Ponto de vista de Kira
Duas horas depois, as muralhas da Cidadela da Lua emergem na penumbra. Os sentinelas armados me reconhecem à distância e logo abrem caminho. Não é respeito — é medo. Um temor silencioso de que eu sou o que separa eles de um destino pior.
Cruzo os portões e logo estou cercada — homens, mulheres, até crianças. É curioso como até elas já entendem a guerra.
Por um instante, uma memória me atravessa como um estilhaço: um tempo em que crianças eram apenas crianças, livres da podridão dos adultos. Mas talvez isso nunca tenha existido de verdade — só um desejo meu, um resquício de humanidade que insiste em não morrer. Um sonho de que, um dia, elas se preocupem apenas em brincar, estudar, serem felizes.
Mas o mundo não é assim. Ele devora os fracos primeiro — e as crianças sangram mais, porque ainda não compreendem o monstro que as engole.
Vejo moleques de doze, quinze anos, fuzis maiores que seus braços magros. Aprendem a maṭar antes mesmo de entender por que vivem. É u