Mirella
Fazia semanas que eu relutava. O número dele estava ali na minha agenda, silencioso, como um lembrete constante da minha ausência. Mas hoje... hoje meu coração pediu abrigo. E o único lugar seguro que conheci a vida inteira foi a voz do meu pai.
Toquei em ligar antes que minha coragem evaporasse.
— Alô? a voz dele soou do outro lado, rouca, familiar, carregada de saudade.Engoli o choro que já ameaçava.
— Pai...Houve um silêncio terno, daqueles que abraçam antes mesmo das palavras.
— Minha menina... ele sussurrou, com o tom emocionado. — Até que enfim.
— Eu sei... demorei demais.
— Não importa. O importante é que você ligou. Tá bem? Sorri. Só ele conseguia me fazer sentir como uma criança outra vez.
— Tô. Ou... tentando. Muita coisa aconteceu, pai.
— Eu imagino. disse, com a calma que sempre teve quando queria me ouvir. — Você tá com aquele olhar de quando guarda o mundo nas costas, né?
— Quase isso.
— Sabe o que eu dizia quando você ficava assim?Sorri de leve, lembrando da i