03 - Ervas e domínio

A vida é feita de escolhas, fato, todos sabe­mos disso. Mas será que sabemos qual a escolha cer­ta a se fazer? Suponho também que, para sabermos qual caminho trilhar, precisamos arriscar algum. Para saber­mos qual cálice está envenenado, precisamos experimentar um, sem medo da consequência, do efeito colateral ou até mes­mo de uma trágica morte. A história que vos conto, é um rico exemplo de escolhas certas e erradas, consequências e incon­sequências de nossas ações.

Algumas semanas haviam se passado e a monotonia real continuava a mesma. Criados servindo seus senhores, empre­gados limpando o castelo, Rei e Rainha regendo o Reino, Prín­cipe lutando em missões e treinando cavaleiros, Princesa tran­cada no aposento se admirando no espelho. Naquela dimensão, não havia distrações, aquelas que estamos acostumados e sen­tenciados a nos submetermos sempre que necessário.

– Algo de especial a fazer hoje, Milady? – Isabelle pergun­tou fazendo uma pequena reverencia à sua senhora Anabela, no jardim real, onde jaziam as mais perfeitas rosas do Reino.

– Eu queria deambular um pouco pelas províncias, mas es­tou proibida de abandonar o castelo. Sou eu uma prisioneira, Isa? – Indagou entediada, olhando para uma pequena fonte no centro do jardim.

– Aceito trocar de lugar, por um dia, senhora. – Isa sugeriu sorrindo, mostrando que não passava de uma simples brinca­deira, mas que na verdade, era seu real desejo. A Princesa sor­riu e olhou para outro lado.

– O Príncipe Dominik a cada dia que passa fica mais bo­nito, concorda? – Perguntou a protegida do Rei com um olhar suspeito ao Príncipe que estava conversando com alguns cava­leiros, próximo à entrada do palácio. Isabelle corou, olhou para o astro e conteve-se para não sorri, ela também achava o rapaz muito belo, mas ela também estava sentindo uma pitada de ci­úmes do comentário de sua senhora.

– Gosta dele, Milady? – Perguntou então se sentindo ame­açada, para matar a sua curiosidade.

– Claro que... – Deu uma pausa, olhou para sua criada. – Claro que não, de onde tirou isso? – A questionou constrangida.

– Dedução, senhora. – Defendeu-se Isabelle, ainda olhan­do o Príncipe, que vez ou outra olhava para as duas.

– Posso te contar um segredo? – Anabela perguntou segu­rando a mão de sua empregada. A criada assentiu, dessa vez en­carando a Princesa. – Eu... Meio que me apai...

– Olá Milady! – O Príncipe a cumprimentou, interrompen­do a quase revelação do segredo da protegida. Isabelle imitou uma simples reverencia bruta com raiva pela intromissão, por enquanto que o rapaz beijava a mão de Ana que mantinha um nobre e belo sorriso. – Continua formosa, Milady! – Sussurrou galante e sedutor.

– Grata, Príncipe Dominik. O que posso dizer sobre você? Apresentável! – Perguntou e lançou um olhar de socorro à sua criada que logo entendeu.

– Será que só isso? Permite-me passar em seu...

– Desculpa interromper, Milady, mas a senhora precisa se encontrar com o mestre, nesse exato momento, esqueceu-se? – Isabelle criou uma desculpa. O Príncipe juntamente com a protegida a encarou.

– Grata, Isabelle! Acabei me passando, oh céus!– Anabela agradeceu, sorriu e caminhou para o lado de sua criada.

– Deixa que os criados interrompam os senhores assim? – Dominik perguntou quando ambas estavam voltando ao caste­lo. Isabelle corou de raiva pela pergunta esnobe e Anabela vi­rou-se surpresa.

– Minha criada, minha amiga, minha vida, minhas regras. – Murmurou calmamente, fez uma reverencia e quando vol­tou a caminhar, o Príncipe novamente falou.

– Estou precisando de ajuda, o meu criado no momento está ocupado, pode me emprestar a sua... Rápido? Apenas por enquanto que você conversa com o Mestre. – O coração da rui­va gelou. Dessa vez, ambas se viraram.

– Hum... Acho que não! – Anabela negou, mas Isa estava sentindo uma grande necessidade de ficar mais um pouco per­to daquele homem que encantou seu coração na infância e que ainda produzia um incrível poder sedutor sobre a mesma. Ela bem sabia o que ele queria.

– Tudo bem, Milady, irei com o Príncipe... Se me permitir, claro. – Isabelle afirmou de cabeça baixa, corada. Sua senhora lhe encarou surpresa e sem reação. Tentou falar, mas não con­seguiu, deu de ombros, sorriu e por fim, conseguiu dizer algo.

– Caso ele lhe explore muito, pode me contar, terei o pra­zer de mutilá-lo. – Afirmou concordando com o empréstimo e voltou ao castelo, deixando sua criada ali no jardim com o Prín­cipe galinha Dominik.

O Príncipe levou Isabelle consigo para o estabulo, o mes­mo estava vazio e não custou em puxar a criada ruiva para si e lhe beijar sedentamente, tirando suas vestes ferozmente. En­quanto isso, devo vos contar o que andava acontecendo fora do castelo por enquanto que a ruivinha se divertia.

A floresta que dividia o Reino Carmim era deveras gran­de e misteriosa, mas sempre tinham aqueles que gostavam de boas aventuras nas matas, mas dessa vez o que estava aconte­cendo não fora uma simples aventura e sim um ato muito de­testado pelo Rei.

Um homem com o cabelo ralo e grisalho, com a pele en­rugada, segurando um médio embrulho adentrou na floresta olhando para os lados a procura de algum guarda, ele não que­ria ser pego, então estava fazendo algo ilegal. Aprofundou-se mais no local, com passos apressados, ele queria fazer seu ser­viço rapidamente e voltar para casa.

Depois de muito caminhar, parou em uma pequena clarei­ra tomada pelas sombras das grandes árvores verdes e vivas. Ele já estava suando frio, estava nervoso e preocupado. Pelo visto era sua primeira vez naquela tarefa especial e misteriosa. Atrás de si, passos aproximaram-se, o homem virou-se e deparou-se com outro rapaz mais jovem. O mesmo segurava uma cesta va­zia e abaixava o capuz de sua capa.

– Você é o mercador de Ervas de Carmim? – O rapaz per­guntou em um sussurro audível.

– S-Sim, sou. – Respondeu o mercador ainda mais nervoso olhando para os lados com os cantos dos olhos.

– Dar-me as ervas e toma as moedas. – O rapaz tirou de suas vestes uma sacolinha pesada com moedas.

O portador das ervas estendeu o embrulho e trocou os pro­dutos. O estranho agradeceu e sumiu entre os grandes troncos apressadamente. Quando o mercador saindo daquela floresta, estava diante de cinco guardas com espadas voltadas a ele que imediatamente estendeu suas mãos em sinal de rendição. Ele poderia tentar escapar e correr, mas seria em vão, pois se fos­se pego, seu julgamento seria realmente rápido e o mesmo sai­ria como culpado, mas será que mesmo se entregando tinha salvação?

O pai de Isabelle, sendo levado por confraternizar-se com inimigos, traficando ervas medicinais apenas encontradas nos terrenos de Carmim e tudo isso chegou aos ouvidos do Rei que bradou de ira.

Agora voltando a Isabelle...

A mesma já estava vestindo-se ainda no estabulo, depois de ter com o Príncipe que como sempre, a abandonou ali. A cria­da voltou ao castelo e reparou na certa agitação do local. Al­guns membros do conselho entrando na sala do trono, onde ge­ralmente aconteciam os julgamentos e como ela sabia, quando o castelo andava daquele jeito, algo não estava cheirando bem, então não custou em se encaminhar ao salão principal.

Entrou no local e avistou sua senhora, aproximou-se da mesma, fez uma reverencia forçada e olhou em volta. Todos os conselheiros estavam próximos ao Rei e a Rainha, sentados nos tronos. O Príncipe Dominik já estava em seu posto, em pé ao lado do seu pai.

Então as portas do grande salão do trono foram abertas e ca­valeiros entraram segurando um homem... O mercador, o pai da Isabelle. A mulher arregalou seus olhos assustada, seu cora­ção batia forte, ela estava diante de seu pai, ajoelhada perante o Rei. Seu sangue começou a esfriar, sua respiração ficou ofe­gante e o suor frio começou a transparecer. “O que está aconte­cendo?” perguntava-se. Tentou falar algo, mas não conseguiu, lagrimas desceram em seu rosto e só conseguiu senti o abraço de sua amiga, a protegida do Rei, lhe segurando fortemente.

– Meu pai! – Sussurrou, tentou avançar, mas Anabela a impediu.

– Por favor, Isa, não faça isso, eles vão lhe prender junta­mente com ele.

– Mercador de ervas, José Simmon, preso no ato e acusa­do por se confraternizar e contrabandear erva com inimigos nos terrenos de Carmim. – Um dos cavaleiros bradou, o Rei le­vantou-se.

– Isso é verdade, mercador? – Perguntou o encarando.

– Majestade, suplico, perdoe-me... Eu não sabia... Eu... Por favor, pensei que o homem era do vosso Reino.

– Então você confessa o ato? – O Rei tornou a perguntar.

– Confesso! – O rapaz afirmou com a voz fraca e chorosa, estava com medo, correu seus olhos pelo salão e parou em sua filha que também chorava. O mesmo, sem emiti som algum falou “eu te amo”!

– Cortem-lhe a cabeça! Hoje! – Ordenou o Rei.

– NÃO! – Isabelle gritou desesperada chamando atenção. – MEU PAI NÃO! – Gritou novamente e sentiu seu corpo sen­do retirado por Anabela. – POR FAVOR, SENHOR... Meu pai, meu pai, não deixe que o matem... Eu suplico. – Implo­rou ela, mas já estava fora do salão sendo abraçada novamen­te. – Por favor...

Cada minuto que passava, Isabelle sentia-se mais sufocada, mais nervosa. Ela não queria presenciar a morte de seu pai, ela não queria que ele se fosse.

Com a ajuda da protegida do Rei, a criada conseguiu aces­so aos calabouços para se despedi do seu progenitor. A ruiva co­locou uma capa velha preta, cobriu-se com o capuz, pegou um lampião e começou a descer aqueles corredores frios e escu­ros. Um guarda lhe levou até uma cela, onde jazia um homem acorrentado, encolhido em um canto de cabeça baixa. O cora­ção de Isabelle começou a acelerar e as lagrimas voltaram a caí juntamente com uma insuportável dor.

– Papai! – Sussurrou ela. O homem ergueu a cabeça e a en­carou com os olhos marejados. Em um salto se pôs de pé e já estava em sua frente, atravessando as mãos pela grade e segu­rando as da sua filha.

– Filha, me perdoa! – Falou com a voz fraca. – Eu neces­sitava de dinheiro... Agora vou... Vou... Ah minha querida Isa, você está tão bonita.

– Você precisa fugir, não vou deixar que seja morto por uma ação banal. – Sugeriu sua filha olhando para os lados com cau­tela para não ser ouvida.

– Não posso, não farei isso. Eu errei e preciso pagar por isso. – Deu uma pausa, apertou as mãos de Isa. – Quando a morte nos escolhe, não podemos simplesmente nos esconder dela. – O guarda deu algumas batidas em um portão, anunciando que o tempo acabou. – Isabelle, lembre-se de uma coisa. Não im­porta o que vão fazer comigo hoje, Carmim é o seu lar e tudo o que você quiser, pode ser seu, apenas com força de vontade, foco e fé em si mesma. Você nasceu para ser alguém e você pode sim, ser o que quiser. Sua mãe e eu, estaremos olhando para você.

– Te amo Pai! – Em meio a lagrimas, ela conseguiu se des­pedi do pai e fora arrastada dali pelo guarda.

Isabelle não desistiria tão fácil assim de libertar o seu pai. Ela estava pensando em meios de soltá-lo daquela prisão, mas ela era apenas uma pobre criada, o que poderia fazer? Pedi aju­da a Anabela? E se o Príncipe Dominik lhe ajudasse uma vez na vida, em vez de lhe tirar as vestes? Ela poderia apelar de al­guma forma.

Foi ao jardim pavimentado em busca do seu Príncipe, mas não o encontrava, olhava em volta e só avistava 10 cavaleiros, sentados conversando animadamente. Então um deles reparou a presença da criada e se aproximou.

– Hum, o que fazes aqui, moça formosa? – Perguntou com um sorriso desejoso.

– Apenas procurando... – Sua fala fora interrompida.

– O Príncipe? – Outro se aproximou e perguntou. – Ele te come sempre? – Perguntou e todos riram.

– Não fale assim, seu boçal debiloide. – O primeiro que chegou retrucou dando um saco no braço do outro. – Vamos lhe levar até ele... Venha.

Isabelle não estava indo de livre espontânea vontade, o homem estava lhe puxando e qualquer tentativa de lhe m****r parar estava sendo falha, pois todos que estavam sentados resolveram os acompanhar, rindo e cantando.

– Para! Onde estão me levando? Preciso voltar... Meu pai...

– Se cale, vadia!

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