Narrado por Khaled
O palácio estava silencioso demais.
Nem os corredores longos, nem os pátios internos, nem mesmo o tilintar dos talheres ao longe conseguiam camuflar o cheiro do que estava por vir. Traição, como o sangue, tem aroma próprio. E eu já aprendi a reconhecê-lo à distância.
Sentei no meu escritório, em silêncio. As paredes escuras refletiam o brilho amarelado das luminárias orientais. A vista da cidade pela janela parecia uma tapeçaria de luzes — mas tudo ali fora era falso. Ilusório. O verdadeiro poder não está no que se vê. Está no que se teme.
Desde que deixei o palácio do Sheikh, não parei de pensar no que ouvi. Ele não negou. Ele provocou. Ele brincou com a ideia de me enfrentar. De usar Natália contra mim. De se aliar a Hamzah — um verme disfarçado de senhor de guerra. Não havia mais volta.
Respirei fundo. Me levantei. Caminhei até a estante, peguei uma garrafa de uísque envelhecido e servi uma dose. O líquido queim