Capítulo 5 - A Travessia

Capítulo 5 

O portal apagou em seu último feixe intenso de luz espelhada, atrás de Igor.

Igor caiu de costa sobre a grama seca, respirando fundo, os músculos tensos pela sensação de que Chakay vai pular encima dele antes que o portal se feche totalmente. Quando se virou tranquilo com a certeza de que isso não iria acontecer, viu Valéria e Dihedra diante dele, esperava depois que atravessaram o véu que separava o mundo lycan do humano. O ar mudou de densidade, mais frio, seco, impregnado de cheiro urbano e de concreto, a poeira vinha ao vento e o som alto das cidades abaixo, tão diferente do silencio das florestas do mundo lycan.

Dihedra acordou choramingava, incomodada pelo ar áspero e pelo som distante de buzinas e motores, tão diferente da paz profunda das florestas de Drakaria.

O morro alto oferecia uma visão ampla da cidade abaixo, coberta por luzes artificiais, como um mar cintilante. Mas não havia tempo para contemplação.

Um grupo de homens vestidos de preto, imóveis como estátuas, já os aguardava. Os olhos brilhavam cintilando o tom vermelho sob o luar, fixos, disciplinados. Cada movimento calculado, cada músculo pronto para reagir.

Valéria apertou Dihedra contra o peito. — Igor… quem são eles? — a voz dela era baixa, trêmula, quase implorando por respostas.

Igor avançou um passo, a postura ereta, o cenho franzido. Ele reconhecia a rigidez da formação, mas algo ali lhe dizia que não eram inimigos.

Foi quando o líder avançou. Um rosto iluminado pela lua se destacou da sombra: alto, firme, olhar intenso.

Se afaste... — Igor falou em tom ameaçador.

Valéria estreitou os olhos, o coração disparado. — Você o conhece, espera para ser?

Lion tirou as luvas pretas lentamente, deixando à mostra as mãos calejadas. O gesto, simples, carregava um simbolismo de paz.

— Lion...Igor sussurrou, quase sem acreditar.

— Eu jamais deixaria você enfrentar isso sozinho, Igor. — A voz dele era firme, grave, com a autoridade de quem carrega segredos.

Igor deu um passo à frente, mas não relaxou. — Como conseguiu vir até aqui sem que Chakay notasse?

Um sorriso breve cruzou os lábios de Lion. — Inventei que precisava tratar de negócios na cidade dos alfas. Chakay acredita que estou resolvendo pendências do reino de Drakaria. Mas, na verdade, vim salvar meu amigo.

Valéria não conseguiu conter a desconfiança. — Salvar… ou condenar? — Ela ajustou Dihedra no colo e encarou Lion com dureza. — Como podemos ter certeza de que não é uma armadilha?

Lion sustentou o olhar dela com calma. — Porque eu sei o que significa perder tudo. E não vou deixar isso acontecer com vocês.

Um silêncio pesado caiu, quebrado apenas pelo vento que sacudia a poeira. Então Lion tirou uma pasta de couro de dentro do casaco. Abriu-a com cuidado, revelando documentos, papéis carimbados e três envelopes grossos.

Ele os estendeu para Igor. — A partir de agora, vocês não existem mais.

Valéria arregalou os olhos. — O que está dizendo?

Seus nomes morreram com o portal. — Lion encarou cada um deles com seriedade. — Vocês precisam sobreviver, e para isso precisam se tornar outras pessoas.

Igor pegou os envelopes, ainda desconfiado. Abriu o primeiro: documentos com sua foto, mas outro nome. John Carlos. A profissão estampada era surpreendente: especialista em tecnologia médica, criador de instrumentos cirúrgicos, sistemas e aplicativos hospitalares.

— John Carlos? — Igor repetiu, sentindo o peso da farsa.

Lion assentiu. — Você sempre teve habilidade para construir e pensar soluções. Aqui, no mundo humano, essa será sua máscara… e sua arma.

Igor inspirou fundo, tentando processar.

Lion estendeu outro envelope para Valéria. — E você, Mariana. Professora de Direito. Assistente direta do juiz Malik.

Valéria abriu o envelope com mãos trêmulas. Seus olhos verdes esmeralda faiscaram ao ver a foto dela sob outro nome, outra vida. — Mariana… — murmurou, quase sem reconhecer a si mesma. — E um juiz?

Malik é um aliado. — explicou Lion. — Um homem que entende os dois mundos, embora nunca tenha atravessado o véu. Ele vai protegê-la, mas você terá que se manter impecável. Não haverá espaço para erros.

Valéria olhou para Igor, o medo se misturando à coragem. . — Essa é a área que eu domino, não se preocupe!

Lion abriu o terceiro envelope e, com delicadeza, entregou-o a ela. — E a pequena Dihedra… não será mais Dihedra. A partir de hoje, ela é Camila.

Valéria sentiu o coração se apertar. Abraçou a filha contra o peito, lágrimas brotando. — Camila… — repetiu com dor. — Mas esse não é o nome dela.

Lion colocou a mão no ombro dela, firme. — Eu sei. Mas é o nome que vai mantê-la viva.

Igor desabafou com a expressão de injustiça. — Lion, você tem ideia do que estamos fazendo? Abandonar nossos nomes… nossa história…não é fácil!

Porém necessário Igor, estou pedindo que escolham viver. — A voz de Lion foi como uma pena descendo suave e abafada, intensa. — Nomes são apenas símbolos. O que importa é o sangue que corre em vocês.

Valéria ergueu o rosto, ainda molhado de lágrimas. — E se falharmos?

— Não vão, porque, então tudo terá sido em vão. — respondeu Lion sem hesitar.

— O povo a cidade de Drakaria precisa de vocês — acrescentou Lion.

Um silêncio de cortar a pele caiu sobre eles.

Um dos seguranças se aproximou e disse — Senhor Lion, o tempo está correndo e precisamos retorna a cidade dos alfas até ao amanhecer.

Lion virou-se par Igor e disse Sr.
John Carlos e sra. Mariana vamos vou leva-los a sua nova casa e suas novas vidas.

Lion fez um sinal para os homens de preto e disse para Igor. — Vamos. O carro está pronto. Então, saíram em direção aos carros.

Já com todos acomodados no carro, olharam em direção ao portal, assustados, o portal atrás deles vibrou de novo. A grama se agitou, e um feixe luminoso abriu-se como uma cicatriz no ar. Quatro vultos emergiram correndo, sombras deformadas pela pressa. Não olharam para os lados, não notaram a presença de ninguém. Apenas seguiram em fuga, descendo a montanha e sumindo entre as árvores.

Antes que dessem os primeiros passos, uma luz ecoou atrás deles. O portal, que deveria ter se fechado, voltou a se abrir em um clarão prateado em meio a escuridão da noite, que refletia o mundo dos lycantropos.

.

Igor girou o corpo, já em alerta. Valéria se enrijeceu em gesto de proteção, e Dihedra que ainda resmungada baixinho parou de repente, Lion avançou um passo, os olhos faiscando em desconfiança.

Do feixe de luz, surgiram quatro vultos indistintos. Apenas sombras de duas figuras altas, e 2 um pouco mais baixas, que atravessaram rapidamente o universo paralelo do mundo lycan para o mundo humano.

Valéria agarrou o braço de Igor.

São caçadores de Chakay! Ele já nos encontrou!

Lion manteve o olhar fixo, analisando em silêncio. Os vultos não perceberam o grupo; seguiram em outra direção, desaparecendo na escuridão da noite.

Valéria se sentiu aliviada e relaxou o braço que protegia Dihedra — Que agora, Camila em um abraço de carinho. — Quem eram eles?

Igor respirou fundo, ainda desconfiado. — Seja quem for... melhor não descobrir agora.

Lion assentiu com firmeza:

— Vamos sair daqui. Antes que seja tarde. — Lion observou com os olhos semicerrados. — Se vieram pelo mesmo portal… então não são amigos, a única certeza que temos é que são lycan.

Eles caminharam em silêncio até cinco veículos pretos estacionados à beira da estrada. Igor abriu a porta do banco traseiro para Valéria, que entrou com a filha no colo. Ele se sentou ao lado, ainda segurando os documentos falsos como se fossem a única esperança.

Lion tomou o assento da frente e virou-se para trás. — A partir de agora, cada palavra, cada gesto, cada detalhe importa. Vocês devem acreditar que são essas pessoas. John Carlos, Mariana e Camila. Se não acreditarem, ninguém acreditará, não devem considerar humanos seus amigos, neste mundo humanos, não existem lealdade. Não são confiáveis!

Valéria respirava mas tranquila, sabia que tinha que fazer isso por sua filha. — E se alguém me reconhecer? Suponho que não somos os únicos no mundo humano, já que vocês está aqui agora e retornará amanhã.

Lion encarou-a com dureza. — Então você sorrirá e dirá que se chama Mariana. Nada mais.

Igor passou a mão pelo rosto, exausto. — E Malik? Esse juiz realmente pode ser confiável, ele é um humano ou lycan?

— Pode! O pai dele é um lycan que se apaixonou por uma humana — respondeu Lion. — Mas ele exigirá lealdade absoluta, não vai ariscar a vida do seu pai no mundo lycan. Ele não protege ninguém sem propósito.

Valéria ergueu o olhar. — E o que acontece com Valéria, Igor e Dihedra?

Lion ficou em silêncio por um instante, o peso do mundo nos ombros. Depois respondeu, seco: — Eles morreram no portal.

O carro arrancou, deixando para trás o clarão apagado e as árvores que guardavam os quatro vultos misteriosos. A estrada serpenteava pela montanha, e as luzes da cidade se aproximavam, cada vez mais intensas, como se o novo mundo estivesse prestes a engoli-los.

Igor apertou o envelope contra a mão e olhou para Valéria. Ela chorava em silêncio, acariciando os cabelos de Dihedra — agora Camila.

Vamos sobreviver, e ter uma vida melhor do que a que tínhamos, não se preocupe seremos felizes aqui. — disse ele, com a voz firme, quase como um juramento.

Valéria fechou os olhos e sussurrou, resignada: — Então que Mariana seja forte, e darei o meu melhor para ser tão profissional quanto eu era em nosso mundo.

Lion observava tudo pelo retrovisor. Havia dor ali, mas também determinação. Ele sabia: aquela família estava prestes a enfrentar não apenas o mundo humano, mas também os fantasmas que os seguiam do outro lado do portal.

E, no fundo, uma pergunta queimava em silêncio entre eles: quem eram os quatro vultos que também haviam atravessado?

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