Eu admirava a Emma em silêncio enquanto ela comia, desejando que aquele momento se eternizasse até o meu celular vibrar em meu bolso. Ignorei a primeira ligação, mas ele não parou mais depois daquilo. Eu deveria tê-lo desligado e essa era a minha intenção mais verdadeira, quando uma mensagem de Helena brilhou na tela do meu aparelho.— Atenda ao telefone, Gregory. Modifiquei o testamento.Dei um salto da cadeira, Emma não percebeu, ela estava bastante distraída nesse dia, ela somente viu quando eu me afastei e fui para o outro lado atender a última ligação de Helena.— Você deveria ter me ligado e avisado o que aconteceu.A voz dela estava tremula do outro lado da linha. Girei o pescoço para olhar para Emma e ela me observava atentamente. Era impossível eu fingir normalidade diante do que estava acontecendo.— Eu e a Emma estamos bem – eu fechei os olhos e massageei as têmporas –, não havia necessidade de mudar o testamento só por conta disso.Mas o que diabos eu estava dizendo? Desej
Emma.Tive um vislumbre de Gregory assim que acordei no dia seguinte. Ele estava deitado ao meu lado com os seus olhos de gelo fixados em mim, tão carinhosamente que achei que não suportaria olhá-lo por muito tempo. Nos meus lábios, um sorriso brincou. A noite passada havia sido uma mistura de sentimentos que eu não podia explicar.Durante aqueles anos de casado, foi a primeira vez que Gregory deu todo o seu amor para mim enquanto dormíamos juntos.Ele se inclinou e me beijou, depois me cobriu um pouco mais antes de se levantar e me dizer:— Fique deitada – ele se vestiu rapidamente e era possível sentir o frio invadindo o quarto –. O clima na Espanha está simplesmente amargo. Melhor que fique coberta da cabeça aos pés para não pegar um resfriado.— Não quero passar esse dia deitada – joguei o cobertor para o lado e me levantei.Foi quando olhei para trás e percebi muitos fios de cabelos no meu travesseiro. Fiquei paralisada por um tempo, somente olhando aquilo como se não fosse real.
EmmaCortar o cabelo não é igual arrancar um braço ou uma perna, mas cortá-lo parecia doer como se eu estivesse perdendo um membro importante do meu corpo. Eu sabia que ele crescia, que se eu tivesse sorte de viver por mais um ano, ele estaria grande, novamente, tão bonito quanto agora, mas ver a tesoura cortando minhas mechas e, logo em seguida, a máquina passando pelo meu couro cabeludo me fez derramar lágrimas.Ninguém deveria ser obrigado a rapar a cabeça, mas a doença não deixaria nenhum único fio sobrar e eu não suportaria ver meu cabelo cair lentamente sem que eu pudesse fazer nada. Eu tentei ser forte, enxergar o lado positivo, aquele onde havia esperança de vê-lo crescer como uma planta, mas foi inevitável a dor que senti.Quando olhei para o espelho, vi o reflexo do Gregory logo atrás de mim. Seus olhos brilhavam com uma tristeza profunda, mas ele ensaiou um sorriso para tentar demonstrar que estava tudo bem. Nunca imaginei me sentir mal por ver Gregory sofrer, ainda mais sa
Emma.A doença havia dado uma trégua.Eu e Gregory não falamos mais no assunto da doença pelos dias em que ficamos na Espanha. Tudo estava tão perfeito que eu não queria voltar para casa, para aquela realidade onde tinha Mason, Edward, Ayla e tantas outras pessoas que eu não queria mais ver.Eu estava abraçada com ele na cama, ouvindo seu coração bater, quando o celular dele vibrou ao lado. Gregory não se mexeu. Ele dormia tão profundamente que, nem mesmo se tivesse barulho, ele se levantaria para atender. Estiquei o braço e peguei o aparelho. Na aba de notificação havia uma mensagem do advogado de Gregory dizendo que ele precisava voltar para assinar os documentos.Gregory se moveu, coloquei imediatamente o celular de volta. Nós não tínhamos o hábito de mexer nas coisas do outro. Gregory não olhava meu celular e eu não olhava o dele. Em tempo atrás, eu nem ousaria tocar naquele aparelho. Lembro-me de Gregory sempre o manter longe do meu alcance enquanto trocava mensagens íntimas com
GregoryEu ainda não conseguia acreditar que a herança pela qual lutei tanto finalmente era minha. A mensagem que recebi naquela manhã dizia que eu precisava assinar os documentos e tudo o que o meu avô me negou seria passado para mim.Olhei para Emma e senti que nada mais parecia fazer sentido. Eu trocaria tudo o que eu havia conquistado para salvar a vida dela. Mesmo que eu tenha lutado bravamente por aquele dinheiro, se Emma não estivesse comigo para desfrutar desses benefícios, nada valeria a pena.Ela me perguntou se havia algum problema, covardemente neguei qualquer informação. Eu ainda procurava uma maneira de contar para Emma toda a verdade, até que encontrasse essa solução. Eu seguia mentindo, enganando-a, sabendo que, quando Emma soubesse, jamais me perdoaria.Qualquer um entenderia que eu havia usado ela e a doença para conseguir a bondade de Helena, mas eu não havia pedido nenhuma vez para o testamento ser alterado. Helena fazia isso mais pela minha mulher do que por mim,
Gregory— As câmeras foram instaladas, senhor — o chefe de segurança entrou no meu escritório para concluir sua tarefa.— Todas, você tem certeza? — eu olhei em seus olhos, investigando-o. Eu não podia deixar nada passar.— Certeza, senhor. Se alguém entrar na mansão, saberemos.Nem mesmo assim eu me sentia seguro ou tranquilo. Agora que toda a herança do meu avô havia sido dada a mim, eu podia imaginar a fúria dentro de Edward. O objetivo dele sempre foi me destruir, antes mesmo de nosso avô perecer. Agora que o jogo virava e a situação parecia favorável a mim, Edward não ficaria parado observando eu vencer.— Ótimo! — eu peguei minha maleta sobre a mesa, dei uma última olhada em minha aparência refletida no espelho, percebendo que eu estava pronto para ir assumir o meu lugar.Estranhamente, eu não estava feliz como imaginei que ficaria. A sensação de estar enganando a Emma queimava dentro de mim. Eu já havia aprendido da maneira mais cruel o preço pago pelas escolhas erradas que faz
Eu consegui ver a hora exata em que correram para socorrer Helena, para levá-la até o hospital. Se a intenção de Edward era causar o caos, ele havia conseguido. Abandonei tudo para acompanhá-la. Em outros tempos, eu não importaria em deixá-la em um hospital sob os cuidados de qualquer pessoa que não fosse eu, mas agora eu me importava. Helena era o único familiar vivo que eu tinha.Única porque para mim, Edward não era nada. Ele nasceu para tornar a minha vida insuportável e estava conseguindo. Ele só descansaria quando tirasse tudo de mim e um pouco mais. Eu tentei esquecer toda a confusão e ajudar Helena. Eu sabia que minha presença só implicaria na piora da sua saúde, mas eu não podia deixá-la sozinha nesse momento.Quando entrei na ambulância, ela olhou para os meus olhos e disse, com a voz embargada:— Eu desconfiava que você e a Emma não se amavam de verdade.— Vamos deixar essa conversa para depois — eu virei o rosto contra o dela —, precisa se concentrar na sua saúde agora.—
Eu vivia horas de dor e tristeza, enquanto velava o corpo da minha mãe e sepultava-o ao lado de seus irmãos. Encarei a lapide recem posta e deixei o desespero tomando conta de mim. Um resmungo de protesto rasgava minha garganta, enquanto eu voltava para casa, sozinha. Eu teria que enfrentar meu inferno, sem ninguém que pudesse me defender do meu padrasto. — Ao menos a senhora está livre daquele monstro, mãe – murmurei enquanto enxugava as lágrimas insistirem em cair do meu rosto – eu vou ter que aprender a viver sozinha e enfrentar o castigo que a senhora deixou para mim. Passos apressados vieram em minha direção, assim que me aproximei da casa. Girei o pescoço rapidamente e meu coração disparou quando eu avistei alguns homens caminhando em minha direção. Eu conhecia bem um daqueles rostos e não gostei de vê-lo ali. — Mason – minha voz escapou em um sussurro no mesmo momento em que eu me erguia lentamente para olhar em seus olhos. Ele se aproximando cada vez mais – o que diabos es