Helena Narrando...
O silêncio da cobertura parecia ter vida própria. Desde o café da manhã, aquele clima de contenção pairava sobre mim. Lorenzo não falou muito, mas quando falou, foi o suficiente pra deixar claro o tipo de homem que ele era: metódico, controlado, frio… e acostumado a ditar regras.
Ainda assim, não me permiti ceder.
Nem a ele, nem à sensação de estar sendo engolida por um universo que não me pertence.
Mantive a postura o tempo todo — mesmo quando ele deslizou aquele envelope sobre a mesa, com o divórcio já redigido, as condições friamente calculadas, e um número no final que, pra qualquer outra pessoa, pareceria irresistível. Mas pra mim, tudo aquilo tinha um gosto amargo. Era como se ele tentasse comprar o direito de me esquecer antes mesmo de eu existir de verdade.
Seis milhões de euros.
A quantia ecoava na minha mente como uma provocação silenciosa.
Mas o que ele não entendeu é que não há cifra capaz de pagar a dignidade de alguém.
Eu não me vendi.