[08] Há alguns anos, em Minas Gerais.
Líliam
Minha mãe partiu durante o doloroso parto que me trouxe ao mundo, e cresci sob o olhar indiferente e, às vezes, até mesmo hostil, do meu pai. Passava os Natais desejando ter o carinho dele, um simples abraço, um sorriso, uma palavra de amor. Mas meu pai tinha sua preferida.
Eu era somente a lembrança viva de tudo o que ele perdeu. Com o tempo, minha tia Kia começou a frequentar nossa casa, oferecendo seu apoio a ele. Para mim, ela era como uma segunda mãe, doce, atenciosa, com aquele perfume de jasmim que me fazia acreditar, por instantes, que o amor ainda existia ali.
Mas as aparências enganavam. Kia escondia veneno nas palavras gentis e maldade nos gestos sutis. Ela fingia bondade diante do homem que eu ainda me esforçava para chamar de pai, e ele, cego de desejo e fraqueza, acreditava em cada sorriso falso.
A fortuna da minha mãe nunca foi passada para ele. O casamento deles foi sem comunhão de bens, uma decisão que o meu avô havia imposto e da qual meu pai nunca se recuper