Ignorei a cena de intimidade deles e saí, fechando a porta atrás de mim.
Os funcionários que eu havia chamado já tinham chegado e ajudaram a colocar todas as minhas coisas no carro.
Quando cheguei na casa da minha melhor amiga, peguei o celular para responder algumas mensagens, mas a primeira notificação que apareceu foi do Instagram, Mirella tinha feito uma nova postagem.
[Doando as lembrancinhas da viagem que fiz com o meu chefe, para ver a aurora boreal.]
Na foto ela estava colada de rosto com Guilherme, ao lado de duas enormes caixas de encomendas. Nos comentários, os seguidores dela faziam piadinhas e elogiavam:
[U?! É chefe ou é marido?]
[Seu chefe é muito lindo! Ele te mima demais.]
[Fiquem juntos, fiquem juntos!]
Guilherme curtiu esse comentário, e Mirella respondeu logo em seguida com um emoji envergonhado.
Em pouco tempo, os seguidores dela explodiram.
No grupo de mensagens das empregadas da mansão do Guilherme, também apareceram várias mensagens de agradecimento:
[Obrigada, Mimi, por pensar na gente mesmo durante a viagem.]
[Não é à toa que ele é um presidente bilionário. Sempre tão generoso! Obrigada, Mimi.]
Na época em que eu morava com Guilherme, por ele ser muito seletivo com comida, e sempre se esquecer de comer por conta do trabalho, eu mesma criei esse grupo. Era uma forma de organizar tudo para que as empregadas cuidassem da alimentação e da rotina dele da melhor forma.
Mas, desde que Mirella entrou para o grupo, a distância entre eu e Guilherme começou a crescer, e até o grupo eu deixei de acompanhar.
Sem paciência de ler todas as mensagens, cliquei em "sair do grupo". No instante em que confirmei, uma lembrança me veio à mente, Guilherme também estava nesse grupo. Ele sabia qual tinha sido a minha intenção em criá-lo, e às vezes participava. Lá não estavam apenas informações sobre as preferências alimentares dele. Quando eu estava doente ou sobrecarregada com os estudos, ele também perguntava sobre mim. Nos nossos aniversários de namoro, ele mandava listas enormes de ingredientes, pedia que as empregadas comprassem e ele mesmo preparava os jantares à luz de velas para mim.
Mas tudo isso havia sido destruído por Mirella.
Ela era estabanada, derrubava o café dele, derramava meu leite quente, fazia tudo errado. No grupo, ela só sabia chorar e se desculpar, sem nunca mudar de comportamento.
No começo, Guilherme reclamava dela. Depois, passou a chamá-la carinhosamente de boba, limpando todos os rastros de seus erros. Houve um momento em que pensei em demiti-la.
— Mimi ainda é jovem. Só tem dezoito anos e já saiu de casa para trabalhar. Seja mais tolerante com ela. — Ele me impediu.
Uma vez, uma das empregadas reclamou que Mirella atrasava o serviço. Quando Guilherme soube, mandou a empregada embora na hora.
Fui eu quem ajudou essa mulher a encontrar um novo emprego, para que ela, mãe solteira de um recém-nascido, tivesse como sustentar seu bebê.
Naquela noite, quando desliguei a luz para dormir, percebi que ainda usava o anel de noivado. Tirei-o devagar, passando os dedos pelas marcas delicadas gravadas na superfície. Aquele anel tinha sido feito à mão por Guilherme. Mesmo sendo leigo, ele decidiu aprender do zero apenas para fazer a minha aliança. Seus dedos ficaram feridos diversas vezes até, finalmente, conseguir gravar, de forma torta e tremida, as nossas iniciais no interior do anel.
— Este anel é a minha promessa para você. — Disse, ele. — Clarinha, use este anel e eu prometo que a nossa união será para vida toda. Nós dois ficaremos juntos para sempre.
Agora, as promessas ficaram para trás, e o amor se rompeu.
Chamei um serviço de entrega e mandei devolver o anel. No mesmo momento, meu pai me enviou as informações detalhadas sobre o meu novo pretendente. Decidimos que a cerimônia seria em uma semana.
Na manhã seguinte, logo cedo, Guilherme apareceu na porta da casa da minha amiga. Assim que abri, ele me olhou aflito.
— Clarinha, por que você me mandou o anel? — Perguntou. — Quer terminar comigo? Só por causa daquela besteira de ontem?
— O anel não me serve mais. — Respondi, olhando para ele com calma.
Guilherme percebeu o exagero em seu tom.
— Desculpa, é que fiquei nervoso quando vi que você devolveu o anel. — Ele abaixou a voz, pedindo desculpas. — Da próxima vez, pelo menos me manda uma mensagem explicando.
Não me dei ao trabalho de ouvir suas explicações. Também não queria lembrá-lo de nada, nem de que, no dia em que ele viajou com Mirella para ver a aurora, me deixou esperando quatro horas na loja de vestidos, enquanto minhas mensagens eram ignoradas até que ele me bloqueou em todas as redes sociais.
O homem diante de mim já não era o meu noivo que só tinha olhos para mim.
— Esta é a casa da minha amiga. Se não tem mais nada pra dizer, vá embora.
Virei-me para fechar a porta, mas ele me puxou com força para dentro de seus braços.
— Não tem problema se o anel de noivado não te serve mais. De qualquer forma, nós teremos as alianças de casamento. Eu faço outro para você. Quanto a prova do seu vestido... eu não consegui ir da última vez, mas já marquei um novo horário. Amanhã iremos juntos, está bem?
Ele falava com tanta seriedade, como se realmente enxergasse nosso futuro como algo precioso.
Por um instante, quase me deixei abalar. Até que vi, na lateral do pescoço dele, uma marca de beijo. E o aroma do abraço dele não era o meu perfume. Era o da Mirella.
É isso. Como aquele homem poderia falar em amor verdadeiro se jogou fora um noivado de dez anos para agradar outra mulher?
Afastei-o, sorrindo friamente.
— Amanhã a gente conversa sobre isso. — Respondi.
Guilherme, como você pode ter tanta certeza de que eu ainda vou me casar com você?