CAPÍTULO 3

Ricardo 

O dia 31 de março é sempre um dia sombrio para mim e mesmo após tantos anos, aquela memória aterrorizante se faz presente aqui na minha mente... Se faz presente como se tudo aquilo estivesse acontecendo novamente e isso tem me atordoado dia após dia, sem cessar por um segundo se quer.

Há exatos dezoito anos atrás presenciei a pior cena da minha vida e me lembro de tudo como se fosse hoje... Era uma noite muito tranquila, era o meu aniversário de onze anos de idade e a minha família e eu comemoramos a data com muita alegria, como sempre fazíamos... Eu me lembro que meu pai armou uma grande surpresa em casa. Ele chamou todos os meus amigos, fez um grande churrasco no jardim de casa e até o momento, eu estava sentindo que aquele era o melhor dia da minha vida, mas eu não sabia o que esperava por mim.

No fim da noite e de toda a comemoração o meu pai foi alvejado por três tiros na porta da nossa casa em uma tentativa falha de roubo e ele morreu ali mesmo... Morreu agonizando na frente de toda a família e eu me lembro de pedir e implorar aos bandidos que eles levassem tudo, mas deixassem o meu pai, mas mesmo assim eles o mataram na nossa frente... Na frente da minha mãe, na minha frente e na frente da minha irmãzinha de três anos de idade.

Eu sinto que depois daquele dia tudo mudou completamente pra mim e toda a alegria que eu tinha aqui dentro de mim, toda a vida que eu carregava... Se foi junto com o último suspiro do meu pai.

- Meu bem! Será que você consegue entrar aqui por um minutinho?- Pude ouvir a voz da Victoria chamar por mim.

Desviei o olhar da sacada naquele mesmo instante, apaguei o cigarro que fumava, suspirei já sem saco ao imaginar as mil bobeiras que ela iria me dizer e dei meia volta entrando de novo em seu apartamento.

O que será que a Victória quer? Eu realmente não sei como ela conseguiu me convencer que seria uma boa ideia vir pra cá... Eu sempre gosto de me isolar no dia da morte do meu pai, mas ontem acabei bebendo tanto que pelo visto, ela deu um jeito de me arrastar pra cá.

- Fala, Victoria...- Disse já sem paciência ao adentrar pela sua sala de estar.

Ao levantar a cabeça e encara-la, não consegui acreditar no que estava vendo bem ali na minha frente... Essa mulher só pode ter enlouquecido.

- SURPRESA!- Ela gritou animada enquanto estourava confetes.

A imbecil da Victoria simplesmente decorou todo o seu apartamento, trouxe alguma amigos próximos e preparou uma festa surpresa sem a minha permissão... Mesmo eu tendo dito mil vezes a ela que eu detesto o meu aniversário, e detesto ainda mais comemora-lo.

- Eu sabia que essa era uma péssima ideia.- Pedro, um dos únicos amigos que eu ainda sou próximo e confio, disse baixinho ao se aproximar de mim.

Pedro é meu amigo de ensino fundamental, então ele estava presente no dia em que perdi o meu pai, e ele sabe mais do que ninguém que eu odeio ações assim. Odeio! 

- Você gostou, meu amor?!- Victoria disse animada com um sorriso enorme em seu rosto enquanto pulava em meus braços.

Eu não sou hipócrita e estou pouco me fudendo para agradar as pessoas, então nem fiz questão de fingir que gostei e muito menos disfarcei a minha cara de insatisfação com toda aquela palhaçada.

- Victoria, eu vou para a minha casa!- Disse soltando-a dos meus braços e passando por ela em direção ao seu quarto.

Eu odeio me sentir desrespeitado, odeio que as pessoas invalidem um desejo meu e foi isso que a Victória acabou de fazer e eu não ficar aqui fingindo que isso está tudo bem.

- Ricardo, meu amor... Vem aqui.- Ela veio correndo atrás de mim.

Adentrei em seu quarto pegando as minhas roupas que estavam espalhadas pelo chão e já fui logo me vestindo... Vir aqui foi uma péssima ideia, então farei o que eu já deveria ter feito ontem a noite, irei direto para a minha casa.

- Ricardo, por que você fez isso? Eu preparei uma festa tão linda pra você... Chamei todos os seus amigos e é assim que você me paga.- Ela disse adentrando atrás de mim.

A Victória e eu estamos juntos há bastante tempo, ela era uma funcionária na empresa dos meus pais e eu não pude deixar de nota-la pelos corredores da empresa... Ela é uma mulher bem bonita, não posso negar. Ela é alta, tem a pele clara, cabelos longos e negros, um corpo de dar inveja em qualquer mulher e um rostinho que chama atenção de qualquer homen e na cama, ela não deixa a desejar. Talvez seja por isso que eu ainda não me livrei dela, mas isso não quer dizer que irei aturar todas as suas maluquices, até porque, eu arrumo outra igual a ela em um estalar de dedos.

- Não seja idiota, Victoria... Ha quanto tempo estamos juntos? Seis anos? Sei lá! Mas eu sei quantas vezes já te disse que eu não gosto que você faça essas coisas... Eu não gosto e não vou aturar esse comportamento! Então você vai sair desse quarto agora e vai colocar toda essa gente pra fora daqui. Agora!- Eu ordenei a ela.

- Meu amor, por fav...- Ela começou a pedir.

- Ou você faz ou eu faço, você quem decidi.- Disse a ela enquanto terminava de me vestir.

Victoria ficou me encarando com aquela sua carinha de sofrimento, mas aquela sua cena não me convenceu, então me mantive certo em minha decisão e não demorou muito pra que ela saísse batendo o pé do quarto.

Quando eu sai do mesmo, já não tinha mais ninguém alí, apenas ela e o Pedro... Ótimo!

- Você não faz ideia da vergonha que me fez passar, Ricardo... Eu estou tão constrangida, todo mundo comentar da humilhação que você me fez passar.- Ela disse choramingando.

- É bom que você aprende, tenho certeza que ano que vem você não faz mais essa palhaçada.- A respondi sem remorso algum.

- Credo, Ricardo! As vezes eu acho que você não gosta de mim, sabe?!- Ela comentou e Pedro riu ao ouvi-la falar.

Bom, gostar é uma palavra muito forte... As vezes é legal ter a companhia da Victoria, nos fazemos viagens divertidas juntos e passamos algum tempo juntos, mas gostar, gostar. Eu não posso falar que gosto dela... Do sexo eu gosto, e muito gosto muito, mas da Victoria não posso dizer o mesmo.

- Victoria, eu vou para a minha casa que é melhor... Você me dar uma carona, Pedro. Pelo que lembro deixei meu carro lá no clube.- Pedi ao Pedro.

- Eu te levo, meu amor. Apesar de tudo que você fez, eu não vou te deixar sozinho logo no dia do seu aniversário.- Ela disse já pegando a sua bolsa.

O que? Eu não quero ficar com ela, muito pelo contrário... Quero ficar sozinho! Essa é a última coisa que eu quero no momento, a Victória me enchendo o saco.

- Não, Victoria... Depois a gente conversa, tá? Quando eu quiser te ver, EU te ligo.- Disse já passando por ela e saindo pela porta da sala.

Tudo bem que a Victória é minha namorada, mas não gosto de me sentir sufocado, então quando eu quiser, eu vou atrás dela... Não gosto de mulher no meu pé e se ela cismar em ficar me perseguindo igual uma louca, rapidinho me livro dela e coloco outra em seu lugar e eu tenho certeza que ela não vai querer isso.

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