Tudo poderia ter sido perfeito depois que fui acolhida pela família Novack. Eles me trataram como uma igual, com carinho e respeito, e por um momento, a paz parecia possível. Mas o passado não se apaga tão facilmente - e Patrick não deixaria as coisas terminarem assim.Humilhado, escorraçado como um cão sarnento, ele fervilhava de raiva. Ninguém queria contratá-lo. Os olhares atravessados, os sussurros por onde passava... tudo o condenava. E na mente distorcida de Patrick, ele era a vítima. Ele não via erro em ter voltado a se aproximar de mim. Ao contrário - achava que eu merecia ser punida por ter cruzado novamente o seu caminho, como se a culpa fosse minha.E o que o corroía ainda mais era a dúvida. Aquela criança... não era possível que fosse filha de Noah. Eles tinham praticamente a mesma idade. Era do tempo em que ainda estávamos juntos. Isso o deixava inquieto. Incomodava-o porque, no fundo, ele sabia. Ele sabia a verdade, mas se recusava a admiti-la. Não queria pensar que pode
Eu deveria estar feliz. Deveria estar em paz. Meu trabalho era tudo o que eu sempre quis. E meu chefe - que também era meu namorado - era ainda melhor. Ele me tratava como uma rainha, com carinho, com respeito, com aquela intensidade silenciosa que só o Noah tinha. E minha filha... minha filha estava bem. Era incrível ver os dois juntos. Às vezes, parecia que Noah e Aurora se conheciam desde o dia em que ela nasceu. Ela corria até os braços dele com confiança, ria das caretas que ele fazia, e o som da gargalhada dos dois se espalhava pela casa, aquecendo até os cantos mais frios.Nosso jantar - ou sei lá o que aquilo foi - tinha sido perfeito. A família dele me acolhera com tanta leveza que até os comentários mais inusitados soavam engraçados. Era isso que eu queria pra mim. Pra nós. Uma família de verdade. Não como as do passado, quebradas e silenciosas, mas uma família unida, imperfeita na medida certa, e por isso mesmo perfeita pra mim.Mas, mesmo assim, tem algo apertando meu peit
A rotina começava, aos poucos, a voltar ao normal. O escritório era amplo, moderno, e carregava aquele silêncio cheio de ideias - o tipo de silêncio que pulsa criatividade. Noah estava na sua mesa digital, totalmente imerso no projeto. Os olhos brilhavam a cada novo comando, e seu entusiasmo era quase palpável. Ao lado dele, Sophia mantinha o mesmo foco, mas com uma leveza que só ela tinha. Era impossível não gostar dela. Inteligente, divertida, sincera até demais - do tipo que falava verdades rindo, e ainda assim deixava todo mundo confortável.Eu, sentada à minha mesa, com o cotovelo apoiado e a cabeça na mão, observava os dois em silêncio. Por um momento, me peguei sorrindo sozinha, perdida em pensamentos. Eu deveria mesmo agradecer. Por tudo. Pelo que a vida me trouxe... ou melhor, pelo que o destino me permitiu encontrar. Chamar de sorte seria pouco - parecia algo traçado com propósito. De alguma forma, Noah entrou na minha vida, e desde então tudo ganhou um novo sentido.Ele cui
Ninguém jamais poderia imaginar que algo assim pudesse acontecer. Tudo parecia estar sob controle. A segurança funcionava, a rotina seguia seu curso, e tanto Emma quanto Aurora estavam protegidas - ou ao menos, era o que todos acreditavam. Mas Patrick... Patrick sempre encontrava um jeito de atravessar a linha, de atazanar a vida de Emma como uma sombra que nunca a abandonava.Ele nem gostava da criança. Não queria saber da existência de Aurora, nunca a reconheceu como filha. Mas por algum motivo cruel, a ideia de tirar a pequena de Emma o fazia sorrir. Para ele, aquilo não era se reconectar com a filha. Era tortura. Um golpe cirúrgico no único ponto que ainda restava vulnerável em Emma: o amor de mãe.A lembrança daquele dia no shopping era como um punhal cravado em sua mente. Rosa, a babá de Aurora, estava atenta, como sempre. Inteligente, cuidadosa, dedicada à menina. Mas até os mais preparados têm seus momentos de distração.Patrick apareceu do nada, com o rosto limpo e o sorriso
Eu faria qualquer coisa para ter minha Aurora de volta. Qualquer coisa. Ela era o fio que ainda me mantinha viva neste mundo, o respiro que separava minha alma da rendição. Meu raio de luz em meio a toda a escuridão que Patrick deixou. Foi por ela que tomei coragem, ainda que minha coragem tenha sido fugir. Quando descobri que estava grávida, achei que não sobreviveria, mas bastou senti-la nos meus braços para entender o que era o amor. O verdadeiro.Agora, eu não sabia onde ela estava. Nem com quem. E isso estava me matando aos poucos. Patrick nunca suportou crianças. E eu sabia - no fundo, eu sempre soube - que tudo isso era apenas para me atingir. Ele achou o meu ponto fraco e cravou as garras nele. E eu estava aqui, vazia. Perdida.Não queria culpar Rosa. Ela não tinha má intenção, estava claro em seu rosto arrasado. Mas foi dela a responsabilidade de proteger minha filha. E ela falhou. Deixou Aurora nas mãos do pior homem do mundo. Mesmo sem conhecer Patrick, ela deveria ter sent
Aquela não era uma família qualquer. E Patrick descobriria isso muito em breve. Não era a primeira vez que algo parecido acontecia - e Samanta havia jurado que seria a última. Desde então, tomou todas as precauções possíveis para que ninguém da sua família voltasse a cair nas mãos de um lunático.Ela mal conhecia Emma e a pequena Aurora, mas já as carregava no coração como se fossem suas. Havia algo naquela mulher ferida e naquela menina inocente que tocava sua alma. Talvez fosse o modo como Emma despertara em Noah um amor tão verdadeiro. Ou talvez fosse a forma como aquela criança, com seus olhos curiosos e frágeis, havia trazido luz para dentro daquela casa que antes parecia grande demais para um homem tão solitário.Samanta viu a mudança em seu filho - e que mudança. Noah havia amadurecido. Tornara-se responsável, protetor, e finalmente parecia inteiro. Tudo por causa daquelas duas. E em apenas alguns minutos ao lado de Aurora, Samanta sentiu um amor arrebatador, como se aquela men
- Se dependesse de mim, nenhum dos meus filhos correria perigo - disse Samanta, ajeitando os últimos detalhes sobre a mesa. As malas cheias de dólares estavam posicionadas no centro da sala, enquanto todos os membros da família Novack se reuniam ao redor, tensos, como peças de um jogo prestes a ser movidas.Harvey foi o primeiro a desviar o olhar. A angústia em seu peito crescia por não poder contar nada à esposa. Ele sabia que, se ela descobrisse, faria qualquer loucura para se envolver, e convencê-la do contrário seria quase impossível. Ele estava morrendo de medo. Aquela era sua família, mesmo que não conhecesse pessoalmente a menina - ainda assim, desejava com toda a força que ela saísse ilesa daquilo tudo.Emma andava de um lado para o outro, descalça, os pés já doendo pelo atrito com o piso frio. A cabeça fervilhava com mil pensamentos, cenários catastróficos que insistiam em tomar forma. Ela mal prestava atenção na conversa entre Noah e Samanta, apenas ouvia vozes distantes, mi
Jamais imaginei que encontraria alguém que me amasse dessa forma - intensa, protetora, quase feroz. Alguém disposto a proteger a mim e à minha filha com unhas e dentes, mesmo contra o próprio pai dela... um homem que deveria, no mínimo, ser capaz de amar a própria filha. Fiz más escolhas no passado, e sim, me arrependo de algumas. Mas se essas escolhas me trouxeram até este momento, com a Aurora nos meus braços, vestida como uma pequena princesa enquanto eu estou de noiva, então talvez tudo tenha valido a pena.Depois daquele sequestro que quase destruiu o pouco de paz que eu ainda tinha, a família Novack nos acolheu como se já fôssemos deles. Não houve julgamentos. Nenhuma hesitação. No instante em que Aurora atravessou aquela porta, ainda atordoada, assustada, marcada por tudo o que passou com aquele traste... eles a amaram. E, aos poucos, ela também os amou. Um por um. Principalmente Harvey, que a olhava como se ela fosse realmente sua neta de sangue. E, de alguma forma, eu sentia