Lia Perroni
Tratar Kairós daquela forma rasgou meu peito em pedaços, mas não havia outra escolha. Se eu não o afastasse com aquela frieza, ele não desistiria, e as coisas inevitavelmente se complicariam ainda mais. Marcelo continuava foragido, e eu não podia, de maneira alguma, colocá-lo em perigo novamente. Ele já havia sofrido tanto por minha causa, era hora de libertá-lo desse fardo.
Ainda remoía a imagem de Kairós se afastando da galeria quando Mário, meu chefe, chegou, interrompendo meus pensamentos dolorosos.
— Lia? Está chorando? O que aconteceu? — perguntou Mário, visivelmente preocupado, aproximando-se.
Forcei um sorriso trêmulo e me afastei um pouco, tentando disfarçar as lágrimas que insistiam em escorrer pelo meu rosto.
— Estou bem, foi só um cisco que entrou no meu olho — menti, tentando soar convincente.
Mário franziu a testa, erguendo uma sobrancelha cética.
— O cisco caiu nos dois olhos, né? — ironizou.
Sorri sem jeito.
— Foi, eh... vamos trabalhar, né? — desconversei.