— Você vai viajar? — Ele me perguntou de repente.
— Não, não é nada. — Dei um sorriso indiferente. — Só que, de repente, perdi a vontade.
Guilherme me encarou por um bom tempo, mas não percebeu nada de estranho em mim. Apenas suspirou, quase imperceptivelmente, como se estivesse aliviado.
Eu ainda não tinha almoçado, meu estômago estava vazio. Quando vi os pequenos bolos em cima da mesa, estendi a mão para pegar um, só para enganar a fome.
— Senhorita, o chefe comprou esses bolos para mim. — Mirella não conseguiu se conter e falou.
Minha mão parou no ar. Olhei para Guilherme.
— Deixe a Mimi comer, você não precisa disso. — Ele puxou os cantos da boca num sorriso frio.
— Guilherme, eu não comi nada o dia inteiro. Estou com fome. — Franzi a testa diante da encenação dos dois.
Mirella imediatamente fez uma expressão de coitadinha, e, antes mesmo que ela abrisse a boca, Guilherme me repreendeu:
— Vai continuar? É só um bolo! Precisa mesmo disputar com a Mimi?
Não respondi. Apenas fiquei olhando para ele.
— Não foi minha intenção te culpar. — Talvez ele tenha percebido que seu tom foi pesado demais, e suavizou a voz. — O que você quer comer? Um bife, macarrão? Eu faço o que você quiser. Não precisamos brigar por causa do bolinho da Mimi, certo?
Ao lado, Mirella começou a chorar, toda delicada.
— Chefe, o senhor não precisa me defender. Eu sei que não passo de uma empregada. Se a senhorita realmente quiser comer o meu bolo, pode ficar com ele.
Assim que ela terminou de falar, Guilherme arrancou o bolo da minha mão e enfiou nos braços dela.
— Mimi, não se preocupe com ela. Eu comprei esse bolo para você. — Ele disse.
Se fosse antes, eu provavelmente teria discutido com Guilherme, forçando-o a dizer claramente quem ele amava de verdade.
Mas agora, nada mais importava. Eu já estava prestes a ir embora daquele lugar.
O contrário de amar não é odiar. É simplesmente não se importar. Percebendo isso, sorri.
— Pode ser um bife, então. Obrigada. — Eu disse.
Ele pareceu surpreso por eu deixar o assunto passar tão facilmente.
— Não leve a mal. — Guilherme tentou se explicar. — Hoje a Mimi se machucou, por isso eu estou mimando ela. Mas você é a minha noiva, a mulher que eu amo. Não precisa ficar chateada com algo tão pequeno. Daqui a pouco mando o motorista te levar ao shopping. Pode comprar o que quiser, use o meu cartão.
Balancei a cabeça.
Dinheiro nunca foi problema para mim. Se eu quisesse alguma coisa, poderia comprar por conta própria. O que eu queria, desde o começo, era apenas o tal amor que ele dizia sentir. Mas isso, infelizmente, ele nunca conseguiu me dar.
Guilherme me lançou um olhar de desculpas, depois colocou o avental e foi preparar o bife para mim.
Sorrateira, Mirella seguiu ele.Pouco tempo depois, o som das gargalhadas ecoaram da cozinha. Isso me fez lembrar de um tempo muito distante, quando eu e Guilherme ainda nos amávamos.
Ele sempre foi péssimo com palavras, quando não sabia como me agradar, ele ia para a cozinha preparar algo com as próprias mãos para me agradar. Eu o seguia em silêncio, e quando ele se virava e me encontrava lá, eu o abraçava pelas costas e trocávamos um beijo.
Agora, sentada na sala, folheando uma revista, parecia haver uma parede invisível separando nós três.
De longe, vi Guilherme pegar um pedaço de bife e dar na boca de Mirella.
Levantei-me sem expressão e me aproximei.
— Chefe, aquelas coisas que a senhorita jogou no chão... eu posso ficar com elas? — Ela disse com uma voz melosa. — Não é que eu seja gananciosa e queira nada, é só que... você escolheu tudo com tanto carinho, e ainda estão tão novas, é um desperdício jogar fora.
Com poucas palavras, ela conseguiu me pintar como uma mulher fútil, materialista, incapaz de valorizar nada.
Guilherme estava prestes a concordar, quando interrompi.
— Quer dizer que, só porque eu não quero, você se acha no direito de ficar com as minhas coisas? — Falei friamente.
— Você vai implicar até com isso? — Na hora, a expressão dele endureceu. — Essas coisas já iam ser jogadas fora! Qual o problema de dar para a Mimi? Não é como se eu estivesse comprando coisas novas para ela!
Olhei para o ar vitorioso de Mirella e não me dei mais ao trabalho de discutir.
— Essas coisas são minhas. E eu não quero dar. — Respondi. — Aliás, Guilherme, você acha que eu sou cega? Eu sei muito bem que você comprou um monte de artigos de luxo para ela. Acha mesmo que eu não percebi?