Os últimos dias foram um turbilhão. Os duzentos dólares se foram como fumaça, evaporados pelas necessidades urgentes de Mavie: remédios, comida decente. Sirvi a ela macarrão com salsicha, sentindo uma pontada de culpa afiada no peito. Sabia que não era o ideal, mas era tudo o que tínhamos. Aquele prato simples, tão pobre, refletia a nossa realidade.
A porta rangeu, e nosso pai chegou cambaleando, o cheiro de álcool e maconha o precedendo como uma névoa tóxica.
__“Papai, você chegou!”, Mavie exclamou, a voz vibrante de alegria infantil. Ela se lançou para abraçá-lo, mas ele a repeliu com um gesto brusco.
__“Sai da minha frente, pirralha! Não enche!”, ele rosnou.
Ainda com o pano de prato na mão, saí da cozinha, a indignação me impulsionando.
__“É assim que você fala com sua filha, Klovis Petrov? Ela só queria um abraço do pai!”, explodi.
Antes que eu pudesse processar o que estava acontecendo, um tapa violento atingiu meu rosto. O gosto metálico do sangue invadiu minha boca.