Judith
— O que significa isso, Judith?
O olhar de Thomas está fixo na foto que deixei largada em cima da cama de casal e juro que o fato de o ver tão apreensivo me deixa desestabilizada. Eu não devia me incomodar com seus sentimentos, mas desejei que de alguma forma ele não se importasse com isso… com ela… com esse passado. É tão eloquente e tão absurdo. Eu mergulhei de cabeça em um relacionamento de mentira e agora estou com ciúmes de uma defunta.
Patético, Judith Evans.
— Eu falei com o Adam — digo, sem tirar os meus olhos dos seus.
— Eu sei.
— Imaginei que sim. É por isso que está aqui, agindo feito um pavão com sua calda exuberante aberta para mim.
— O que?
— Parece que você toma conta do cômodo inteiro quando se acha o dono da verdade.
Suspiro cansada.
— Ela estava morta, Judy — confessa entre soluços. Então ele respira fundo e se recompõe, afastando-se um pouco para olhar nos meus olhos. — Eu levei um tempo para absorver a minha dor e entender o que havia acontecido. E quando os policiais chegaram informaram que ela havia escorregado e que bateu com a cabeça. Mas… não foi a pancada que a matou.— O que então?— Ela ficou desacordada por tempo demais na água. Então ela…— Merda! Me desculpa, Thomas! Eu não devia…— Eu dormia tranquilamente, enquanto o amor da minha vida morria. Então importa o quanto eu diga que não a matei. Porque sim, eu fui o culpado.— Foi um acidente.— Não importa. Eu deveria estar cuidando dela. Mas me deixei levar pelo cansaço e ela se foi. — Mais lágrimas se derramam e ele me lança
Thomas— Thomas, querido! — Sua voz parece ter espinhos, que penetram os meus ouvidos e rasgam os meus tímpanos, trazendo um incomodo sufocante a minha garganta.Não é possível! Penso ainda sem acreditar na sua visão completamente exuberante e intacta. O seu perfume ainda é o mesmo. Constato. O seu toque suave, não mudou. O seu olhar ainda é meigo e cheio de brilho. E o seu sorriso? É como se o tempo tivesse voltado. Um retroceder agonizante que me prende contra a minha própria vontade. Logo a minha mente fica nublada e a visão de um corpo boiando dentro de uma piscina preenche a minha visão. Lembro-me da dor que rasgou ao meio naquela manhã. Dos meus gritos ecoando dentro dos meus ouvidos pedindo ajuda. Suplicando que a salvasse, que a trouxesse de volta para mim. O medo e a escuridão se desprendiam, abraçava-me tão forte, a ponto de roubar o meu
— Quando exatamente vocês trocaram?— Um mês depois do nosso casamento.Impactado, algo se passa pela minha cabeça. Eu havia me apaixonado pela garota estranha que não era a minha esposa. Por isso uma mudança tão brusca. Da noite para o dia Rebecca tornou-se de uma mulher arrogante em um ser de plena doçura.— Que porra, ela estava grávida! — lamento, soltando uma respiração audível pela boca.— Não se preocupe. O bebê não era seu. Rebecca Swan estava prestes a se casar. Ela descobriu a gravidez e estava se preparando para contar tudo para o… como devo dizer? Futuro noivo? Futuro marido?— O que você disse? — A voz de Adam preenche o cômodo em um rompante nos fazendo olhar na direção da entrada.O olhar perplexo do rapaz a fitava em um misto de raiva e de incredulidade.
Thomas— Judith? — A chamo ofegante, assim que adentro o nosso quarto, mas para a minha decepção o encontro vazio. — Judith? — Volto a chamá-la quando abro a porta do banheiro, mas ela também não está lá.Perturbado, volto para o quarto e ligo para ela. Nada. A ligação persiste até cair na caixa postal.— Merda! — xingo esperado e apresso os meus passos direto para a sala. — Vocês viram a Judith? — pergunto para as minhas irmãs, que ainda parecem confusas com toda essa situação.— Pensei que ela estivesse no quarto. — Josephine responde, enquanto as outras meneiam a cabeça em um não.Apavorado, tento mais uma ligação.— Merda, Judith! Atende essa droga.— Até que a garota não é tão burra. — Escuto a voz &aac
Thomas— Rebecca pode criar uma história para a mídia e transformá-lo em um vilão. Papéis, sepultamento. Você nunca contou para a mídia o que realmente aconteceu. A morte de Rebecca sempre foi uma pauta de curiosidades para aqueles abutres. E de repente essa mulher ressurge transbordando vida para todos os olhos curioso da Inglaterra. Entende o que eu quero dizer?Um calafrio se apossa do meu corpo e trêmulo, passo as mãos pelos meus cabelos.— Judith seria uma das pessoas mais atingidas nessa guerra.Engulo em seco.— Não posso aceitá-la de volta, Margareth — sussurro sôfrego. — Pensar em perder Judith é... como sucumbir ao inferno.— Então não a perca, querido. — A rainha diz com voz doce. — Descubra onde ela esteve. Vá até lá e faça a sua lição de ca
JudithComo você é burra, Judith!Quantas vezes falei que essa história de amor a destruiria? Quantas vezes repeti para nunca, jamais, em hipótese alguma se apaixonar?Aí você descobre essa droga de amor justamente quando o perde de vez.— Céus, já estou até me depreciando — resmungo sentindo a minha cabeça latejar pelas horas de lágrimas derramadas.Eu sou mesmo uma idiota.Ele é tão lindo!Tão envolvente.Tão...Era um acordo. Por que você não se atentou ao quarto adjacente? Por que tinha que aderir as sugestões daquele homem?Pego mais um lenço de papel e soou fortemente o meu nariz.— Você precisa parar de chorar. E precisa se levantar também.Ount, por que essa droga dói tanto?Me deixo cair na cama e encaro o teto do meu quarto. Tenho feito isso por horas, na esperança de que exista alguma saída para toda essa turbulência que estou sentindo.— Pare com isso! — falo mais forte. — Enxugue suas lágrimas. No fundo foi melhor assim. Ele lá com o amor da sua vida e você sem amor nenhu
Judith— Não sei se consigo ficar longe de você. — Thomas diz de repente, quebrando o silêncio do meu quarto. Confusa, me viro de frente para ele.— Como assim? Por que teria que ficar longe?Ele respira fundo, ficando de frente para mim.— Collin acha melhor eu ficar distante. Para não te atingirem. E eu concordo com ele.— Então, eu não posso ir para a sua casa? — inquiro baixinho.— Só até resolvermos essa situação.— Mas foi ela quem mentiu. Ela fingiu estar morta...— É mais complicado do que isso, querida. Eu estava tão quebrado com a sua morte que não quis dar entrevista sobre o caso. Não quis que o mundo a visse naquele estado.— Entendi. Ela pode te avisar de ter levado uma amante para a ilha.— Isso. E ainda, usar você para sujar ainda mais o meu nome. Isso renderia um escândalo para a coroa. E seria imperdoável.Suspiro.— Compreendo. E o Barão está certo. Ficaremos longe um do outro por enquanto.Thomas me lança um olhar de admiração.— Você é tão compreensiva — sussurra.
Judith“A fada madrinha tocou a Cinderela com a varinha e, num instante, seus trapos se transformaram em um lindo vestido de gala, todo bordado de prata e ouro. E assim que o príncipe a viu, ficou encantado e dançou com ela a noite toda. Todas as outras damas do baile olharam para ela admiradas com sua beleza. Mas a meia-noite, ao tentar fugir, como a fada madrinha ordenara, Cinderela deixou cair um dos seus sapatinhos de cristal. O que permitiu ao príncipe encontrá-la mais tarde."Por algum motivo lembrei-me de quando a minha mãe me contava histórias de fantasias. Naquela época me sentia uma criança, me via como uma criança. Eu era uma criança. Portanto, sonhava como tal. Mas quando tudo desmoronou simplesmente deixei de sonhar. Eu só… me esqueci como fazia isso. E Thomas trouxe essa possibilidade de volta.Sorrio, encarando as ruas de Londres, à medida que o carro corre pelo asfalto, levando-me para a editora. E quando fecho os meus olhos, juro que consigo ver o seu sorriso.— Chega