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Um Filho, Um Marido E Nada de Amor
Um Filho, Um Marido E Nada de Amor
Por: Sayaka Cutrim
Capítulo 1: Sete Meses de Gravidez

O calor parecia consumi-la por dentro, como se cada parte de seu corpo estivesse sendo tocada por fogo vivo. Era um incêndio silencioso, denso, que queimava sob a pele, igual à lava de um vulcão prestes a explodir. E a única forma de aliviar aquela febre interna estava bem ali, à sua frente.

O toque de um homem.

Sem pensar, Amara deixou que seus dedos se agarrassem à pele fria daquele desconhecido. Não era desejo. Não era amor. Era sobrevivência. Como se seu corpo gritasse por socorro e ele fosse a única saída.

A dor se misturava ao prazer, num ritmo lento, hipnótico, que se intensificava como fogos de artifício estourando no céu escuro da sua mente. Ela flutuava, subia e descia, perdida num mar quente, sem forças para lutar contra aquela correnteza.

— Ei... acorde. Está sentindo esse frio? Pode acabar pegando um resfriado.

Um toque leve no ombro a fez abrir os olhos, ainda meio sonolenta. A luz branca da sala a cegou por um instante, e a imagem da enfermeira surgiu, trazendo-a de volta à realidade.

Amara piscou algumas vezes, tentando compreender onde estava. O rosto corado denunciava o que se passava em sua mente segundos antes. Como se tivesse sido pega no meio de um sonho que jamais deveria ser contado.

Mesmo depois de tanto tempo, aquela noite...

Aquela única noite com Asllan Imbrósio...

Ainda invadia seus pensamentos com a força de uma tempestade.

Ela estava embriagada demais para se lembrar dos detalhes. Tudo era um borrão. Mas o calor, o descontrole e a sensação de entrega ainda moravam dentro dela — mesmo que escondidos sob camadas de vergonha e silêncio. E era esse silêncio que mais a incomodava. Ter que encarar Asllan, sabendo que ele jamais saberia o que aquilo significou para ela... ou o que aquela noite deixou como consequência.

A enfermeira estendeu-lhe alguns papéis.

— Você esqueceu os resultados dos exames da gravidez. O doutor Zhang pediu para que retorne na próxima semana.

Gravidez.

Aquela palavra, embora já não fosse nova, ainda causava um aperto no peito de Amara.

Ela agradeceu com um sorriso tímido, guardou os papéis com cuidado na bolsa e se levantou. Seus passos seguiram o caminho até a saída do hospital, mas sua mente... sua mente já estava longe dali.

Depois de meses sumido, Asllan estava voltando ao país.

Só de pensar nisso, o estômago dela se revirava. Era um misto de ansiedade, medo e esperança.

Ele sabia da gravidez, sim. Mas o olhar dele, ao descobrir, ainda era uma ferida fresca na memória dela. Ele tentara disfarçar o impacto, usara palavras suaves, até carinhosas... mas Amara conhecia aquele olhar. Ele não estava pronto. Talvez nunca estivesse.

O médico havia dito:

"Homens demoram mais para se conectar com a ideia de serem pais."

Mas, no fundo, ela não sabia se queria aceitar isso como desculpa.

Porque a verdade que ela evitava encarar era simples e dolorosa:

Ela estava fazendo tudo sozinha.

O sol queimava forte quando Amara saiu do hospital. Levou a mão à cintura dolorida, tentando aliviar a pressão, e acenou para um táxi. Mas antes que o carro amarelo se aproximasse, um esportivo vermelho cortou a rua feito raio, freando com violência a poucos centímetros de sua roupa.

Ela recuou num sobressalto. O barulho dos pneus ainda ecoava em seus ouvidos quando a porta do carro se abriu.

Vestindo um vestido vermelho justo que abraçava suas curvas com arrogância, Melissa desceu do veículo como se estivesse numa passarela. Os saltos altos batiam contra o asfalto como martelos. O sorriso que ela carregava era puro veneno.

— Assustada? — perguntou com desprezo. — Está com medo de que eu tire de você o bastardo que carrega no ventre?

O corpo de Amara gelou. Instintivamente, levou as mãos à barriga, dando um passo para trás.

— Melissa, não ouse cruzar esse limite!

— Limite? — Melissa soltou uma risada seca e cruzou os braços. — Você veio falar de limites justo comigo? A que dormiu bêbada com um estranho, engravidou, e agora quer forçar o Asllan a vestir a máscara de pai perfeito? Parabéns, Amara. Um espetáculo digno de aplausos.

As palavras cortavam como lâminas. Amara congelou, sem ar, sem reação.

— Você não sabe do que está falando! Ele é meu namorado — retrucou, num fio de voz.

Melissa se aproximou até seus rostos quase se tocarem.

— Acha mesmo que o homem daquela noite era o Imbrósio? Não seja tão tola. — Seus olhos brilharam de crueldade. — Ou melhor… reconheceu o corpo dele naquela noite? Reconheceu mesmo?

O chão pareceu escapar sob os pés de Amara.

Sim, ela havia notado algo estranho. Havia se convencido de que Asllan tinha mudado, amadurecido. Que o corpo dele não era o mesmo porque o tempo havia passado. Mas agora... agora tudo fazia sentido de uma maneira que doía.

Melissa sorriu com desdém, saboreando cada segundo.

— Vou ser direta, irmãzinha. Coloquei algo no seu vinho. Só por diversão. E arranjei dois homens para satisfazer sua sede de aventura. Mas você... você foi além do que eu esperava. Entrou no quarto de um completo desconhecido... e sem cerimônia nenhuma. — A voz dela era veneno puro. — Imbrósio foi gentil demais ao te poupar da verdade. Apenas confirmou que era ele naquela noite.

O mundo girava. As palavras de Melissa pesavam como pedras em cima do peito de Amara. Ela sentia o sangue ferver e as mãos tremerem.

— Por que você fez isso comigo? — gritou, segurando com força o pulso da irmã. — Por quê? Você já não me machucou o suficiente?

Melissa, por um instante, demonstrou raiva. Mas ao olhar por cima do ombro de Amara e ver quem se aproximava, seu rosto se transformou como o de uma atriz ensaiada. Suavizou a expressão, baixou o tom da voz, e deixou escapar uma falsa tristeza.

— Irmã mais velha... eu sei que errei. Se quiser gritar, bater, faça isso comigo. Mas não culpe o Imbrósio...

O coração de Amara quase parou. Ela se virou lentamente... e encontrou os olhos frios de Asllan encarando a cena.

Antes que pudesse explicar, Melissa se jogou no chão num gesto teatral, como se tivesse sido empurrada.

— Asllan! — gritou ela, soluçando com lágrimas ensaiadas. — O que você está fazendo aqui?

Amara mal conseguiu se mover. Estava paralisada.

— Amara, o que foi que você fez? — a voz dele era gélida, decepcionada.

Ela o viu passar direto por ela. Viu ele se ajoelhar e segurar Melissa com cuidado, como se estivesse protegendo algo precioso.

— Amor, você está bem? — perguntou, ignorando por completo a dor nos olhos de Amara.

— Sim... só me preocupo com minha irmã — murmurou Melissa com doçura, apoiando-se no peito dele como se fosse o lugar mais seguro do mundo. — Eu só queria ajudá-la... mesmo sem saber como.

Amara não aguentou. Estava sufocando por dentro.

— Asllan... você sabia de tudo isso? — perguntou, a voz quebrada.

Ele abaixou os olhos, respirou fundo e então desabafou. Contou sobre a infância que viveram juntos, sobre o carinho que sentia por ela... mas também falou sobre Melissa. Explicou como se apaixonou por Melissa, como tentou negar os sentimentos, e como se sentia perdido desde que descobriu a gravidez de Amara.

— Espero que entenda... me desculpe. Mas eu não posso me casar com você, Amara. Não por causa daquela noite... nem dessa criança. Mas porque não quero mentir para mim mesmo. Não quero decepcionar Melissa.

Foi como ouvir sua sentença final. Amara ainda tentou reagir, mas não havia mais espaço. Melissa havia tirado tudo dela. Sua história, seu lugar, e agora... o homem que ela amava.

Sem dizer mais nada, virou-se e caminhou em direção à rua, com o coração sangrando.

Quando pisou na faixa de pedestres, o som de pneus cantando no asfalto cortou o ar. Houve um grito. Um impacto.

Seu corpo foi lançado no ar.

Tudo ao redor girava, mas dentro dela, o tempo parou. Rostos conhecidos corriam em sua direção, mas pareciam distantes. O sangue escorria pela testa, quente e espesso. A visão ficou turva.

As vozes ao redor se confundiram...

E, então, tudo escureceu.

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