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Vencendo A Morte
Vencendo A Morte
Por: Deypi
Capitulo 1. O Início

No centro do grande salão de jantar, em uma mesa de madeira extensa e sem toalha, haviam algumas crianças comendo. Em um balcão transversal à mesa na largura do salão, um jovem passava bistecas em uma churrasqueira elétrica.

Ao lado, pronto para ser servido, um prato continha uma bisteca muito bem passada, com as beiradas pretas de queimado. A próxima garotinha da fila, parou em frente ao jovem e sorriu, recebendo um movimento rápido de cabeça, indicando que pegasse o prato separado.

Todos olhavam para ela, mas não comentavam nada, ao vê-la feliz ao encaminhar-se para a mesa, como se aquela carne queimada fosse a iguaria mais deliciosa do mundo.

Quando todas as crianças estavam servidas, uma anciã entrou no salão para cumprimentá-las e parou ao lado da menina, que comia a carne dura e queimada, com dificuldade.

— Pare, Lia. Não coma esta carne — olhou para o jovem, fuzilando-o com o olhar. — Aqui ninguém é especial, todos devem receber a mesma porção. Pegue seu prato e leve de volta, o mestre Natanael te dará outro.

Acompanhou a menina com os olhos, vigiando as ações do rapaz, para que ele não maltratasse mais a menina. Ela voltou, não tão alegre como da primeira vez, mas entendeu que não podia ser tratada melhor que os outros.

A anciã Marla Meridian saiu, levando o mestre Natanael consigo e um cuidador ficou com as crianças. Josué, um dos alunos mais velhos, apesar de só ter nove anos, aproveitou que estava ao lado de Lia, para falar.

— Você é uma bobona mesmo, será que não percebe o que ele faz com você? — perguntou, sério.

— Ele diz que sou especial e mereço ter tudo diferente. — explicou a menina, sorridente.

— Quem cortou seu cabelo, Lia? — perguntou ele, olhando aquele monte de fios desencontrados, tortos e arrepiados, que eram lindos antes de serem destruídos.

— Foi o mestre, ele disse que estou linda. — respondeu a menininha.

— Linda? Olhe para o cabelo de todos, você é a única que está — fez uma cara de desagrado, apontando para sua cabeça — desse jeito, horrível. E esta roupa, deve ter sido ele que escolheu também, não é? — questionou Josué.

— Sim, foi — respondeu Lia, com a boca cheia, segurando a carne com a mão.

— Pois olhe os outros, suas roupas são novas, limpas e cheirosas e a sua é velha, rota, encardida e cheirando a sabão em barra. Não acredito que você gosta disso? — comentou Josué, aborrecido.

— Ele disse que vocês tudo, tem inveja de mim e que dizeriam isso — continuou comendo.

— E essa carne? Com certeza está melhor que a outra, que estava queimada de propósito, só para você comer uma coisa ruim. Porque você não percebe que ele está te maltratando? Para de achar que ele está te tratando bem e que gosta de você, porque ele não gosta. — Josué já tinha terminado de comer seu almoço, levantou-se e saiu, não queria mais estar perto de Lia.

Lia só tinha seis anos e ainda não entendia a maldade humana e nem a sobrenatural.

**

Dez anos depois.

Apesar de todo o tratamento ruim que Natanael dedicou a Lia, ele não foi substituído, mas também não pegou mais, tão pesado, com a menina. A anciã Marla, tentava controlar ao máximo a conduta de seu neto, não compreendia o porquê dele tratar aquela menina daquela maneira.

Mas neste dia em especial, ela jamais poderia imaginar que, aquele jovem em quem ela nutria tanta esperança de um futuro próspero para si, fosse capaz de cometer um ato tão vil e desrespeitoso.

Ela sentiu uma sensação ruim, como se uma névoa escura de maldade rondasse a sua cabeça e saiu de seu escritório para investigar o que poderia ser. Foi até o coordenador do colégio e perguntou se estava tudo bem e onde estavam as crianças.

— Bom dia, anciã Meridien, as crianças estão tendo uma aula especial sobre acasalamento, cada uma foi destinada ao seu mestre para uma aula particular.

— Oh, não… então é isso — saiu andando ligeiro e seguindo a onda de maldade conforme ficava mais forte e entrou sem pedir ou bater, no quarto de Natanael. O que viu, deixou-a estarrecida, mas já era tarde.

— Onde ela está? — perguntou para Natanael, que estava sentado na cama, recostado na cabeceira, com suas partes íntimas cobertas com a ponta de um lençol.

Ele indicou a porta do banheiro com o queixo. A anciã não conseguia crer no que estava vendo. Havia correntes amarradas na cama que deviam ter prendido a jovem fêmea, assim como um lenço jogado que devia ter sido usado como mordaça.

O cheiro de sexo, sangue e outros odores não nomináveis, enchia o lugar e os resíduos que sujavam o lençol, davam uma ideia do que Natanael havia feito com a fêmea.

Foi até o banheiro e entrou, também sem pedir ou avisar. Viu a fêmea quase desfalecida na banheira, onde a água estava avermelhada por seu sangue.

Saiu para pegar uma toalha e perguntou, entristecida:

— Por quê você fez isso, meu neto? 

— Agora ela sabe a quem pertence e quem se aproximar dela, também vai saber. Nunca mais ela desejará acasalar, até que chegue o tempo de eu a buscar.

— Você é um monstro e eu quero que você saia e vá embora dessa instituição, já está na hora de você cumprir o seu destino e não volte mais. Não vou lhe castigar por isso, porque quando esta fêmea descobrir o que significa tudo o que você fez, ela mesma irá atrás de você para se vingar. 

— O que queria que eu me tornasse, vovó? Fui feito para matar como serviçal da própria morte. Só fiz instruí-la a aguentar o sofrimento e a dor, pensando que é bom. Se foi errado, o tempo dirá.

Natanael levantou-se sem se preocupar com sua nudez, vestiu-se e saiu, sem despedir-se e sequer olhou para a fêmea ferida ou para sua avó.

Lia ouviu tudo do banheiro e finalmente compreendeu o que tanto Josué a alertava e ela não acreditava. Ela não era especial de maneira boa e sim para receber os desmandos cruéis de seu algoz e agora, estava marcada para sempre e dificilmente conseguiria acasalar com outro.

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