Olivia sempre viveu sob a sombra das expectativas de sua família tradicional e influente. Aos 26 anos, cansada das tentativas falhas de encontrar o amor e pressionada a manter a reputação da família, ela se encontra em um leilão beneficente, uma tradição anual dos Montenegro. Mas desta vez, algo inusitado acontece: ela é o item do leilão. Damien Carter é um empresário frio e calculista, conhecido por suas conquistas no mundo dos negócios, mas também por seu coração impenetrável. Quando vê Olívia naquele palco, surge a oportunidade perfeita: um casamento por razão. Ele não acredita no amor, mas precisa de uma esposa para garantir uma fusão multimilionária entre sua empresa e um conglomerado europeu - e Olívia parece a escolha ideal. Um casamento planejado para ser puramente racional pode resistir ao poder do destino?
Leer másCarl Sagan disse uma vez que, se quisermos fazer uma simples torta de maçã, precisamos inventar o universo. Sim, uma simples torta requer esse processo todo. Quando ele fala sobre inventar o universo, refere-se ao início de tudo. Todas as coisas que conhecemos na vida partem de um início. Mas, para que existam começos, é preciso que fins sejam declarados. O que fazemos, então, quando nos encontramos presos em um ciclo vicioso? Como quebramos esse ciclo de uma vez por todas?
Essa pergunta ecoa em minha mente sempre que estou diante de uma situação que exige uma resposta. Sinto que minha vida está presa nesse ciclo repetitivo: reclamar sobre o quanto sou controlada pelos meus pais e, no fim, ceder às suas imposições. Parece simples, mas há algo mais sombrio quando o que enfrentamos é uma relação de poder. Quando estamos à mercê de regras que não fomos nós que criamos, e cada tentativa de fuga é rapidamente sufocada. Eu costumava me refugiar no hipismo, a única coisa que me traz paz. Caraxes, meu cavalo, é o meu melhor amigo; o único que parece entender o que se passa dentro de mim. No entanto, até isso me foi arrancado hoje, quando recebi a mensagem da minha mãe, ordenando que eu voltasse para casa. O tom da mensagem não deixava espaço para questionamentos: "Imediatamente." O caminho de volta ao casarão foi silencioso. A cada quilômetro, eu sentia o peso das expectativas se acumulando em meus ombros. Senti um aperto no peito, um desejo de me rebelar, de virar as rédeas de volta ao clube e ignorar as demandas familiares, mas sabia que isso só traria consequências piores. No final, a obediência sempre vence. Chegando em casa, me vi diante das portas imponentes do salão onde minha mãe realizava mais uma de suas reuniões sociais. A cada passo, a pressão crescia. Ajustei minha postura e me preparei para mais uma performance. As botas de montar ainda estavam sujas de terra, e o cheiro de cavalo me envolvia como um escudo. Talvez isso fosse o suficiente para manter alguns daqueles olhares julgadores afastados. Respiro fundo, retiro o capacete e deixo-o sobre a cabeceira no corredor, desfaço o rabo de cavalo e finalmente empurro as portas. O som de risadas e conversas animadas cessa assim que entro. Pares de olhos se voltam para mim, avaliando, julgando. Houve um tempo em que isso me intimidava, mas aprendi a desenvolver uma espécie de armadura. Nada pode me atingir se eu não permitir. Ergo o queixo e caminho com confiança até sentar-me ao lado de Ofélia, minha irmã gêmea. Ela e eu temos o mesmo rosto, mas as semelhanças acabam aí. Nascemos morenas, com olhos verdes penetrantes, marcas de nossa ascendência. Essas características nos tornavam quase idênticas, ao menos aos olhos dos outros. Mas isso mudou. Tingir meu cabelo de loiro platinado e usar lentes castanhas foi meu primeiro ato de rebeldia, minha tentativa de escapar da sombra de Ofélia e das expectativas sufocantes da nossa mãe. Agora, enquanto Ofélia exibe com orgulho os cabelos escuros e os olhos verdes perfeitos, eu sou a gêmea “diferente”. — Olívia querida, fico feliz que tenha decidido juntar-se a nós. A voz de Rebeca, uma das amigas da minha mãe, ecoa pela sala. Há algo de superficial no jeito que essas mulheres falam, como se cada palavra fosse cuidadosamente escolhida para manter as aparências. — Eu nunca perderia essa oportunidade. É sempre uma honra estar na companhia de todas vocês Respondi com um sorriso ensaiado. Minhas palavras são calculadas, automáticas. Não estou realmente aqui. Estou presente de corpo, mas minha mente vagueia. Eu observo a sala, as interações, e me pergunto como essas mulheres conseguem se prender tanto a essa vida. — Olívia, estás a cheirar a fezes de cavalo. Ofélia sussurra para mim, com aquele tom que só ela sabe usar, entre a provocação e a superioridade. — Isso te incomoda? Pergunto, sem olhar para ela. — Muito. — Fico feliz em saber disso. Agora, não preciso me esforçar tanto para te irritar nas próximas horas. Ofélia me belisca discretamente, e sinto meu sangue ferver. O toque, a provocação, tudo isso me deixa à beira de perder o controle. Em um impulso, esfrego minha bota suja na barra do seu vestido antes que ela possa reagir. O movimento é rápido, mas satisfatório. Antes que nossa troca silenciosa possa se transformar em algo maior, a voz da minha mãe ecoa pela sala, chamando a atenção de todos. — Como sabem, amanhã é o nosso leilão beneficente — Ela começa, com o tom solene que usa sempre que quer parecer a matriarca perfeita. — A família Montenegro mantém essa tradição há gerações, e cabe a nós continuar com esse legado. A reunião segue com diálogos previsíveis sobre o evento. Eu mal presto atenção, até que minha mãe j**a a bomba. — Ofélia e Olívia serão a atração principal. Ela anuncia, e vejo o rosto de Ofélia se iluminar. Ela adora ser o centro das atenções. Eu, por outro lado, sinto um nó se formar no meu estômago. — Posso recusar o convite? Pergunto, já sabendo a resposta. — Oh, você não pode escapar dessa, querida sobrinha A voz da minha tia Alice corta o ar como uma lâmina. Seu tom é sempre impregnado de um certo desprezo, especialmente quando se refere a mim. Reviro os olhos. Não é só a perspectiva de ser exposta que me incomoda, é essa dinâmica familiar sufocante, onde ninguém parece ouvir ou ver quem eu realmente sou. Quando a reunião finalmente termina, estou pronta para sair o mais rápido possível, mas a voz da minha mãe me paralisa no meio do caminho. — Você não pode negar quem é, Olívia. Volte ao seu cabelo natural. Chega de rebeldia. — Você quer que eu seja como Ofélia, não é? Respondo, a voz carregada de frustração. — Só quero o melhor para você. A sua vida seria mais fácil se… — Se eu fosse a versão da sua filha perfeita Interrompo, deixando claro o quão pouco suas palavras significam para mim. Saio da sala com passos pesados, sentindo o peso de cada expectativa que minha mãe tenta impor. Cada passo é uma luta para não me afundar completamente nesse papel que ela criou para mim.A casa dos sonhos de Olivia e Damien era tudo o que um dia imaginaram, e talvez até mais. Situada em uma região tranquila, cercada por árvores frondosas e um extenso jardim colorido, o lar que construíram era cheio de vida e significado. Cada canto parecia contar uma história, cada detalhe carregava um pedaço do amor e da luta que os uniu. No jardim, os gêmeos Ian e Matteo corriam descalços, rindo alto enquanto perseguiam um ao outro. Ian, o mais destemido dos dois, liderava a brincadeira, fingindo ser um aventureiro em busca de um tesouro. Matteo, por outro lado, preferia observar antes de agir, mas nunca ficava muito atrás do irmão. — Matteo, rápido! O dragão vai pegar você! — gritou Ian, segurando um pedaço de graveto que imaginava ser uma espada. — Não! Eu sou o dragão, e você tem que correr! — Matteo respondeu, com as bochechas coradas de tanto rir. Enquanto os dois disputavam quem era o herói e quem era o vilão da brincadeira, Damien estava sentado em uma espreguiçadeira na
Eu segui Ofélia até a biblioteca em completo silêncio. Meu coração estava inquieto, mas minha mente estava ainda pior, completamente tomada por pensamentos desconexos. O que eu poderia dizer a ela? Como começar uma conversa que parecia impossível de se ter? A verdade era que aquela era a primeira vez, em anos, que tínhamos um momento de interação sem gritos, acusações ou olhares carregados de desprezo. A biblioteca era um ambiente silencioso e acolhedor, mas naquele momento o ar parecia pesado. As altas estantes repletas de livros formavam corredores intermináveis, e o cheiro de papel antigo se misturava ao perfume sutil que Ofélia usava. Assim que entramos, ela se dirigiu a uma cadeira próxima à janela, sentando-se de forma casual, como se tentasse não demonstrar a tensão que claramente sentia. Eu, por outro lado, me sentei na cadeira em frente a ela, ajustando a barra do meu vestido com dedos trêmulos. Sua expressão era difícil de ler. Os olhos dela, tão semelhantes aos meus, pare
Assim que Olivia me enviou uma mensagem dizendo que estava voltando para casa, senti um alívio imediato. Tentei me concentrar no trabalho, mas fui interrompido por uma ligação do segurança da casa. Atendi, e o que ouvi me fez perder completamente o controle. — Não deixem ela entrar. Tirem-na daí antes que minha esposa veja — ordenei com firmeza. Eu havia sido claro: ninguém deveria perturbar Olivia. Mesmo tentando focar no trabalho, uma inquietação crescia em mim, tornando impossível permanecer no escritório. Decidi sair mais cedo, ainda que houvesse muito a ser feito. Olivia era minha prioridade. — Parks, envie o restante do trabalho para mim. — Avisei, já me dirigindo à saída. Entrei no carro e dirigi o mais rápido que pude até a casa. Assim que cheguei, o silêncio absoluto me envolveu. Subi as escadas até o nosso quarto e a encontrei sentada no chão. Olivia usava uma camisola branca longa, o cabelo solto caía sobre os ombros, e seu olhar estava perdido no vazio. Um cheiro sutil
Não sei por quanto tempo fiquei sentada no carro, as mãos no volante, os olhos fixos no prédio do escritório de advocacia. O céu começava a nublar, e as pessoas passavam apressadas pela calçada, mas tudo parecia estático para mim. O peso de tudo que estava acontecendo na minha vida parecia ter me paralisado.Fechei os olhos e respirei fundo. Eu precisava me recompor. Precisava ser corajosa. Peguei as marmitas que preparei no restaurante e saí do veículo. Meus saltos ecoavam pelo piso brilhante do edifício enquanto funcionários conhecidos me cumprimentavam calorosamente, mas eu só conseguia murmurar respostas automáticas.No andar de cima, notei que a secretária do meu pai não estava em sua mesa. O silêncio no corredor parecia mais pesado do que o normal, mas continuei andando. Decidi que era melhor não esperar. Girei a maçaneta e entrei na sala.O que vi me fez congelar.Meu pai estava de pé, com uma mulher nos braços. Seus rostos estavam próximos, íntimos, e o beijo que eles comparti
— Ofélia, eu quero perguntar mais uma vez, e quero que tu sejas sincera. — Minha mãe me encarou, e sua expressão era quase impassível, mas seu olhar não mentia. Era evidente que ela estava controlando um furor interno. — Você realmente sabia onde a Olivia estava?Eu respirei fundo, tentando controlar a raiva que começava a se formar dentro de mim. Como ela podia ser tão cega? Como podia me fazer sentir a vilã, quando tudo que fiz, fiz para atender às expectativas dela?— Sério que tu vais perder o teu tempo a questionar-me isso? — Revirei os olhos, já sentindo a paciência esgotar. — Sim, eu sabia onde ela estava. Satisfeita?Minha mãe estremeceu, mas manteve o olhar fixo em mim, como se estivesse esperando uma explicação, uma desculpa. Eu podia sentir a tensão no ar, o peso das palavras não ditas, a dor de um relacionamento quebrado entre nós duas.— Como tu podes ser tão maldosa assim? Ela é tua irmã! Tu poderias ter… — A voz dela tremia, mas havia mais culpa nela do que raiva. Eu sa
Olivia dormia profundamente em meus braços na cama. O quarto estava totalmente escuro, exceto pela iluminação suave do luar que entrava pela janela. Sua respiração era calma e serena. Ela dormia tão tranquila que aquela era a imagem que eu mais desejava ver todos os dias. De algum modo, ainda não conseguia dormir. Estava irritado. A ideia de que Victoria, sendo mãe de Olivia, fosse tão maldosa com a filha, só porque ela tinha uma preferência clara pela Ofélia, me deixava intrigado. Como uma mãe poderia ser tão cruel a ponto de negar o amor ao próprio filho? Elas não mereciam nem metade do respeito e do zelo que Olivia tinha por elas. Ela havia decidido se sacrificar, lidar com seus próprios traumas, apenas para proteger quem mais a desprezava. Fiquei tão perdido em meus pensamentos que só fui despertado pela voz suave de Olivia. — Damien… ainda está acordado? — Shhh, você deveria estar dormindo, esposa. — Repreendi-a, olhando para ela, embora tudo estivesse ainda escuro. Mesmo as
Último capítulo