A vida é feita de escolhas, fato, todos sabemos disso. Mas será que sabemos qual a escolha certa a se fazer? Suponho também que, para sabermos qual caminho trilhar, precisamos arriscar algum. Para sabermos qual cálice está envenenado, precisamos experimentar um, sem medo da consequência, do efeito colateral ou até mesmo de uma trágica morte. A história que vos conto, é um rico exemplo de escolhas certas e erradas, consequências e inconsequências de nossas ações.
Algumas semanas haviam se passado e a monotonia real continuava a mesma. Criados servindo seus senhores, empregados limpando o castelo, Rei e Rainha regendo o Reino, Príncipe lutando em missões e treinando cavaleiros, Princesa trancada no aposento se admirando no espelho. Naquela dimensão, não havia distrações, aquelas que estamos acostumados e sentenciados a nos submetermos sempre que necessário.
– Algo de especial a fazer hoje, Milady? – Isabelle perguntou fazendo uma pequena reverencia à sua senhora Anabela, no jardim real, onde jaziam as mais perfeitas rosas do Reino.
– Eu queria deambular um pouco pelas províncias, mas estou proibida de abandonar o castelo. Sou eu uma prisioneira, Isa? – Indagou entediada, olhando para uma pequena fonte no centro do jardim.
– Aceito trocar de lugar, por um dia, senhora. – Isa sugeriu sorrindo, mostrando que não passava de uma simples brincadeira, mas que na verdade, era seu real desejo. A Princesa sorriu e olhou para outro lado.
– O Príncipe Dominik a cada dia que passa fica mais bonito, concorda? – Perguntou a protegida do Rei com um olhar suspeito ao Príncipe que estava conversando com alguns cavaleiros, próximo à entrada do palácio. Isabelle corou, olhou para o astro e conteve-se para não sorri, ela também achava o rapaz muito belo, mas ela também estava sentindo uma pitada de ciúmes do comentário de sua senhora.
– Gosta dele, Milady? – Perguntou então se sentindo ameaçada, para matar a sua curiosidade.
– Claro que... – Deu uma pausa, olhou para sua criada. – Claro que não, de onde tirou isso? – A questionou constrangida.
– Dedução, senhora. – Defendeu-se Isabelle, ainda olhando o Príncipe, que vez ou outra olhava para as duas.
– Posso te contar um segredo? – Anabela perguntou segurando a mão de sua empregada. A criada assentiu, dessa vez encarando a Princesa. – Eu... Meio que me apai...
– Olá Milady! – O Príncipe a cumprimentou, interrompendo a quase revelação do segredo da protegida. Isabelle imitou uma simples reverencia bruta com raiva pela intromissão, por enquanto que o rapaz beijava a mão de Ana que mantinha um nobre e belo sorriso. – Continua formosa, Milady! – Sussurrou galante e sedutor.
– Grata, Príncipe Dominik. O que posso dizer sobre você? Apresentável! – Perguntou e lançou um olhar de socorro à sua criada que logo entendeu.
– Será que só isso? Permite-me passar em seu...
– Desculpa interromper, Milady, mas a senhora precisa se encontrar com o mestre, nesse exato momento, esqueceu-se? – Isabelle criou uma desculpa. O Príncipe juntamente com a protegida a encarou.
– Grata, Isabelle! Acabei me passando, oh céus!– Anabela agradeceu, sorriu e caminhou para o lado de sua criada.
– Deixa que os criados interrompam os senhores assim? – Dominik perguntou quando ambas estavam voltando ao castelo. Isabelle corou de raiva pela pergunta esnobe e Anabela virou-se surpresa.
– Minha criada, minha amiga, minha vida, minhas regras. – Murmurou calmamente, fez uma reverencia e quando voltou a caminhar, o Príncipe novamente falou.
– Estou precisando de ajuda, o meu criado no momento está ocupado, pode me emprestar a sua... Rápido? Apenas por enquanto que você conversa com o Mestre. – O coração da ruiva gelou. Dessa vez, ambas se viraram.
– Hum... Acho que não! – Anabela negou, mas Isa estava sentindo uma grande necessidade de ficar mais um pouco perto daquele homem que encantou seu coração na infância e que ainda produzia um incrível poder sedutor sobre a mesma. Ela bem sabia o que ele queria.
– Tudo bem, Milady, irei com o Príncipe... Se me permitir, claro. – Isabelle afirmou de cabeça baixa, corada. Sua senhora lhe encarou surpresa e sem reação. Tentou falar, mas não conseguiu, deu de ombros, sorriu e por fim, conseguiu dizer algo.
– Caso ele lhe explore muito, pode me contar, terei o prazer de mutilá-lo. – Afirmou concordando com o empréstimo e voltou ao castelo, deixando sua criada ali no jardim com o Príncipe galinha Dominik.
O Príncipe levou Isabelle consigo para o estabulo, o mesmo estava vazio e não custou em puxar a criada ruiva para si e lhe beijar sedentamente, tirando suas vestes ferozmente. Enquanto isso, devo vos contar o que andava acontecendo fora do castelo por enquanto que a ruivinha se divertia.
A floresta que dividia o Reino Carmim era deveras grande e misteriosa, mas sempre tinham aqueles que gostavam de boas aventuras nas matas, mas dessa vez o que estava acontecendo não fora uma simples aventura e sim um ato muito detestado pelo Rei.
Um homem com o cabelo ralo e grisalho, com a pele enrugada, segurando um médio embrulho adentrou na floresta olhando para os lados a procura de algum guarda, ele não queria ser pego, então estava fazendo algo ilegal. Aprofundou-se mais no local, com passos apressados, ele queria fazer seu serviço rapidamente e voltar para casa.
Depois de muito caminhar, parou em uma pequena clareira tomada pelas sombras das grandes árvores verdes e vivas. Ele já estava suando frio, estava nervoso e preocupado. Pelo visto era sua primeira vez naquela tarefa especial e misteriosa. Atrás de si, passos aproximaram-se, o homem virou-se e deparou-se com outro rapaz mais jovem. O mesmo segurava uma cesta vazia e abaixava o capuz de sua capa.
– Você é o mercador de Ervas de Carmim? – O rapaz perguntou em um sussurro audível.
– S-Sim, sou. – Respondeu o mercador ainda mais nervoso olhando para os lados com os cantos dos olhos.
– Dar-me as ervas e toma as moedas. – O rapaz tirou de suas vestes uma sacolinha pesada com moedas.
O portador das ervas estendeu o embrulho e trocou os produtos. O estranho agradeceu e sumiu entre os grandes troncos apressadamente. Quando o mercador saindo daquela floresta, estava diante de cinco guardas com espadas voltadas a ele que imediatamente estendeu suas mãos em sinal de rendição. Ele poderia tentar escapar e correr, mas seria em vão, pois se fosse pego, seu julgamento seria realmente rápido e o mesmo sairia como culpado, mas será que mesmo se entregando tinha salvação?
O pai de Isabelle, sendo levado por confraternizar-se com inimigos, traficando ervas medicinais apenas encontradas nos terrenos de Carmim e tudo isso chegou aos ouvidos do Rei que bradou de ira.
Agora voltando a Isabelle...
A mesma já estava vestindo-se ainda no estabulo, depois de ter com o Príncipe que como sempre, a abandonou ali. A criada voltou ao castelo e reparou na certa agitação do local. Alguns membros do conselho entrando na sala do trono, onde geralmente aconteciam os julgamentos e como ela sabia, quando o castelo andava daquele jeito, algo não estava cheirando bem, então não custou em se encaminhar ao salão principal.
Entrou no local e avistou sua senhora, aproximou-se da mesma, fez uma reverencia forçada e olhou em volta. Todos os conselheiros estavam próximos ao Rei e a Rainha, sentados nos tronos. O Príncipe Dominik já estava em seu posto, em pé ao lado do seu pai.
Então as portas do grande salão do trono foram abertas e cavaleiros entraram segurando um homem... O mercador, o pai da Isabelle. A mulher arregalou seus olhos assustada, seu coração batia forte, ela estava diante de seu pai, ajoelhada perante o Rei. Seu sangue começou a esfriar, sua respiração ficou ofegante e o suor frio começou a transparecer. “O que está acontecendo?” perguntava-se. Tentou falar algo, mas não conseguiu, lagrimas desceram em seu rosto e só conseguiu senti o abraço de sua amiga, a protegida do Rei, lhe segurando fortemente.
– Meu pai! – Sussurrou, tentou avançar, mas Anabela a impediu.
– Por favor, Isa, não faça isso, eles vão lhe prender juntamente com ele.
– Mercador de ervas, José Simmon, preso no ato e acusado por se confraternizar e contrabandear erva com inimigos nos terrenos de Carmim. – Um dos cavaleiros bradou, o Rei levantou-se.
– Isso é verdade, mercador? – Perguntou o encarando.
– Majestade, suplico, perdoe-me... Eu não sabia... Eu... Por favor, pensei que o homem era do vosso Reino.
– Então você confessa o ato? – O Rei tornou a perguntar.
– Confesso! – O rapaz afirmou com a voz fraca e chorosa, estava com medo, correu seus olhos pelo salão e parou em sua filha que também chorava. O mesmo, sem emiti som algum falou “eu te amo”!
– Cortem-lhe a cabeça! Hoje! – Ordenou o Rei.
– NÃO! – Isabelle gritou desesperada chamando atenção. – MEU PAI NÃO! – Gritou novamente e sentiu seu corpo sendo retirado por Anabela. – POR FAVOR, SENHOR... Meu pai, meu pai, não deixe que o matem... Eu suplico. – Implorou ela, mas já estava fora do salão sendo abraçada novamente. – Por favor...
Cada minuto que passava, Isabelle sentia-se mais sufocada, mais nervosa. Ela não queria presenciar a morte de seu pai, ela não queria que ele se fosse.
Com a ajuda da protegida do Rei, a criada conseguiu acesso aos calabouços para se despedi do seu progenitor. A ruiva colocou uma capa velha preta, cobriu-se com o capuz, pegou um lampião e começou a descer aqueles corredores frios e escuros. Um guarda lhe levou até uma cela, onde jazia um homem acorrentado, encolhido em um canto de cabeça baixa. O coração de Isabelle começou a acelerar e as lagrimas voltaram a caí juntamente com uma insuportável dor.
– Papai! – Sussurrou ela. O homem ergueu a cabeça e a encarou com os olhos marejados. Em um salto se pôs de pé e já estava em sua frente, atravessando as mãos pela grade e segurando as da sua filha.
– Filha, me perdoa! – Falou com a voz fraca. – Eu necessitava de dinheiro... Agora vou... Vou... Ah minha querida Isa, você está tão bonita.
– Você precisa fugir, não vou deixar que seja morto por uma ação banal. – Sugeriu sua filha olhando para os lados com cautela para não ser ouvida.
– Não posso, não farei isso. Eu errei e preciso pagar por isso. – Deu uma pausa, apertou as mãos de Isa. – Quando a morte nos escolhe, não podemos simplesmente nos esconder dela. – O guarda deu algumas batidas em um portão, anunciando que o tempo acabou. – Isabelle, lembre-se de uma coisa. Não importa o que vão fazer comigo hoje, Carmim é o seu lar e tudo o que você quiser, pode ser seu, apenas com força de vontade, foco e fé em si mesma. Você nasceu para ser alguém e você pode sim, ser o que quiser. Sua mãe e eu, estaremos olhando para você.
– Te amo Pai! – Em meio a lagrimas, ela conseguiu se despedi do pai e fora arrastada dali pelo guarda.
Isabelle não desistiria tão fácil assim de libertar o seu pai. Ela estava pensando em meios de soltá-lo daquela prisão, mas ela era apenas uma pobre criada, o que poderia fazer? Pedi ajuda a Anabela? E se o Príncipe Dominik lhe ajudasse uma vez na vida, em vez de lhe tirar as vestes? Ela poderia apelar de alguma forma.
Foi ao jardim pavimentado em busca do seu Príncipe, mas não o encontrava, olhava em volta e só avistava 10 cavaleiros, sentados conversando animadamente. Então um deles reparou a presença da criada e se aproximou.
– Hum, o que fazes aqui, moça formosa? – Perguntou com um sorriso desejoso.
– Apenas procurando... – Sua fala fora interrompida.
– O Príncipe? – Outro se aproximou e perguntou. – Ele te come sempre? – Perguntou e todos riram.
– Não fale assim, seu boçal debiloide. – O primeiro que chegou retrucou dando um saco no braço do outro. – Vamos lhe levar até ele... Venha.
Isabelle não estava indo de livre espontânea vontade, o homem estava lhe puxando e qualquer tentativa de lhe m****r parar estava sendo falha, pois todos que estavam sentados resolveram os acompanhar, rindo e cantando.
– Para! Onde estão me levando? Preciso voltar... Meu pai...
– Se cale, vadia!