Durante o repouso da Sara, minha carga de trabalho variou bastante. O fato dela ter ficado três semanas na casa dos pais – aquela onde tem mais empregados que patrões – foi o dinheiro mais fácil que já ganhei. Diria que a semana que a ajudei no apartamento dela também foi assim.Só que um detalhe obscurecia o descanso dela e me causava muita pena e impotência: a situação sentimental dela. Minha chefe não parava de chorar ou lamentar pelo noivo da Emma. Ela não voltou a ser a Sara que me entrevistou, e nem parece que vai ser tão cedo. Espero que quando tiver alta, parem de medicá-la como fizeram e, se esses dois se casarem, ela consiga descansar direito.A vida sentimental da Sara não é da minha conta, nem a do Lorenzo ou da Emma, mas o ressentimento já se espalhou pelo meu corpo. E a aventura da Sara e do Lorenzo me deixa ao mesmo tempo incomodada e satisfeita. Incomodada porque minha chefe não merecia ser tratada como amante, e satisfeita porque é isso que espera a Emma: um marido i
Muitas coisas que aconteceram recentemente não estavam no meu bingo deste ano. Como o banho de sangue com meu melhor amigo de infância, ou perceber que tenho sentimentos românticos e lascivos por ele, e também o acidente com meus olhos.A combinação de tudo isso fez do último mês um inferno. Sofri física e psicologicamente como nunca antes, o que é péssimo, obviamente. A dor intensa, o lacrimejamento excessivo, o avermelhamento dos olhos, o inchaço das pálpebras foram os sinais das lesões causadas pelo vidro. Depois de duas operações, uma infecção no meio do caminho, uma cicatrização lenta e meu sistema imunológico que não me ajudava, aqui estou eu.Chorando de novo por Loren. Não é a única vez que choro este mês, mas é a primeira vez que o faço em seus braços, tocando-o, tendo-o tão perto de mim. Eu sentia tanta falta dele que a tristeza de não tê-lo perto me transformou nisso, num ser melancólico que só sabia chorar.— Vou me casar, Sara… — afirma Loren. — É o certo. É o que devo fa
— Não precisa adiar nada, Sara. Eu te levo — anuncia Loren.Sei que consegui adivinhar que era Loren ao entrar no meu apartamento há alguns momentos, mas há muitas outras coisas que não consigo adivinhar sem ver suas expressões faciais. Em que Loren estava pensando? Por que ele ia me levar ao médico?— Tem certeza?— Sim, certeza absoluta. Você continua comendo, não interrompa seu almoço com isso — Loren fala… para Jesus.Percebo uma certa… dureza nessas palavras. Loren não era o tipo de homem que falava assim para seus empregados, é o tom. Loren é um homem gentil quase sempre. Será impressão minha ou há tensão entre os dois?— É isso que a senhorita Sara deseja? — Jesus me pergunta.Sim, há tensão entre os dois. Olho de um lado para o outro só por hábito, porque não consigo ver nada. Ao mesmo tempo, me vem a lembrança de que Jesus ainda não me contou o rolo que ele tem com a Emma, e que, além disso, o próprio Jesus acha que sou a amante do Loren.Antes que eu possa tomar uma decisão,
Viagens de carro desconfortáveis são o pior. O exemplo perfeito é essa viagem com Leonel para o meu médico. Para piorar a situação, o fato de eu estar praticamente cega não ajuda em nada. É terrível, estar na escuridão. Como complemento perfeito, não me lembro das dimensões do carro do meu pai, não consigo colocar música casualmente para aliviar o clima.Decido o contrário, enchê-lo com uma conversa trivial. Deus, eu odiava estar no escuro.— Ah, e como está a mamãe? — pergunto para iniciar a conversa.— Ocupada com o evento do mês que vem, fico feliz que esteja. Se não tivesse te acobertado com aquele rapaz… — menciona Leonel, de uma vez, sem anestesia.— Pai… — digo, inquieta.— Por que ele se dignou a te visitar tanto tempo depois do seu acidente na casa dele? O mínimo de decoro seria ter aparecido mais cedo, não? — ele objeta.— Sim, porque se ele tivesse aparecido na sua casa, você o teria deixado entrar…— Não, e você também não deveria tê-lo deixado entrar no seu apartamento.Se
—Mas quase os tínhamos. O que aconteceu? Como pudemos perdê-los? — menciono desanimada.—Eles contra-ofereceram, não só o seguro médico, mas conseguiram um apartamento barato fora da cidade e ofereceram — explica Peter.—Não conseguimos superar isso, não sem você — garante Fiona.—Por que você não me comunicou isso, Elliot? — pergunto.—Você estava se recuperando, e não tínhamos mais dinheiro para aumentar a oferta. Tentamos conseguir mais, mas não conseguimos convencer os bancos. Eles te queriam para a negociação — explica Elliot.Roei a unha do meu polegar analisando nossa delicada situação. Também não conseguimos acessar os investidores privados que poderiam nos ajudar se eu tivesse intercedido. Nem o tempo, nem as circunstâncias jogaram a nosso favor.—É uma desgraça que tenha acontecido esse acidente no meio da negociação… — menciona Fiona pessimista.—Uma desgraça para nós, para eles não. Caiu como uma luva para os Lewis você ter se ausentado. Nem planejado teria saído melhor — r
— Quase desmaiou na porta, nós achamos que ela ia ter um infarto! — exclama a mesma mulher que ouvi na ligação, super nervosa.Jesus a repreende, mas ela não presta atenção. Com o resultado dado, os vizinhos vão embora, Luísa aproveita para contar a história de como a encontrou e como trouxe a enfermeira, que ouvi se chamar Tania. Enquanto isso, aproveito para sentar em uma cadeira no canto, para ouvir. O resto não me viu, e Jesus se esqueceu de mim.Eventualmente, os olhos da senhora Mary se fixam em mim.— É a Sarita? — ela pergunta, mais recuperada.— Acho que sim — respondo com um sorriso, e me aproximando dela.— Minha menina! Como você está?! — ela estende os braços.Eu me inclino para abraçá-la.— Melhor, que só tenha sido um susto e ela esteja bem — digo, me endireitando.— Estou bem, melhor do que nunca. Você fica para comer? Quer um cafezinho? — ela oferece.— Mãe… ela tem trabalho pendente. Não pode ficar… — diz Jesus, se levantando. — Eu… também…O rosto de preocupação e ve
Eu fui, em seu momento, uma criança travessa, depois uma adolescente problemática que adorava se meter onde não era chamada. Em seguida, sou uma adulta, que parece que os problemas a seguem sozinhos. A confissão de Jesus me deixou em choque, em completo choque.Embora depois, o comportamento de Emma faça mais ou menos sentido. Essa agressividade que ela tem comigo e que apareceu logo depois de contratar Jesus. Justo naquele dia em que ela começou a me tratar assim, antes disso, cheguei a sentir que a tinha na palma da minha mão.Já vejo por que parei de tê-la, ela deve acreditar que orquestrei isso, sozinha.— Vou assinar minha demissão ao final do dia. Desculpe pela minha falta de honestidade — diz Jesus.Volto à Terra.— Você acha que vou te deixar ir depois de soltar uma bomba dessas sem contexto? — reclamo.— Não é tão interessante ou significativo como você está imaginando… — ele menciona, sem soar convencido.— Ah, sim? Me conta uma história de vaqueiros? Se fosse irrelevante com
— Sara! Como você está? Loren me contou sobre seu acidente… foi terrível. Por que você não nos contou antes? — ela diz.Ah, bom. Lorenzo soube do meu acidente e contou a ela. Parece bom, ridiculamente bom.— Eu estava descansando e com proibição de telas… — respondo forçando um sorriso.— Que horrível deve ter sido para você. Sinto muito…— Sim…— Oi, já que você voltou ao trabalho, eu realmente queria consertar as coisas com você. Sei que da última vez fui meio volátil, mas desta vez, vou compensar, prometo.Arranho minha sobrancelha.— Quando você quer que seja essa vez?— Agora mesmo. Vou te enviar minha localização imediatamente, será um grande presente para você e minhas damas. Te espero! — ela desliga.Olho para Jesus, que está curioso com o que Emma me disse.— Ela quer me dar uma surpresa, é uma oferta de paz…— Ela vai cair nos jogos mentais dela de novo? Não faça isso de novo, senhorita Sara. Não é bom se misturar com essas pessoas, os Bianchi são perigosos e sua segurança me