Tank voltou, tão decidido quanto quem cumpre apenas uma ordem, mas tão rápido quanto quem finalmente encontra a desculpa que precisava para fazer o que mais queria no mundo. — É uma ordem, quebro a cara dele e digo que foi o chefe quem mandou. Pensou enquanto freava o carro em frente a casa de Dállia, ainda passou a chave na lateral do carro esportivo. — Uma lembrancinha, otário. Os dois degraus da varando foram vencidos com um único passo, mas então o coração acelerou. E se ela estivesse abraçada a ele? Se abrisse a porta sorrindo? Se Julian estivesse sobre ela naquele momento e atendesse a porta nu? Desistiu de tocar a campainha, preferiu ver, mas quando se aproximou da janela de vidro, viu algo que o arremessou ao passado. Julian realmente estava tocando a menina, mas Dállia estava olhando para o nada, aquele olhar apagado que ele conhecia tão bem. A porta abriu, mas não porque ele tocou, a fechadura soltou da madeira com o impacto do chute. Julian estava com a mão na coxa
A levou para o carro no colo, Dállia deitou a cabeça em seu peito e Tank precisou parar com a sensação, sentiu uma espécie de choque que começou no coração, mas que fez com que cada músculo enfraquecesse. Beijou a cabeça da menina. — Eu te amo, minha flor. Dállia não respondeu, não com palavras, mas fechou os olhos, aquele era o lugar mais seguro e mais perigoso do mundo. Não entendia como podia ser, só que era exatamente assim que se sentia. Colocou a menina no banco do passageiro, deu a volta e quando entrou no carro puxou a mão de Dállia. — Não pode mais ficar naquela casa. Aquele filho da puta vai chamar a polícia. — Meu trabalho, eu deixei meu computador lá. Ele é meu chefe. A Mel me deu o computador de presente, eu preciso dele. O que eu vou falar para ela?— O QUE VAI FALAR? É SÉRIO? ESTÁ PREOCUPADA COM UM MALDITO COMPUTADOR? QUER TRABALHAR NAQUELE LUGAR, DÁLLIA, COM AQUELE CARA? QUER DAR PARA ELE TAMBÉM? ESTAVA GOSTANDO? Tank deixou que a raiva o consumisse, mas se arr
Tank reclamou, se lamentou e por fim, voltou a ficar bravo, achava que o fato de Julian ter sido convidado a entrar na casa de Dállia tinha uma explicação lógica. Ela estava outra vez por alguém que pudesse lhe oferecer algum conforto. Se lembrou de como ela chegava exausta do trabalho, queria poder oferecer isso a ela. A encheria de tantos presentes e mimos que Dállia nunca mais pensaria em outro homem, mas não tinha como mudar o passado. Endi havia lhe prometido que ele estava em uma missão, que isso mudaria o fracasso do dia em que fez o juramento para a máfia, mas o capo simplesmente desapareceu depois disso. — Eu não sou o que ela quer, cara. — Espera, dá um tempo, quem sabe. — Ela quer grana, e isso o tempo não resolve. — Dinheiro? Está falando da mulher que diz amar como se fosse uma peça em um leilão. Mano, você é muito ridículo, sério. — E o que mais? Ela gosta de mim, Nick, eu sei. Essas coisas a gente sabe. Mesmo assim ela me mandou embora. De dez coisas que disse e
Dállia abriu o pacote com o computador, não esperava por aquele cuidado. — É rosa.— Você gosta de rosa.Ela amava, principalmente aquele rosa perolado. O que mais a encantou foi o aplique com uma dália sobre a tampa do equipamento, passou a mão sobre a flor e foi como se ouvisse Tank a chamando de minha flor enquanto a possuía, a voz rouca, o jeito como ele a olhava, era tudo perfeito. Sentiu as lágrimas brotarem, mas se controlou. — Quer um café? Tank ficou olhando para ela por alguns segundos antes de conseguir responder, a voz saiu falhada. — Que.. queroDállia sabia que ele estava com medo, tinha visto aquela expressão tantas e tantas vezes. Russo chegava bêbado e Tank mudava, por mais que fingisse força o rosto ainda era de um menino. Se lembrou de uma cena antiga, algo que ainda a marcada. O rapaz havia levado um soco apenas por ter chamado Russo de pai. O rapaz estava com um amigo, o soldado tinha ido procurá-lo para falar algo sobre um campeonato, queria que Tank parti
Ele queria pedir para ficar, ela queria que ele não fosse embora, mas nenhum dos dois falou. Tank segurou o rosto da menina entre as mãos, os olhos estavam brilhantes com as lágrimas que brotaram sem permissão. — Eu vou trazer você de volta pra mim.Deu um beijo nos lábios da menina, era para ser breve, mas o impacto daquele toque o fez ficar mais alguns segundos. Precisou de todas as forças que tinha para conseguir partir, mas se queria tê-la de volta, começaria respeitando a vontade dela.Dállia assistiu o seu amor partir, teve vontade de gritar para que ele voltasse, de correr atrás dele, mas também se conteve. Queria que Tank tivesse a vida que ele sonhou. Uma mulher para casar, alguém de quem ele não sentisse vergonha por amar. Se virou para entrar e quase trombou com Amara. —AAAAÍ! VOCÊS SÃO LINDOS JUNTOS. — Para.Desviou da cunhada e começou a arrumar os presentes que tinha ganhado. — É sério, Dállia! Sabe quando o meu irmão comprou presentes para uma namorada? NUNCA! E
Os vícios são hábitos difíceis de se livrar, Tank estava acostumado a flertar, mesmo que não tivesse nenhuma intenção real de ficar com alguém.Um hábito construído na adolescência, na tentativa desesperada de provar ao pai que não era gay.Ouviu tantas e tantas vezes aquela acusação que passou a odiar qualquer coisa que o fizesse menos masculino. Nunca raspava totalmente a barba, jamais penteava os cabelos e só arrumava a casa e cozinhava quando ninguém podia ver.E com Luz, ele fez de novo.— Oi, deusa.— Olha, estou aqui por uma aposta. As meninas do clube disseram que eu precisava falar com você. Tipo um castigo. Só me deixam entrar se eu passar por isso, então pode fingir? Por favor.Tank olhou na direção que Luz apontou, virou o rosto meio constrangido, todas já tinham passado pela sua cama e agora o usavam como castigo.— Deve ter sido tão ruim para elas quanto foi pra mim.— Quê?— Nada, senta aí. Por que quer andar com aquelas garotas?— São minhas amigas e todo mundo importa
Luz ficou em silêncio, estava deslocada. Queria ir embora, mas não sabia se já podia, talvez as meninas não acreditassem.Tank continuou bebendo, não falou uma única palavra e ela resolveu puxar assunto, achou estranha aquela caixa enorme sobre o sofá, talvez fossem jogos. Poderiam passar o tempo no videogame.Gostava de “Resident Evil” um jogo que consistia basicamente em matar zumbis, com certeza Tank também gostava, homens gostavam daquelas coisas.— Você joga?Perguntou enquanto abria a caixa e o rapaz se transformou, o silêncio se tornou uma explosão sem nenhum sentido aparente.— DEIXA ISSO AÍ!Ela se assustou, quase pulou para longe da caixa.— SUA MÃE NÃO TE ENSINOU A NÃO MEXER NO QUE NÃO É SEU?Luz encolheu os ombros, falou baixinho com os olhos cheios de lágrimas.— Não tenho mãe. Desculpa, eu vou embora.Tank ficou perdido, não quis ser grosseiro, com dois passos alcançou a menina e a segurou pelo braço.— Hei, Luz. Desculpa vai. Não deveria ter gritado com você.— Está tud
Dállia amava aquelas flores, mesmo sem perceber a ansiedade a fez acordar cada dia mais cedo, corria para a porta e sempre encontrava uma dália e um bilhete.O jeito dele ainda era o mesmo, conhecia aqueles bilhetes, antes Tank enviava com o almoço dela, agora com as flores e ela guardava todos.Quando a saudade apertava, ela relia.1º bilheteMinha flor.Acordei e pensei em você.É dificil escreve, mas mais dificil é fica sem você.Tô aqui. Sempre.2º bilheteMinha flor,você é minha paz que eu não mereçu.Mas mesmo errado, eu quero tudo teu.Eu volto pra ti. Sempre volto.3º bilheteBom dia, Eu não consegui dormir, estou com saudade.mas teu cheiro ta em mim.É você que me mantem em pé, flor.Eu te amo feio, mas é de verdadi.Ela tinha dezenas daqueles papeizinhos nas mãos, mas um dia eles pararam de chegar, as flores e os bilhetes. Não tinha mais nada além da notícia de que Tank estava namorando.Não soube o que sentir, deveria ficar feliz, era isso que queria desde o começo, mas