Capítulo 08 - Alexander

- Mãe, onde você estava com a cabeça para contratar uma menina de 20 anos para trabalhar na minha casa?

- Ora, Alex, o que importa a idade? A moça queria trabalhar.

Eu estava sentado na cozinha do apartamento da minha mãe e mais uma vez eu queria alertá-la sobre o comportamento de Felipe na empresa. Mesmo afastado eu tinha acesso às contas da empresa e elas nãos estavam fechando.

- Tudo bem, esquece esse assunto. Quero te falar de outra coisa.

Marina percebeu o tom diferente na voz do filho e sentou na cadeira em frente a ele.

- Algum problema?

- Claro que há um problema, mãe e por favor me ouça, senão será tarde demais.

- O que há?

- Nós estamos vendendo cada vez mais e a nossa conta bancária só diminui, você não acha isso estranho?

Ela suspirou

- Eu sei, tenho observado que Felipe está meio estranho. Não quer mais me falar sobre os lucros da empresa e foge sempre que eu pergunto sobre quais investimentos nós temos.

- Talvez porque não tenha investimento nenhum.

- Por que você acha isso?

- Por que eu falei para ele que estava precisando de dinheiro e ele disse que não tinha, mas tenho conversado com nosso contador e ele me afirmou que a empresa vem faturando muito.

- E você está precisando de dinheiro?

- Claro que não, mãe, eu estava testando o Felipe!

- O que faremos então?

- Preciso voltar para a empresa e a senhora é quem dar a última palavra, como deu para me afastar de lá, não é?

- Alexander!

- Sim, minha mãe, a culpa disso é sua. Agora converse com seu filhinho querido e lhe diga que vou voltar para assumir meu cargo.

- Você promete que não vão brigar?

Eu levantei e fiquei de costa para ela.

- Prometo que vou fazer o que for necessário para salvar a empresa.

- Alex...

- É pegar ou largar mãe, quer deixar Felipe destruir seus patrimônio? Se quiser é só avisar.

- Tudo bem, apesar de você nos últimos tempos andar mais bêbado do que sóbrio, eu sei que você é mais sensato que seu irmão.

- Eu sei apenas que o papai lutou muito para fazer aquela empresa ter sucesso e se hoje nós somos ricos foi graças a ele e não vou jogar isso no lixo.

Minha mãe se aproximou de mim e me abraçou.

- Que bom, filho, que você tomou essa decisão. Agora só precisa retomar sua vida pessoal, por que não arruma uma namorada?

Eu ri divertido e peguei as chaves do jipe.

- Por que não quero namorar tá bom dona Marina. Agora vou para minha casa ver o que aquela moça aprontou por lá.

- Ela tá fazendo tudo direito?

- Não sei o que é fazer tudo direito, mas bagunçou um monte de coisas e trocou tudo de lugar.

- Não seja mal educado com a moça.

- Tudo bem, tchau.

- Tchau, meu filho, Deus te abençoe.

Sair da casa da minha mãe e dirigir meu jipe troller pelas ruas de São Paulo, pensando em como faria para descobrir o que Felipe andava fazendo com as contas da empresa.

 Pretendia ir até o escritório no dia seguinte e retomar meu cargo de contador. Só assim teria acesso as contas e ao balanço da empresa. Não sabia como ia reagir quando encontrasse o irmão. Na época da morte de Erica nós tivemos uma briga feia e nunca a mais nos falamos, apenas por telefone quando o assunto era muito sério.

Ainda tinha uma competição importante naquele fim de semana no Rio de Janeiro e eu pretendia vencer mais uma vez. Eu era patrocinado pela nossa empresa e graças as minhas vitórias foi possível investir no ramo de vendas de moto e cada vez mais pessoas queriam comprar motos que se assemelhavam as que eu usava nas competições. Eu não deixaria Felipe jogar pelo ralo anos de dedicação e sucesso.

Ao chegar em casa estacionei o jipe na garagem e abrir a porta. Tudo estava no mais completo silencio. O chão brilhava e as cortinas estavam de volta nas janelas. Fui até a cozinha e tomei um copo de água e retirei as botas. Pensei em deixa-las ali mesmo mas como estavam muito sujas achei melhor colocar na área de serviço e lá parei surpreso com a cena que vi em minha frente.

A garota dormia em um colchão no chão. Fiquei estático sem saber o que fazer. Ela parecia muito cansada e dormia profundamente com os fones de ouvido meio caídos de lado. Observei cada detalhe dela. Estava com a mesma roupa do dia anterior e o cabelo estava solto. Era enorme e espalhava-se pelo colchão e o chão.

Alguma coisa não combinava naquela garota. As roupas dela eram de boa qualidade e os brincos na orelha pareciam de ouro, assim como o relógio que ela usava. A bolsa também era de uma marca cara. O que ela fazia ali? Ela não parecia precisar daquele emprego.

Naquele momento não importava o motivo, alguma coisa nela me deixou inquieto. Ela parecia meio indefesa e precisando de proteção e eu estranhamente queria protegê-la. Precisava descobrir o que ela fazia ali. Tinha quase certeza que ela estava fugindo de alguma coisa ou de alguém.

Me aproximei dela e toquei em seu braço.

- Ei, Jade... acorde!

Ela deu um pulo assustada.

- Calma, sou eu, está tudo bem.

- Eu... desculpe... pensei em descansar um pouco e cair no sono.

Eu ri da cara de medo dela.

- Calma, menina, pode descansar, sim, mas nessa casa tem cama sabia?

Ela enrolou os longos cabelos em um coque.

Eu quis comentar que o cabelo dela ficava lindo solto, mas resolvi ficar calado. Não a conhecia o suficiente para fazer um comentário daquele.

Ficamos ali naquele silencio meio constrangedor. Percebi que ela me olhava disfarçadamente e em dado momento nossos olhos ficaram presos um ao outro e pareceu que o tempo parou por um instante. Eu tentei quebrar um pouco a tensão com um comentário meio bobo.

- Você venceu, não bebi hoje ainda.

Ela riu um pouco mais descontraída.

- Melhor pra você, hein!

Ela esticou o corpo fazendo um alongamento e os seios comprimiram a camiseta de forma um tanto provocante. Desviei os olhos tentando disfarçar que aquilo tinha me chamado a atenção. Nossa! Era a primeira vez que eu olhava para o corpo de uma mulher com aquele pensamento nos últimos tempos. Depois que perdi a Erica, não conseguia sentir desejo por ninguém e nas poucas vezes que tentei levar uma mulher para a cama, tinha sido um sexo ruim e sem emoção.

Voltei minha atenção para a garota na minha frente.

- Então, Jade, como foi o dia?

Ela foi até a cozinha e eu a segui.

- Fiz várias coisas. Acho que está tudo quase limpo.

- Obrigada.

- Fiz comida também, está na geladeira, mas não tem quase nada na sua cozinha.

Eu não sabia a quanto tempo eu não ia ao mercado. Aquelas coisas tinha sido trazidas por minha mãe.

- Amanha você pode ir ao mercado?

- Tudo bem, posso sim.

Ela pegou a bolsa.

- Bom... está na minha hora.

Eu observei que ela parecia meio nervosa.

-  Você mora onde? Vai de ônibus?

Ela demorou um pouco para responder.

- Moro... na zona norte

- Em que bairro?

- É... Vila Mariana

Vila Mariana não era na zona norte. Agora eu tinha certeza que ela estava escondendo alguma coisa.

- Sei... então tá. Até amanhã então.

Quando ela fechou a porta, eu peguei a chave da moto. Ia descobrir agora o que essa garota estava escondendo.

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