Mirella
continuação... Dia 11 Acordei com o coração acelerado. Não foi pesadelo , foi realidade. Hoje é o dia em que vou conhecer o pai de Vincent. O homem. O chefão da máfia italiana. Só isso já seria o bastante pra me fazer tremer... mas tem mais. É o pai do homem que está tentando me conquistar. O mesmo homem que ontem beijou minha alma com os lábios e disse que eu era a escolhida dele. Tentei manter a compostura. Me arrumei com calma, nada muito chamativo. Vestido preto, elegante, discreto. Cabelo preso num coque baixo. Um pouco de perfume atrás da orelha. E, claro, coragem nos bolsos. Vincent chegou pontualmente. Me olhou como se eu fosse a única mulher no mundo e me disse: — Vai dar tudo certo. Eu prometo. No carro, o silêncio era tenso, mas confortável. Vincent segurava minha mão com firmeza. Como se dissesse, sem palavras, que não importava o que viesse, ele estava ali. Chegamos em uma mansão afastada, de arquitetura clássica, imponente, e cercada de seguranças que pareciam saídos de um filme. O portão se abriu lentamente, e minha garganta secou. Ao entrar, fomos conduzidos para uma sala ampla, decorada com antiguidades, quadros dourados e uma lareira acesa que dava à noite um ar ainda mais tenso. E então, ele entrou. Um homem alto, cabelos grisalhos bem penteados, olhar duro e impenetrável. Carregava uma presença que congelava o ambiente. Não precisou dizer uma palavra ele era o rei daquele castelo sombrio.Vincent se levantou imediatamente. — Padre, questa è Mirella. O olhar do pai dele pousou sobre mim como um raio de análise. Senti um arrepio percorrer minha espinha. Ele se aproximou com passos calculados, e estendeu a mão com certa frieza. — Então é você... a brasileira. — Sim, senhor. Mirella. É um prazer conhecê-lo. Ele não respondeu. Apenas assentiu com um leve mover de cabeça. Em seguida, se sentou, como se aquilo fosse um teste. Como se estivesse me medindo com o olhar. — Vincent está arriscando muito por você. ele disse com voz baixa, mas firme. — Ele tem responsabilidades. Um nome a zelar. Uma linhagem a proteger. Engoli em seco. Mas mantive minha postura. — Eu entendo, senhor. E sei que não venho de uma família comum. Mas se tem uma coisa que aprendi, é que quem nasce no meio da guerra, valoriza a paz. Seus olhos brilharam, como se não esperasse por aquela resposta. Ele se inclinou levemente, cruzando os dedos sobre os joelhos. — Seu pai. Ele é um dos braços da facção brasileira, não? Vincent arregalou os olhos, surpreso com a pergunta direta. — Sim. respondi, sem hesitar. — Mas eu escolhi um caminho diferente. Estou aqui pra estudar, pra mudar minha história. Eu não sou ele. O silêncio que se seguiu foi de fazer o ar pesar. O pai de Vincent me encarava como se procurasse algo invisível em mim. Finalmente, ele falou: — Coragem. Você tem. Veremos se tem lealdade também. Ele se levantou, me olhou uma última vez, e antes de sair da sala, virou-se para o filho — Trinta dias. Nada além disso. Se ela falhar, você volta para o acordo original. Vincent cerrou os punhos, mas não discutiu. Apenas assentiu. O pai dele saiu. E eu desabei no sofá, ofegante, como se tivesse corrido uma maratona sem sair do lugar. Vincent se ajoelhou à minha frente, segurou meu rosto entre as mãos e disse: — Você foi perfeita. Ele nunca olha duas vezes pra ninguém. Mas olhou pra você. Isso já diz muito. — E se eu falhar, Vincent? — Você não vai. Porque agora somos dois contra o mundo. Os dias foram passando e cada vez mas eu sabia que nao seria facil mas a vontade de me envolver com ele estava cada vez mas viva dentro de mim . Fui cafeteria perto da biblioteca estava vazia . Eu queria apenas um cappuccino antes da aula, algo que acalmasse minha mente bagunçada com tudo o que vem acontecendo com Vicent. Ainda não sei como fui parar nesse turbilhão.Sento perto da janela e então uma mulher vem na minha direção Alta, esguia, salto fino. Um batom vermelho tão marcante quanto sua presença. Ela caminha com elegância até minha mesa como se já soubesse exatamente quem eu era. Um arrepio sobe pela minha espinha. — Mirella, certo? — Sim... digo, desconfiada. — Nos conhecemos?Ela sorri, mas o sorriso não chega aos olhos. — Não, ainda não. Mas... digamos que temos algo ou alguém em comum. Ela se senta sem ser convidada, cruzando as pernas devagar. A tensão se instala imediatamente. — Meu nome é Giulietta. diz, enquanto mexe no anel no dedo. — Fui muito próxima de Vicent. Muito próxima. Fico surpresa de saber que ele não mencionou meu nome. Meu coração b**e acelerado. Tão rápido que chega a doer. — E o que exatamente você quer comigo? — Só uma conversa entre... mulheres. Ela toma um gole do café dela como se fosse um vinho caríssimo. — Eu sei como ele pode ser encantador. Misterioso. Protetor. Mas também sei o que ele esconde. O que ele é capaz de fazer quando sente que está perdendo o controle. — Você veio até aqui só pra me assustar? — Não. Eu vim te alertar. Não estou aqui por ciúmes, Mirella. Estou aqui porque conheço o Vicent por dentro. Você ainda está encantada com o exterior. Ele não é um conto de fadas. Ele é uma guerra vestida de terno.Minha garganta seca. Meus dedos apertam a xícara. — Eu sei com quem estou lidando.Ela ri. Uma risada leve, como se eu fosse uma garotinha inocente. — Você acha que sabe. Ele me prometeu o mesmo que está prometendo a você: um mês. Um lugar ao lado dele. Uma vida cheia de promessas. E quando não aceitei certas... condições, ele simplesmente me apagou da vida dele. Mas eu nunca fui fácil de apagar.Ela se levanta, ajeita a bolsa e deixa um cartão sobre a mesa com um número e uma frase: "Quando o encanto acabar... me liga." Saio da cafeteria com as mãos tremendo. O telefone vibra. É ele. Vicent: “Onde você está? Preciso te ver.” Respiro fundo.Se isso é o começo do jogo... alguém esqueceu de me dar as regras...Vicentdia 12 Naquela manhã, algo no ar já me incomodava. A sensação de que estava sendo observado voltou. Era como se o passado estivesse se aproximando a passos largos, pronto pra cobrar cada escolha que fiz. E eu odeio ser surpreendido. Julian me entrega um envelope. — A mulher que você pediu pra investigar... reapareceu. — diz ele com cautela. — Qual mulher? Ele hesita. — Giulietta. Engulo em seco. Aquela mulher... a que quase destruiu tudo uma vez. Giulietta foi uma amante, uma aliada, uma bomba-relógio. Ela sabia demais e nunca aceitou o fim.Abro o envelope. Fotos dela andando perto da universidade. Coincidência? Não. Isso é um recado.Antes que eu possa processar, outro problema entra pela porta do meu escritório. — Primo. diz ele, com um sorriso cínico. Marco Mangano. Filho do irmão do meu pai. Crescemos juntos, mas enquanto eu lutava pra manter o império com honra, ele sempre quis o atalho. Invejoso. Imprevisível. Ardiloso. — Soube que você anda distraído... por causa
Vicentcontinuação....Eu a observei entrar, com os olhos brilhando em um mix de confusão e força. Mirella sempre foi difícil de ler, mas hoje... ela estava quebrada. Não fisicamente, claro. Não há nada que um pouco de maquiagem e uma postura firme não escondam. Mas algo na sua essência estava agitado, algo que me fazia querer correr até ela e protegê-la. Ou afundar ela ainda mais nesse inferno.— Preciso falar com você. Eu disse, entrando sem esperar.Ela franziu a testa, claramente não esperava por mim ali. Isso me deixou ainda mais irritado. Não havia mais espaço pra joguinhos, mais tempo pra protocolos. Eu precisava saber onde estava com ela. Não ia mais permitir que ela se afastasse, não depois de tudo o que fiz pra trazê-la pra perto.A tensão no ar era quase palpável. Me sentia como um animal em uma jaula, preso entre o desejo de correr pra longe e a necessidade desesperada de tomar o controle da situação. Mirella, no entanto, não parecia disposta a me deixar tão fácil.— Você
Mirelladia 14Hoje o dia amanheceu nublado, e talvez o céu só esteja refletindo o que se passa dentro de mim. Uma confusão de sentimentos que me envolve como uma neblina espessa, sufocante. Eu deveria estar estudando, focada na residência, mas minha cabeça não consegue se desprender dele… do Vicent.O homem que me bagunça por dentro.O homem que me atrai e, ao mesmo tempo, me assusta.O homem que carrega nas mãos tanto o poder de me elevar quanto de me destruir.Eu não sei o que esperar dele. Depois da nossa conversa, eu fiquei com um nó no peito que não consigo desfazer. Giulietta apareceu como um fantasma do passado dele, um aviso talvez. Uma mulher marcada, ferida. Linda, perigosa… cheia de veneno na língua.Ela não me ameaçou diretamente. Ela usou palavras doces, delicadas, quase piedosas. Mas o que ela fez foi muito mais cruel , ela plantou a dúvida em mim. Me fez questionar tudo.E agora essa dúvida cresceu… como erva no meu coração.Mas o que me deixou ainda mais em pedaços foi ve
Vicent dia 16 Ela dorme ao meu lado. Seus cabelos caem sobre o travesseiro como uma moldura suave e bagunçada. E, pela primeira vez em muito tempo, eu não sinto o peso do mundo nas costas.Sinto paz.Não deveria. Eu sei disso. Estou me expondo. Baixando defesas que levei anos pra construir. Mas essa mulher... essa garota da Rocinha com olhos de coragem e alma de tempestade, ela me desarma. Me tira da rota. E ao invés de me perder... eu me encontro nela.Deslizo meus dedos pelo braço dela, devagar, como se qualquer movimento em falso fosse acordá-la ou pior, fazê-la sumir. Porque agora... agora eu tenho medo. Medo do que estou sentindo. Medo de que ela descubra o quanto está no controle sem nem perceber.Eu, Vicent Mangano, herdeiro da máfia italiana... estou apaixonado. E isso é perigoso. Ela se remexe, os cílios tremem, mas não acorda. Um sorrisinho surge nos lábios dela. Está sonhando. Quero acreditar que é comigo. Não consigo resistir. Me aproximo mais, beijo sua testa e respiro o
Mirella dia 18 A casa era como um cenário de filme. Lareira acesa, cheiro de madeira queimada e o som distante das ondas quebrando nas pedras. Mas nada disso me prendia mais do que o olhar dele. Vicent me observava em silêncio, como se cada movimento meu fosse parte de algo que ele já esperava há tempos.— Gosta de vinho? ele perguntou, enquanto abria uma garrafa com as mangas da camisa dobradas até os antebraços. O jeito que ele fazia até o mais simples dos gestos era absurdamente sexy.— Gosto... mas não sei escolher. admiti, me sentando no sofá com uma manta leve sobre as pernas. Ele serviu as taças, caminhou até mim e me entregou uma.— Só precisa confiar em mim. disse, se sentando ao meu lado. — Aliás, isso vale pra mais do que o vinho.Bebi um gole e deixei o olhar se perder no fogo da lareira. A tensão entre nós não era mais uma barreira, era uma corda invisível nos puxando, centímetro por centímetro, um pro outro.— Você ainda acha que não se encaixa no meu mundo? ele pergun
Vicent Voltei antes do previsto, o sol ainda estava alto quando estacionei a SUV em frente à casa. A fumaça da lareira ainda dançava pela chaminé, e o cheiro de café recém-passado me atingiu assim que abri a porta. Por um segundo, tudo parecia calmo. Quase normal. Mas nada no meu mundo era normal. Mirella estava na cozinha, de costas, usando uma camisa minha uma azul escura. Longa o bastante pra cobrir as coxas, mas curta o suficiente pra me distrair mesmo depois de tudo o que tinha acontecido.Ela se virou ao me ouvir, os olhos se iluminando antes de franzirem um pouco. — Achei que só voltaria à noite. — Resolvi encurtar o caminho. Tinha coisa demais latejando na minha cabeça . respondi, tentando manter o tom leve. Me aproximei, puxando-a pela cintura. Ela não recuou, mas também não se derreteu como antes. Havia perguntas nos olhos dela. Desconfiança misturada com desejo. — Essa "coisa" que você foi resolver… deu certo? ela perguntou, os dedos tocando de leve meu peito, com
Vincent continuação... Assim que a porta se fechou atrás de Marco , o ar pareceu perder o oxigênio. Eu sabia que ele faria isso. Que chegaria até ela. E mesmo sabendo, fui lento. Fui ingênuo em pensar que poderia protegê-la apenas com meus braços. Quando voltei pra sala, encontrei Mirella de pé, imóvel, mas com o olhar carregado. Ela sabia. Ela sentiu. A dúvida estava em cada músculo do rosto dela. E isso me atingiu mais do que qualquer golpe. — Quem era aquele homem? ela perguntou, firme, decidida. Sem hesitar. Desviei o olhar. Não por fraqueza, mas por vergonha. Eu não queria que ela visse esse lado ainda. Queria mais tempo. Queria dar a ela só o que era bom. Fui até o bar e servi um copo de uísque. A bebida queimou na garganta, mas não tanto quanto o que estava por vir. — Vicent, olha pra mim. a voz dela soou como um apelo. — Eu mereço saber com o que estou lidando. A encarei. Ela estava linda até mesmo no confronto. Forte. Determinada. A mulher que eu jamais deveria te
Mirella A voz dela me atingiu como uma facada sorrateira. "sou a ex que ele nunca esqueceu." Por dentro, meu coração disparou. A garganta secou. A imagem deles dois, tão próximos, tão... íntimos, fez algo dentro de mim estremecer. Mas por fora? Gelo. Dei um passo a frente, mantendo o queixo erguido, o olhar firme como meus pais me ensinaram desde de sempre . Analisei ela da cabeça aos pés , como quem estuda um inimigo. Alta, segura, vestida como quem sabe que é bonita e perigosa.Não seria eu quem abaixaria os olhos primeiro. — Ex, é? perguntei, com um sorriso frio nos lábios. — Deve ter doído perder um homem como o Vicent. Ela arqueou uma sobrancelha, surpresa com a minha calma. — Doeu. Mas não tanto quanto vai doer em você... quando ele fizer com você o que fez comigo , ele me fez promessas assim como faz com você e depois de apaixonada ele me largou e agora a história se repete mas com você. Senti o sangue gelar. Mas respirei fundo e mantive o controle. Eu já tinha passado por