A fera enorme, de pelos negros, orelhas grandes e pontudas e presas afiadas, se esgueirava entre as árvores, pelas sombras da floresta. Finalmente, ele encontrou o assentamento sede dos caçadores. Percorreu todo o perímetro, matando, silenciosamente, um por um dos guardas de vigilância.
Aproximou-se das cabanas e avistou no centro delas, rodeando uma fogueira, homens bebendo, comendo e abusando de algumas mulheres. O grande lobo negro sentiu nojo e prazer ao mesmo tempo. Nojo da perversão dos homens e prazer pelo que ia fazer com eles. Rosnou baixo, para alertá-los e atraí-los. Continuou andando e rosnando e eles se moveram. Primeiro um, que morreu com o pescoço quebrado pela forte patada que recebeu. Depois outro, foi degolado pelas garras afiadas e cada um que ousou cruzar o seu caminho, foi morto de alguma forma terrível. Por fim, estavam todos mortos na floresta, então, ele seguiu para onde estavam as mulheres, exaustas e feridas e acabou com o seu sofrimento. Olhou ao redor e eram cinco cabanas simples, onde ele entrou, dando cabo de todas as vidas que habitam cada uma. Em uma em especial, matou com requintes de crueldades, pois era a maior e onde estava a clínica de mutação genética em que cientistas monstros, tentavam criar mutações que imitassem um lobisomem. Sorriu ao matar o último, depois de o estripar vivo e saindo, voltou a sua forma humana e queimou tudo. Parou, apreciando seu trabalho, inclusive os corpos que recolheu da floresta e agora queimavam na fogueira. Falou: — Eis aí, minha rainha, o último acréscimo a conta. Ele viu quando vários feixes de luz azul, se ergueu do meio do fogo e foi consumido no ar. As almas dos mortos, sendo sugadas pela Morte. — Venha até mim, mensageiro, sua hora chegou. Na mesma hora, ele desapareceu dali e apareceu diante de um trono cercado de labaredas. Não era um fogo como se conhecia na terra, mas sim, um fogo que ardia e não consumia, esquentava, mas não queimava quem se aproximasse e tivesse a permissão de estar ali. O local não era fechado. Nem uma construção era. Ficava no alto de uma montanha estéril, em um platô específico para o trono. Não era ao ar livre, parecia sim, uma caverna no centro da terra, pois via-se, serpenteando a base da montanha, um rio de lava efervescente. Aquela a qual o mensageiro chamava de rainha, sentava-se no trono e ao contrário do que muitos pensavam, não trajava um manto encapuzado e nem tinha uma foice na mão, mas possuía toda a austeridade que seu cargo exigia. — Aproxime-se. — chamou, ela. — Eis-me aqui, minha rainha. — falou ele, depois de ajoelhar-se diante dela, em uma mesura. — Não me chame mais de rainha, serei, de agora em diante, somente Morte. Ele levantou-se e olhou para a figura da mulher de pele negra incandescente e cabelos longos de fogo que esvoaçava ao seu redor e pensou que a Morte nunca lhe pareceu, realmente, com a morte. — A dívida está paga. — disse ele. — Sim, você está livre. Mas como uma última mensagem e também como um presente meu, você vai me enviar todos aqueles que te puseram à minha mercê e te tiraram todos os direitos, poderá ficar com tudo que for deles e assumir o seu verdadeiro lugar. — Ainda bem que você sabe que não será um favor que farei a você, eles merecem o que vão receber. — Sim. Terá, além de seus poderes, a magia de bruxos e feiticeiros, até que acabe com todos e assuma o seu real lugar. Agora vá, antes que me arrependa. Assim como chegou, partiu e apareceu na frente de sua cabana, no mais profundo da floresta mais densa de todo o planeta. Entrou, tomou banho com a água que colhia das chuvas torrenciais que caíam sempre, naquele lugar, lavando todo o sangue podre que ainda havia sobre si e ainda nu e molhado, deitou-se no catre roto existente no lugar e dormiu. * Lia acordou com a animação de Nicolas, querendo conhecer todo aquele mundo novo. Ela mesma ainda queria dormir, mas sabia que seu filho não ficaria mais quieto e se forçou a levantar e cuidar do pequeno. — Olha só quem está todo animado! — exclamou Jane, ao ver os dois descendo as escadas. -— Eeeeeh, tia! — cumprimentou, Nicolas, cheio de alegria. — Bom dia, Jane! Ele acordou com a corda toda e parece que vocês também levantaram cedo. — Cumprimentou, Lia. Sim. Na verdade, nem dormimos. Josué já saiu e eu também terei de ir. — O que está acontecendo, Jane? — Houve um ataque na floresta de Zandia, ao lado da Alcateia vizinha. Parecia um assentamento, não sabemos exatamente, pois tudo foi queimado. —Eram dos nossos? — perguntou Lia, preocupada. — Até o momento, parece que não, mas só tem cinzas. — explicou Jane. — Entendi. Tomara que tenha sido um caso isolado — desejou, Lia. — Sim. O café está na mesa, fique à vontade. Podem passear depois do café, só não saiam da cidade, pode ser perigoso, já que ainda não sabemos o que aconteceu. — Está bem, obrigada. Vá tranquila e se precisarem de ajuda, é só me chamar. — Está bem, até logo e divirtam-se, viu Nicolas. Nicolas sorriu e deu tchau para a tia e virou-se para ir tomar o café, parecia ter fome, mas assim que ficaram sozinhos, perguntou para a mãe: — Mãe, como o papai vai achá a gente? — Seu pai? Mas porquê isso agora, Nicolas, você nem conhece seu pai? — Conheço sim, ele sempre vai me ver, disse que é nosso segredo. — respondeu Nicolas, aborrecido com a mãe, abaixando a cabecinha e fazendo bico, com os bracinhos cruzados. Lia paralisou olhando para o filho, sem saber se aquilo era verdade ou só invencionice de criança. Agachou-se até ficar da altura do menino e olhando em seus olhinhos, perguntou: — Isso é mesmo verdade, meu filho? Seu pai te visitou? — Tentou passar confiança para o filho, segurando em seus ombros. — Sim, mamãe. Ele diz que pareço com ele e que num vai dexá ninguém fazê mal pra gente. Mia pôs os dedos tampando a boca e sufocando um soluço, levantou-se, segurando o choro e tentou fugir um pouco da gravidade do assunto. — Vem, vamos tomar o café e continuamos a conversar lá, tá bom? — Tá bom, mamãe. Fica tiste não, mamãe. Papai tamém gosta muito de você.