Minha irmã, Mavie, finalmente teve alta. Limpei a casa inteira antes de buscá-la – do chão ao teto. Não queria que ela tivesse uma crise alérgica, recém-operada. Ver sua saúde melhorando encheu meu coração de alegria, mas sabia que os cuidados redobrados seriam essenciais."__E o papai?", perguntou Mavie, sua voz carregada de uma tristeza que me apertou o peito. __"Não sei, provavelmente em algum bar", respondi, a verdade escapando antes que eu pudesse pará-la. Arrependi-me imediatamente, mas estava exausta de fingir.Ela se deitou no sofá velho e duro, enquanto eu ligava a televisão e preparava o almoço. A realidade me atingiu com força: precisaria conciliar o trabalho com os cuidados intensivos de Mavie. Alguém precisaria lembrá-la de tomar os remédios, preparar refeições saudáveis... Suspirei, derrotada. O dinheiro havia acabado. Tudo o que restava eram 200 dólares, minha reserva para emergências, gastos com o tratamento dela no hospital.Quando voltei com a comida, Mavie
A frieza da madrugada grudava na minha pele como se fosse uma segunda pele, mas o frio que me congelava vinha de dentro. Olhei para o meu pai, caído no sofá, um monte de garrafas vazias espalhadas ao redor dele como se fossem pedras preciosas em um altar de perdição. Desde que a mamãe morreu, ele se afogou no álcool e nas drogas, levando a nossa família junto para o fundo do poço. E agora, a dívida com a máfia era uma espada pendurada sobre nossas cabeças. Mavie , minha irmã, dormia no quarto ao lado. Sua respiração era tão leve que mal conseguia ouvi-la. Ela precisa de um transplante de coração, e o tempo está acabando. Já faz anos que ela está na fila de espera, e a cada dia que passa, o medo de perdê-la me consome. Só queria ter dinheiro, dinheiro suficiente para antecipar o processo, para garantir que ela não morra esperando. As ameaças da máfia têm sido constantes. O nome Demarco ecoa na minha cabeça como um trovão. Sei que eles não brincam, que são capazes de qualquer coisa.
A manhã seguinte foi um borrão de branco e cinza, a cor do hospital público onde minha irmã, Mávie, lutava por cada respiração. O médico, um homem loiro que me lembro agora se chamar David, foi direto e cruel. __“Estável, por enquanto”, disse ele, a voz seca como areia no deserto. “Mas o coração dela… já não consegue bombear o sangue como deveria. Aqui, no hospital público, não podemos fazer nada. A fila de transplantes é enorme, e infelizmente não podemos dar prioridade…” A frase ficou suspensa no ar, um abismo negro se abrindo entre nós. __“O que o senhor quer dizer?”, perguntei, a voz um fio de seda prestes a se romper. “Que minha irmã vai morrer?” O médico hesitou, o peso da verdade em seus olhos azuis. __ “Infelizmente, Sofia, se você não a transferir para um hospital particular e conseguir um coração novo… sim.” As lágrimas vieram em um dilúvio, um choro convulso que me dobrou ao meio. David, esse anjo em forma de médico loiro, me envolveu em um abraço que eu preci
O terno e a gravata disfarçavam a verdade. Sentado entre os acionistas da Moretti, eu, Angelo Moretti, parecia um empresário qualquer, mas a realidade era bem diferente. A empresa era a fachada perfeita para lavar o dinheiro sujo da máfia italiana, meu verdadeiro império. Após fechar alguns negócios, deixei a empresa e segui para casa, para o almoço familiar. Às 12h em ponto, a família Moretti se reunia. Eu, o primogênito, ocupava a cadeira principal, controlando tudo. Ao meu lado,Michael que era o irmão do meio casado com Brianna; e por fim Derrick e Tifanny que eram os caçulas e por conseguinte mais protegidos da família. O almoço foi tenso, silencioso. Depois, chamei meus irmãos para o escritório. Um grupo rival estava ameaçando um de nossos pontos de tráfico de drogas, e a situação exigia ação imediata. __"Esta noite, quero isso resolvido. Entendido?", ordenei, meu tom de voz deixando claro que não toleraria falhas. Reuni alguns homens da máfia e, sob a capa da noite, partim
O medo era um nó na garganta, me paralisando. A voz de Madame Bouvary, ecoando pelo salão, anunciou minha entrada. A cabeça baixa, os passos pesados como se cada pé pesasse uma tonelada de chumbo. O coração batia forte, ameaçando explodir o meu peito. Cheguei ao palco improvisado, onde Bouvary me esperava com um sorriso falso, cruel. Sua mão na minha, um giro brusco, e me senti exposta, um frango destinado ao abate. Os homens, jovens e velhos, me olhavam com uma voracidade animalesca, salivando como se eu fosse um pedaço de carne. Nunca me senti tão vulnerável, tão amedrontada. __“Essa jovem ruiva só tem 19 anos, cavalheiros, ainda uma flor em botão, e somente um de vocês terá o privilégio de vê-la desabrochar. Primeiro lance...” Cem mil. Duzentos mil. Os números subiam, cada lance me dilacerando por dentro. Eu era um objeto, sendo avaliado, comprado, meu valor medido em dinheiro. As lágrimas escorriam sem parar, incontroláveis. A disputa acirrada entre os homens, até que uma voz
Este provavelmente foi o pior momento da minha vida. A dor física, a humilhação e a culpa me consumiam. Apesar do que aquele homem dissera, o preço pago foi insuportável; sentia-me destroçada. Fiquei ali imóvel fitando o teto, sentia uma estranha sensação de vazio, de sujeira. Tudo o que eu mais queria era um banho para tirar o cheiro daquele homem da minha pele. Quando arrisquei olhar para ele, vi que dormia a sono solto. Aproveitei a oportunidade, vesti meu vestido, peguei a maleta com o dinheiro e meus saltos, e saí correndo. Me perdi nos inúmeros cômodos, mas encontrei a porta de saída e corri como um passarinho livre. No térreo, continuei correndo até estar longe daquele prédio. Disquei o número de Kim, que atendeu na terceira chamada. __“Sofia, por que está me ligando essa hora?” __“Vem me buscar por favor!”, disse chorosa. __“Onde você está?” __“Não sei…” __“Me fale o que tem na sua frente.” Só neste momento que pude olhar o ambiente é que notei que o apartamento er
O cheiro dela, morango e baunilha, ainda impregna minha pele, mesmo depois do banho. Um banho longo, com água quase escaldante, tentando esfregar a lembrança, mas a fragrância teimosa persiste, um fantasma inebriante. Arranco o lençol, manchado de um vermelho escuro que não é vinho, e o atiro no cesto. A empregada nunca saberá a verdade sobre aquele sangue. Ela limpará, sem saber que está apagando vestígios de uma noite de possessivo desejo e fuga. O café amargo não apaga a amargura da minha frustração. Ela se foi. Sumida. Antes mesmo que o sol raiasse, deixando para trás apenas o silêncio e o cheiro dela. Uma proposta? Sim, poderia ter lhe oferecido joias, um apartamento, uma vida de luxo. Mas o que eu realmente queria oferecer era algo que não se compra: minha obsessão. Na mansão, a irritação de minha irmã me atinge como um tapa. — Está precisando casar, Tiffany, assim para de pegar no meu pé! ___ igualmente você, talvez se casasse pararia de amanhecer na farra. disse A voz
A ligação que recebi me deixou de pernas bambas. Finalmente, um coração para a Mavie! Os médicos estavam fazendo os últimos testes de compatibilidade, e me ligariam mais tarde para acertar os detalhes. Saí do trabalho pulando de alegria. Kim me olhou, surpresa: __"Que alegria toda é essa?".__ "Finalmente encontraram um coração para a Mavie! Só estão fazendo os últimos testes...", respondi, radiante. Ela exclamou: __"Meu Deus, que felicidade, Sofia! Como é possível...?". Expliquei que uma mulher havia caído de um prédio, sofrido morte cerebral, mas seu coração estava perfeito. __"Vou torcer para ser compatível", sussurrou... No fim da tarde, a ligação do hospital: era compatível! Quase desmaiei de felicidade. Mas havia um detalhe: precisava da permissão por escrito do meu pai, já que Mavie é menor de idade. Voltei para casa eufórica. Meu pai dormia no sofá. __"Pai, acorde! Tenho uma ótima notícia!", o chamei. Ele se levantou, grogue, confuso: __"O que foi? Por que tanta gritar