei em sua direção, me segurando para não o fazer.

Meu celular vibrou dentro da bolsa e eu suspirei alto, cortando o contato visual com o deus grego do outro lado.

— Alô! — Gritei, sem sequer saber quem me ligava. — Quem é?

— Bruna? Bruna, onde você está? — ouvi a voz de Lucas e meu corpo gelou por alguns segundos. A culpa atravessou meu peito e senti uma fisgada. Tampei um dos ouvidos e mordi meus lábios nervosa.

— Oi, Lucas. — Gritei por fim. — Eu vou lá para fora, espere um minuto. — Falei, e não escutei a resposta do moreno.

Me levantei do balcão, largando meu copo por ali, não estava mais interessada na bebida.

Caminhei até a parte traseira do estabelecimento, parando o mais longe possível de toda a aglomeração de pessoas.

— Oi! — Falei suspirando, mordendo meus lábios com força.

— Onde você está? — Esbravejou do outro lado.

— Eu estou em uma festa com a Manu. — Falei, jogando meus cabelos para trás. Não era exatamente mentira.

— Você não me avisou. — Lucas disse do outro lado e pude sentir a raiva em sua voz.

— Não achei que fosse necessário, não voltarei muito tarde. — Dei os ombros.

— Não é assim que as coisas funcionam em um relacionamento, Bruna. — Lucas pontuou, magoado.

— Desculpe... — Murmurei, sentindo meus olhos marejados.

— Tudo bem. — Ele suspirou. — Nos falamos depois. — E desligou.

Desligou sem dizer que me amava, sem dizer Adeus. Ele desligou na minha cara.

A culpa invadiu meu peito, lembrando-me que a poucos minutos atrás, eu flertava com um outro homem. Quis chorar e correr para os braços de Lucas, pedindo perdão.

Voltei para o lugar cheio e optei por uma garrafinha de água, voltando para perto do grupo de amigos.

Voltei avoada, pensativa, a minha pouca animação havia me abandonado definitivamente agora e tentei rir das brincadeiras dos amigos animados de Emanuelle.

Quando a noite acabou, agradeci a todos os anjos possíveis e corri para o banheiro, para tirar aquelas roupas e aquela maquiagem que pesava em meu rosto.

Terminei, me sentindo levemente livre e me deitei na cama confortável.

O sono foi me invadindo aos poucos, deixando meu corpo mais pesado sobre o colchão, meu último pensamento foram os lindos olhos azuis do homem que me cativou² hoje a noite, sorri fraco, antes de apagar definitivamente. 

inefável¹

adjetivo de dois gêneros

1. que não se pode nomear ou descrever em razão de sua natureza, força, beleza; indizível, indescritível.

2. POR EXTENSÃO; que causa imenso prazer; inebriante, delicioso, encantador.

Cativou² vem do verbo cativar.

1. transitivo direto e bitransitivo e pronominal; tornar(-se) cativo; prender(-se) física ou moralmente a; sujeitar(-se).

"os primeiros exploradores do Brasil cativaram índios e animais"

2. transitivo direto, FIGURADO; guardar em seu poder; reter, conservar.

"seus olhos cativavam a luz da manhã"

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