Narrado por Bianca
O cheiro era a primeira coisa que batia.
Podre. Enjoativo. Um misto de mofo, suor, metal oxidado e medo. O tipo de cheiro que se entranha na pele, que gruda no nariz e se recusa a sair mesmo quando você fecha os olhos.
Acordei com esse cheiro invadindo minhas narinas, com a sensação de que tinha areia nos pulmões. Minha cabeça latejava. O estômago doía como se estivesse sendo torcido. E quando tentei me mexer, senti a corda bruta presa ao meu pulso.
Foi só então que percebi: aquilo não era um sonho.
Estávamos presas.
Presas de verdade.
A luz da cela era fraca, amarela, pendurada por fios que balançavam levemente. As paredes eram cinzas, com rachaduras e manchas escuras. O chão de concreto estava úmido em alguns pontos. Não havia cama, nem janela. Só uma privada encardida no canto. Sem descarga. Sem dignidade.
Me arrastei como pude e olhei para o outro lado.
Natália estava acordada, sentada de costas contra a parede, com os olhos fixos em algum ponto imaginário. A Na