Natanael continuava ouvindo o filho lhe chamar, chorando e perguntou onde ele estava. O menino já era grandinho e poderia saber lhe informar algo que lhe desse uma direção.
Acertou, o menino disse o nome de um Alfa e ele conhecia todos os Alfas e Josué era seu conhecido de muito tempo. Partiu, seu deslocamento era uma verdadeira transformação molecular. Em questão de segundos, chegou a Alcateia Lumiária e seguiu para o hospital. Ao ver sua companheira deitada sobre o leito, desacordada e muito ferida, não se conformou. Como não havia ninguém na sala, tornou-se físico e se aproximando de Lia, acariciou seu rosto e seus cabelos. — Meu amor, fiz tudo para que você suportasse o que viria, mas acho que errei. Devia tê-la matado quando descobri. Não suporto vê-la sofrer por culpa daqueles gananciosos. Mas os farei pagar por tudo e hoje mesmo, você irá melhorar, eu prometo. Beijou sua mão e sumiu, procurando a casa do Alfa, onde estava seu filho. Chegou no momento em que um homem grande conversava com uma jovem, falando sobre ele. — Você tem certeza de que ele não conhece o pai, Jane? — perguntou Month. — Sim, pelo que Lia contou, o pai sumiu sem sequer saber que ela estava grávida. Com dezesseis anos, coitadinha, eu vi seu sofrimento. — respondeu Jane. Ele não ficou ali para ouvir mais, seguiu pelos cômodos da casa, até achar seu filho. Materializou-se a frente dele e o menino gritou: — PAPAI! — E pulou em seus braços. — Oi, filho, desculpe a demora, não sabia onde vocês estavam. — Eu perguntei à mamãe se ela dexô o endereço e ela disse que você achava a gente e você achô. — Sua mãe é muito esperta. Eu fui vê-la no hospital e ela vai ficar boa e voltar logo para você. Agora eu preciso ir. Vou acertar as contas com aquela mulher e depois vou preparar a nossa casa e virei buscar você. Não conte para ninguém, não vão acreditar. — Tá bom, papai. Natanael se foi e tendo visto a imagem de Suelen na mente do seu filho, foi atrás de encontrá-la. Não foi difícil, pois o Alfa Josué já a havia prendido em uma das celas da prisão. Mas ele achou isso pouco para o que ela fez e foi até lá, materializando-se na frente da mulher, que tomou um susto e então, ele falou: — Você fez mal a minha mulher e meu filho e por isso não merece viver, tem agora a sua sentença — e moveu a mão. — Não pode ser, ela disse que não tinha compannnn… — não consrguiu mais falar. O sangue começou a sair pelos olhos, ouvidos, nariz, boca, por todos os orifícios do corpo de Suelen, que queria gritar, horrorizada, mas não conseguia. Aos poucos, foi sufocando em seu próprio sangue e caiu, perdeu os sentidos, até que não havia mais uma gota de sangue em seu corpo e morreu lentamente. Ele se desfez, novamente e sumiu do local indo em direção ao antigo instituto onde dava aula, ao qual sua avó ainda administrava. Apareceu sem anúncio dentro do quarto da anciã que não aparentava ter mais de quarenta anos. Prometeu nunca mais voltar, a não ser, é claro, para tomar o que era seu. Ela sentiu que alguém chegou, mas não passava por sua imaginação, que seria seu neto. Quando ele apareceu, ela ficou chocada e sem reação, pois era a última pessoa no mundo que desejava ver. — Olá, vovó. Como está? — Olá, Natanael. O que faz aqui? — perguntou Marla. — Não me esperava, vovó? Pensou o que? Que eu seria um escravo para o resto da vida? Marla ficou assustada e com medo, ao ouvir aquilo. Será que ele cumpriu todo o acordo? — Como assim? — perguntou ela. — Eu estou livre, vovó. Sua dívida com a Morte está paga. Ela puxou o ar com força e soltou tudo de uma vez, sentando pesada em uma poltrona do quarto. — Que notícia excelente. Você cumpriu rápido o acordo, como conseguiu? — Um milhão de almas podres não foi uma barganha vovó, foi muito trabalhoso, mas a rainha me ofereceu algo que me entusiasmou e tornou meu trabalho menos árduo. — Como pode chamar aquela criatura horrorosa de rainha? — perguntou Marla, horrorizada — E o que foi que ela te ofereceu de tão bom, assim? A gargalhada de Natanael foi tão estrondosa, que se ouviu até fora do instituto. — A sua cabeça, vovó? — falou ele, abaixando-se para seu rosto ficar na altura do dela e olhou bem dentro de seus olhos, com um sorriso cínico de escárnio. Ela se encolheu na poltrona, vendo as labaredas do inferno nos olhos dele e falou, depois de refletir: — Isso não pode ser…o acordo era para que ela não me matasse. — Sim, vovó — falou, se afastando — esse era o seu acordo com ela, não comigo e fui eu quem paguei, ou seja, adquiri a sua dívida e por isso, agora, sua vida me pertence. Foi um preço bem caro, eu acho. Ela Suspirou e pensando rápido, resolveu ser gentil e amorosa com seu neto. — Bom, querido. Ainda bem que foi você, pois eu sendo sua avó que o criou e protegeu, você não me fará mal, não é mesmo? Nova gargalhada estrondou tudo à volta deles, quebrando inclusive os vidros das janelas. Ele parou de costas para ela, com as mãos nos bolsos da calça larga e perguntou: — Me responda uma curiosidade, vovó querida. Todos os bruxos e feiticeiros que lhe ajudaram a me prender, fizeram uma união de sangue, não foi? — Sim, mas porque você quer saber disso? Você não entende nada de feitiços, não é um deles. — A senhora sabe muito pouco sobre o mundo sobrenatural e nem imagina o que desencadeou quando me vendeu e selou a loba de minha companheira. Agora, acabou vovó, pois tenho pressa em recuperar tudo o que me pertence. Foi, rapidamente, até sua avó e com suas garras a mostra, enfiou-lhe no peito, arrancando o coração que ainda pulsava em sua mão, pingando o sangue da anciã no chão e ele conjurou um feitiço, falando: — Fuil air son fola, fuil air son fola, agus fuil a sgriosas fuil, thoir ceartas dhomh. (Sangue pelo sangue, sangue para o sangue e sangue que exterminará o sangue, faça-me justiça). Seus olhos ficaram vermelhos, seu lobo sombreou seu corpo e quando sua mão espremeu o coração maquiavélico, o corpo da avó bruxa virou pó e por todo o mundo, os bruxos e feiticeiros que participaram do feitiço que o prendeu a Morte, tirando-lhe todos os direitos que tinha em herança, também viraram pó e sumiram da face da terra.