Por mais que tentasse, Josué não se conformava de ir embora sem saber mais sobre Lia.
-— Pela sua cara, já até sei o que quer fazer. Espera um instante. Jane foi até o vigia do mercadinho e perguntou que horas fechava o estabelecimento e voltou. — Eles fecham daqui a duas horas, quer esperar? Eu topo, também estou curiosa. — Tá, vamos dar uma volta pra passar o tempo. ** Lia fechou o caixa, pegou sua bolsa e a sacola com as compras que fez e se despediu para sair, quando ouviu um gritinho: — Mamãe, mamãe!!! Ela foi em direção ao menino de cabelinhos loiros e lisinhos, que balançavam conforme corria e abaixou-se para abraçá-lo com bolsas e tudo. — Oi, meu amor, você veio buscar a mamãe, foi? Que gostoso. — falou, enquanto o abraçava. — Eu vô levá você pra casa. — falou ele, fazendo bico. Josué e Jane observavam a cena, admirados. — Então ela teve o bebê e pelos cabelos loiros é mesmo o filho do traste do mestre Natanael. — murmurou Jane. Lia levantou-se, agradeceu a babá e já ia em direção a sua casa, quando ouviu chamarem seu nome. Quando se virou, suas feições mudaram, não queria o passado batendo em sua porta. Esperou que eles se aproximassem e dissessem o que queriam. Era fácil de adivinhar, mas não facilitaria, não precisava dar satisfação da sua vida para ninguém. — Desculpe te abordar assim, mas não pude ir embora sem saber mais sobre você — esclareceu Josué. — E por quê vocês querem saber mais, curiosidade com a vida da menina que se comportou mal e foi expulsa? — perguntou, nervosa. — Não nos entenda mal, Lia. Na época, não gostamos do que aconteceu, até te procuramos para te apoiar, mas não te encontramos. — Mamãe, casa, mamãe…— seu filho já estava impaciente, por estar parado ali, então ela achou melhor convidá-los para sua casa, pois pelo tanto que eles esperaram, não iriam embora sem explicações. Chegando em seu conjugado, convidou-os a entrar. — O espaço é pequeno, mas é o que posso pagar, entrem e sentem-se por favor, vou acomodar o Nicolas. — Podemos conhecê-lo? — pediu Jane, já morrendo de amores pelo pequeno. — Sim — Lia levou o filho até os irmãos — Nicolas, estes são os tios Josué e Jane, e este é o menino mais lindo do mundo, meu filho Nicolas. — apresentou-o, fazendo festa para o descontrair. Jane o segurou na mesma hora e ele se entreteve conversando com ela. Lia foi até a cozinha fazer um café e Josué perguntou se podiam pedir uma pizza e recebeu de Lia um cartão com o número da pizzaria. Josué sentou-se na banqueta que tinha junto ao balcão que dividia o quarto/sala da cozinha e ficou observando Lia fazer o café. — O que aconteceu, Lia? Eles te expulsaram? — Ele referia-se a Alcateia, imaginando o que podia ter acontecido. — Sim, por pouco não me apedrejaram. — É como você veio parar aqui? — A diretora Marla, avó do Natanael, era a única que sabia da verdade e depois de ter me expulsado e ver que a família e a Alcateia não me apoiaram, me pegou e trouxe para esta cidade, me deixou em uma pensão e envia uma quantia por mês para me ajudar. — Não fez mais do que a obrigação dela. Se ela tivesse posto freio naquele neto dela, você não teria passado pelo que passou. — falou Josué, revoltado. — Agora não importa mais. Só me arrependo de não ter te ouvido quando me avisou sobre ele, eu era boba e fiquei encantada por ele. Obrigada, mesmo assim, por ser bom para mim. — Tudo bem — a campainha tocou — óh, é a pizza, vou receber. Lia foi até o filho, pegou-o e colocou-o na cadeirinha de refeição dele. Colocou o mingau que estava esfriando no pratinho e deu para ele comer. — Ele é muito lindo e tranquilo, Lia. Parabéns. — elogiou, Jane. Josué entrou com a pizza e colocou sobre o balcão, onde todos se serviram e beberam o café. Houve silêncio durante um instante enquanto todos comiam, até Josué perguntar: — Se você está sem Alcateia, Lia, vem com a gente. *** Já estavam a duas horas na estrada, era madrugada e Nicolas dormia deitado no banco da SUV. Foi um corre corre quando, finalmente, Josué e Jane conseguiram convencer Lia. Pediu demissão do emprego tarde da noite, entregou as chaves do conjugado e despachou as coisas dela por uma transportadora. Era uma nova oportunidade e Lia agarrou. Chegaram quando já ia amanhecer e a Alcateia estava acordando. Era uma linda cidade, com uma praça e um chafariz no centro. Havia comércio, hospital, escola e até delegacia. Percorreram alguns quarteirões até chegarem na casa do Alfa. — Nossa, que casarão! É da sua família? — perguntou Lia, surpresa pelo tamanho da mansão. — É a casa do Alfa, recebemos muitas visitas que vêm a Alcateia para tratar de vários assuntos e pela falta de hotel na cidade, ficam aqui. — respondeu Josué. — É quem é o alfa? — Ora, Lia, sou eu. Por isso te convidei, aqui conosco, você poderá libertar sua loba e aprender tudo que não aprendeu enquanto cuidava de Nicolas. — explicou Josué, a uma espantada Lia. — Vamos entrar, traga o Nicolas, que vou te mostrar o seu quarto, os funcionários trazem a bagagem. — falou, Jane. Lia olhava tudo em volta e os dois funcionários que pareciam seguranças, também a examinaram de canto de olho. Entrou na mansão pela porta da frente e se perguntou quanto tempo ficaria ali, até a expulsarem. Uma jovem com uma criança pequena, que nunca se transformou e foi expulsa de sua Alcateia, sempre atraía fofocas. Mas deixaria isso pra depois. Entrou no quarto que Jane lhe levou, colocou Nicolas na cama e se despediu de Jane, agradecendo e depois de se lavar, foi dormir um pouco, antes que seu filho acordasse e acabasse com o descanso.