Capítulo 05
Ellen Vasconcellos. Quando cheguei a mansão, fiquei encantada, era um lugar lindo enorme, com os ombros retos, eu segui adiante, passei pelo jardim e então me apresentei a alguns seguranças. Eles me disseram para prosseguir, e então eu entrei... Quando fui orientada a subir os degraus da casa, assim fiz, cheguei ao corredor meio tímida e a primeira coisa que vi, foi o bebê no quarto dele. O Carlos. Era esse o nome dele. Um bebezinho de oito meses, calado, sentado no chão de carpete macio, rodeado por brinquedos que ele mal olhava. Estava ali, com o corpinho levemente curvado e os olhos perdidos, olhos de um azul tão límpido que doíam de tão bonitos... e de tão tristes. Sentia até meu coração apertado naquele momento, de o ver assim. Me aproximei devagar e então vi, uma mulher ao lado dele, uma senhora de cabelos presos num coque baixo e avental bem passado, me observava com desconfiança assim que cheguei. — Boa tarde... sou Ellen Vasconcellos. — disse com um sorriso leve. — Falei com o senhor Gustavo, meu pai. Ele mencionou que o senhor Ethan queria alguém de confiança para cuidar de Carlos. Vim para a entrevista. Mostrei um sorriso leve e então disse que os seguranças disseram para entrar. Ela respirou devagar, apertou os olhos, avaliando-me da cabeça aos pés, antes de responder com um aceno educado. — Sou Marta. Trabalho com a família há anos. Pode aguardar aqui. O senhor Ethan ainda não chegou, mas acredito que... seria bom fazer algumas perguntas antecipadamente. — disse e então gesticulou para que me sentasse na cama do quarto, assim eu fiz. Marta então me fez algumas perguntas diretas, o nome completo, se eu já havia trabalhado com crianças, se tinha alguma formação na área. Respondi com tranquilidade. Não era babá profissional, mas sempre cuidei dos filhos das amigas da minha mãe, além de ter feito cursos de primeiros socorros e estar habituada com crianças pequenas. E, mais do que isso, eu gostava. De verdade. Me sentia tão relaxada com elas, crianças são tão puras e inocentes e estar ao lado deles, sempre me deixa mais leve, eu amo ouvir o sorriso delas, a voz doce. — Pode ficar um tempo com ele, então. — disse ela, caminhando até a porta. — Estarei aqui fora. Assenti e me ajoelhei diante do pequeno. Ele não se mexeu. Só me olhava, desconfiado, com os dedos pequenos agarrados num boneco colorido. — Oi, Carlos... — falei devagar, me aproximando como quem tenta ganhar a confiança de um passarinho ferido. — Que nome bonito você tem, sabia? — sorri para ele, esperando sua reação. Ele não respondeu, claro. Era apenas um bebezinho de 8 meses. Mas seus olhos encontraram os meus. E... foi estranho. Porque senti algo…alguma coisa me prender. Algo como um laço invisível se formando ali. Como se aquele garotinho estivesse tentando me ler por dentro, como se soubesse que eu entendia o que era perder alguém, mesmo sem ele saber colocar em palavras. Continuei falando com calma, brincando com os brinquedos que estavam ao redor. Peguei um bichinho de pelúcia azul e balancei na frente dele. — Olha só esse aqui... é um ursinho mágico. Sabia que ele fala? Quer ver? Fiz uma voz engraçada, fina e aguda: — “Oi, Carlos! Eu sou o Ursinho Azul e vim te dar cócegas!” A primeira reação dele foi franzir a testa. Mas continuei. Peguei outro brinquedo. Um pato de borracha. — “Ei! Não ouve esse ursinho metido! Eu sou o melhor amigo do Carlos!” E, então... ele sorriu. Primeiro tímido, como se ainda testasse o próprio rosto. Depois veio a risada. Aquela risadinha gostosa, frágil e sincera, daquelas contagiantes de bebê. Que preenchem o ambiente e o coração de quem ouve. E eu? Bem… Eu sorri também, como há muito tempo não sorria. Eu havia passado tanto tempo perdida nos meus problemas e na minha vida, que havia esquecido como aquilo era bom, de como era gostoso cuidar de um serzinho tão pequeno, inocente e fofo. — Aí está você... — sussurrei, emocionada, tocando de leve sua bochecha. — Tava escondido aí dentro esse tempo todo, né? Foi nesse momento que senti. Alguém atrás de mim. Pensei que fosse Marta voltando, mas ao me virar, vi que não. Não era a empregada. Era ele. Um homem alto. Ombros largos. Terno escuro e impecável, mas com a gravata um pouco afrouxada e os olhos intensos. Olhos que me analisaram com atenção, como se tentassem entender o que, exatamente, eu tinha feito com seu filho. Era um homem muito bonito. Daquele tipo que parece ter saído de séries ou filmes. Mas seu rosto sério e cansado mostrava o peso que carregava. Havia algo nos olhos dele que me chamava atenção. Era... dor. Dava para ver como ele estava arrasado por dentro. Como estava exaustão. Me levantei devagar, pegando Carlos no colo com cuidado. Ele se aconchegou em mim como se já fosse o lugar certo. Sorri, tentando quebrar o gelo que se formou no ar. — Olá... o senhor é o Ethan Blake, certo? Ele apenas assentiu. — Sou a Ellen. Meus pais me falaram sobre o senhor e o pequeno Carlos aqui. — falei, fazendo um carinho suave na cabeça do bebê. — Vim conhecê-los... e ver se posso ajudar. Por um instante, ele me observou em silêncio. Não sei o que ele viu. Mas seus olhos pareciam mais curiosos do que cautelosos. — Pode me acompanhar até a sala? — ele finalmente disse, com a voz grave, firme e baixa. — Podemos conversar melhor sobre a vaga. — Claro — respondi, ajeitando o bebê nos braços. Enquanto caminhava, Carlos apenas se aninhou mais. Ele não queria descer. Eu então sussurrei para ele. — Daqui a pouco vamos brincar mais, Carlos, tá bom? — beijei a testa dele e o bebê apenas segurou em meus ombros e descansou seu rosto em meu colo, fechou os olhos levemente. Ele estava com sono, era isso? Acariciei suas costas e segui o senhor Ethan, descemos as escadas e então ele gesticulou para que me sentasse. Me sentei no sofá em frente a ele, ainda acariciando Carlos. Ethan então encostou suas costas no sofá e me olhou por um tempo, antes de começar a entrevista.