VincentEstava revisando os relatórios do rastreamento de Silvano quando escutei os passos apressados.Era ela , Mirella.Ela entrou com o rosto corado, os olhos intensos, determinada. Como sempre.Mas havia algo de errado.— Precisamos conversar — disse, sem rodeios. repetindo como na mensagem de texto.Me levantei, já sentindo um pressentimento que me embrulhou o estômago.— Fala — incentivei, cruzando os braços.Ela respirou fundo.— Prestei socorros a um inimigo no corredor do hospital , eu reconheci as tatuagens , acho que é a mesma que me mostrou da família de Giulietta... eu o salvei.As palavras caíram como uma faca na minha espinha.— O quê? — minha voz saiu baixa, mas carregada.— Ele precisava de ajuda, Vincent. Estava morrendo! Eu sou médica. Eu jurei salvar vidas...— Você salvou um inimigo! — explodi, a raiva se contorcendo no meu peito. — Um homem ligado diretamente à família que tentou nos matar! Que tentou te matar!Mirella deu um passo à frente, firme, sem medo.— Eu n
Renzo (Infiltrado)A dor me rasgava por dentro, como se cada segundo fosse uma lâmina me cortando em câmera lenta. O sangue escorria quente entre meus dedos, a visão embaçada mal me permitia enxergar o corredor do hospital. Sabia que não duraria muito tempo. Não ali. Não com o pulmão perfurado e a hemorragia interna que senti começar.Mas então, vi ela.Cabelos presos às pressas, olhos arregalados de alerta, mãos firmes como se nada no mundo pudesse distraí-la. E mesmo sem saber meu nome, mesmo vendo minhas tatuagens... ela me salvou.A médica... Mirella.Ouvi alguém chamá-la assim. O nome se cravou na minha mente como ferro quente.Quando ela percebeu quem eu era, já era tarde. Os aparelhos estavam conectados, a cirurgia em andamento. Mas o jeito como hesitou por um segundo... quase imperceptível, mas eu notei. Ainda assim, ela continuou. Com raiva, talvez. Com medo, talvez. Mas seguiu.E foi aí que entendi que estava diante de alguém perigosa. Não porque mata , mas porque escolhe salv
MirellaVincent apareceu na faculdade pra me buscar , sem avisar. Vestia jeans escuros, camisa branca com as mangas dobradas e um sorriso que me desmonta inteira.— Vem comigo — disse apenas, estendendo a mão.— Pra onde? tinha combinado com as meninas de tomar um café. — Hoje não. Hoje você pertence só a mim.Pisquei, confusa, mas seu olhar era sério. Havia urgência ali, mas não daquelas que envolvem sangue ou ameaças. Era urgência de alma, de quem precisava respirar junto de novo.Minutos depois, estávamos na estrada.Ele dirigia com uma mão no volante e a outra entrelaçada à minha, como se o mundo não pudesse nos alcançar enquanto estivéssemos assim.O lugar era simples, escondido entre árvores altas, com um lago de águas calmas refletindo o fim do dia. Um chalé de madeira, silencioso e cercado por natureza. Nenhum guarda a vista , nenhum ruído de telefone, nenhuma arma .Só nós dois.— Precisamos de dias assim — ele disse, me puxando pela cintura assim que descemos do carro. — Onde
Vincent A água estava gelada, mas não o suficiente pra me fazer sair. Mirella estava na rede , e eu fiquei ali, dentro do lago, olhando pra mulher que deitou meu império de cabeça pra baixo.Ela ria sozinha, lendo um livro que provavelmente tinha mil páginas de medicina. E ainda assim, parecia tão leve quanto o vento que balançava o vestido dela.Cheguei perto da margem, molhado, bagunçado, e ela me lançou aquele olhar de “não vem me molhar, Vincent” — o que, claro, eu ignorei completamente. Subi o deque e me joguei com tudo na rede onde ela estava deitada.— Você é impossível! — ela reclamou, mas já estava rindo.— E você é linda. A combinação funciona. — Beijei seu ombro molhado, deixando minha marca ali.Mirella tentou manter o foco na leitura, mas logo jogou o livro pro lado. Virou de frente pra mim, as pernas entrelaçadas nas minhas, e ficamos ali, embalados, com o som do lago como trilha.Foi quando deixei escapar. Baixo, quase num sussurro.— Quero um filho com você.Ela congelo
Vincent continuação....O retorno à cidade foi silencioso. Um helicóptero discreto, rota alternativa, protocolo de segurança redobrado. Mirella cochilava ao meu lado, a cabeça encostada em meu ombro. Mas meu corpo estava em alerta total. Eu sabia que a calmaria havia sido apenas uma pausa calculada. A guerra nunca termina , ela apenas muda de cenário.Ao pousarmos, nossos carros já nos esperavam. Seguranças, rota isolada. Mirella foi escoltada direto para casa. Eu segui com Julian e mais dois dos meus homens para uma reunião com um fornecedor antigo. E foi no caminho... que tudo desabou.O impacto foi brutal. O SUV explodiu como um trovão, arrancando o chão sob meus pés, quebrando o silêncio do dia com a violência de uma tempestade. O som ensurdecedor da explosão ecoou em meus ouvidos, e por um momento, o mundo inteiro pareceu se desintegrar em pedaços, como os estilhaços de vidro que cortaram o ar.Tudo se despedaçou.Meu corpo foi lançado para fora . A dor era avassaladora, mas nada
MirellaEu ainda estava meio sonolenta do cochilo no helicóptero, mas a vibração insistente e o toque abafado no criado-mudo não me deram escolha. Peguei o aparelho, ainda sem foco. Era Julian — Alo — murmurei, a voz rouca.Mas ele não respondeu de imediato. Só ouvi o som da respiração dele do outro lado da linha, pesada, tensa.— Julian onde esta Vincent? — me bateu um desespero, agora completamente desperta.— Mirella... — a voz dele saiu engasgada. — O carro do Vincent foi atacado.O mundo parou.— O quê?— Um atentado. Explodiram o SUV. Ele está vivo, mas em estado gravíssimo. Estamos levando ele para o hospital agora. Já acionamos o protocolo máximo de segurança ao redor de você.Não consegui respirar por um segundo. O chão pareceu desaparecer sob meus pés.— Ele... ele vai sobreviver? — perguntei, tentando manter a calma, mas minha voz já estava trêmula.— Está lutando. Mas é sério. — E então, com um tom mais firme.— Você precisa ficar onde está. Não saia de casa, não fale com n
Mirellacontinuação...Ver o homem mais forte que conheço entregue a uma cama, com tubos invadindo seu corpo e a vida pendurada em números de tela... é como morrer um pouco por dentro.— Eu queria que você visse o que eles fizeram. O que estão tentando fazer. — minha voz saiu baixa, rouca. — Estão mexendo com o que você e seu pai construiu. Estão tentando te apagar, Vincent. Apertei a mão dele mesmo sem resposta.— Mas eu juro por tudo o que sou... eles não vão conseguir.Me levantei e fui até a janela. O reflexo do vidro devolveu a imagem de alguém que eu mal reconheci. Cabelos bagunçados, olheiras profundas, a expressão vazia de alguém que já chorou demais.Voltei para perto dele.— Eu estou te protegendo agora. Os seus homens obedecem a mim porque sabem... sabem que se você cair, sou eu quem vai manter o trono quente. — sorri com amargura. — E se você não acordar, Vincent... eu viro rainha de guerra. Por você. Por nós.Fiquei em silêncio por longos minutos, escutando o som das máqui
Vincent Era como flutuar num oceano sem fim, onde o tempo não existia e a dor parecia uma memória distante. Mas então… algo me puxou. Um som. Uma voz. A única que eu reconheceria em qualquer lugar do mundo. "Você vai ser pai, meu amor." As palavras atravessaram a escuridão como uma lâmina, abrindo caminho até onde eu estava. Um sussurro que me prendeu à vida com mais força do que qualquer médico ou máquina. A cada noite, ela falava comigo. Às vezes baixinho. Às vezes com medo. Às vezes… com lágrimas que queimavam meu peito.E eu quis voltar para ela , por eles . Lutei. Me agarrei àquela voz como um soldado perdido que avista a bandeira da própria pátria. Aos poucos, o som do mundo foi voltando. Primeiro fraco, depois com mais nitidez. O bip dos aparelhos. O cheiro do hospital. A respiração dela. E foi quando pensei que já não conseguiria segurar por mais tempo, ela encostou a cabeça no meu peito e disse que estava cansada. "Eu não sei até quando consigo, Vincent." Foi ali que ro