Perder a coragem é uma das coisas mais fáceis quando tudo o que você enxerga a frente é derrota. Dállia tinha certeza de que o único resultado possível para aquela conversa era o fim, achava que sabia o que Tank diria. -Você quis, você provocou, você gosta- Lembrou da frase... Mulheres como você. Deixou o celular com a tela aberta e foi para o banheiro, precisava respeitar, lavar o rosto, fugir... e ao mesmo tempo, quem sabe Tank visse aquelas fotos e entendesse o que estava acontecendo sem que ela precisasse explicar. Ao menos parte do plano funcionou, quando saiu ele estava segurando o celular, os olhos úmidos e vermelhos, não sabia se era raiva ou tristeza, mas então, ele a desarmou. Esticou o celular e perguntou com a voz fraca. — O que eu faço, minha flor? O que eu preciso fazer para você me amar? Tem algum jeito? Qualquer coisa. — Você viu as fotos? Entendeu? — DROGA, DÁLLIA! EU NÃO QUERO FALAR DO SEU AMANTE, ESTOU FALANDO DA GENTE PORRA! O QUE VOCÊ QUER SUA CADELA? O QU
Ao contrário do que Tank imaginava, ele não era o único com a alma completamente dilacerada, Dállia também perdeu o restante de humanidade que ainda tinha.No dia seguinte foi ao escritório usando tênis, um vestido social e a camiseta do Guns’N roses. Só não faltou porque tinha uma missão, algo que ela julgava ser grande, tão grande que seria egoísmo deixar tudo se perder por causa da própria dor. Entrou sem cumprimentar os seguranças, mas agradeceu o chocolate que ganhou de um deles. — Obrigada, ErickEla conhecia todos pelo nome e gostava de usá-los, por muito tempo até mesmo seu nome foi roubado dela. Deu uma risada amarga com o pensamento. Dalila, a prostituta. Russo a chamava assim, o filho dele a tratava assim, talvez o nome combinasse mesmo com ela. Entrou no elevador, cumprimentou as amigas. — Bom dia, Mirna. — Bom dia, TatiMirna foi a primeira a reclamar da aparência desleixada de Dállia. — Que isso? Dormiu na rua? O Julian vai te matar, ele já perguntou umas dez ve
Tank decidiu que precisava voltar para casa, retomar a vida que tinha antes de Dállia, antes Amara era a única pessoa que o prendia a lucidez, agora, também havia Isaac. O garotinho realmente tinha o olhar doce e cheio de esperança como Buck havia dito e estava melhorando graças a Dállia. Ao menos para alguma coisa boa aquele casamento havia servido. Sorriu enquanto tomava mais um gole de conhaque direto do gargalo, os outros carros ficavam para trás como se estivessem parados. Mas lembrou de Louis, a ex-noiva havia implorado, chorado, e ainda assim ele simplesmente desligou o telefone. Agora entendia o que a garota sentiu com aquele telefonema, com todas as vezes que a ignorou para ficar com Dállia, as ligações e mensagens que ele nunca respondia. Entendeu e sentiu pena na menina. Secou o rosto, o vento frio não era o suficiente para conter as lágrimas, outro gole, o pé mais fundo no acelerador. Reduziu a marcha, queria chegar logo. De todas as coisas que existiam no mundo, a
Sombra atendeu a ordem do filho, não estava no condomínio, mas tinha quem repassasse sua vontade. Precisou ajudar um amigo e passou um tempo organizando isso. Não que o rapaz merecesse, mas, o atual conselheiro da organização acreditava que o amor não podia ficar preso a defeitos. Estava fazendo a sua parte, apesar de acreditar que quando o filho descobrisse, boa parte do que estava fazendo se perderia. Quando chegou encontrou uma espécie de acampamento no meio da área central do condomínio. Deu risada, eram centenas de pessoas que moravam naquelas terras e imaginou que seria no mínimo divertido se reunirem. Já fazia muito tempo que isso não acontecia. Encontrou Nick, o filho de Fera parecia perdido entre as crianças e a caçula de Sombra correu para os seus braços. Caiu com o impacto, mas não a soltou. — Esquisitinha! Era assim que ele chamava a filha, uma piada interna, a garota apesar de ser adotada tinha uma semelhança assustadora com a esposa do capo. Ajudou a organizar
Tank quase rosnou para Sombra e o senhor meio que se afastou com o cheiro de álcool, também gostava de tomar suas cervejas, mas aquilo mais parecia conversar com um tonel de destilado. E enquanto os outros soldados usavam ferramentas e chaves para tirar os parafusos e soltar as barras de aço que seguravam as lonas. Tank agia como um animal enjaulado arrancava as barras de aço do chão usando apenas as mãos. A dor era real, mas pelos cortes nas palmas das mãos, nem pelo hematoma que conseguiu quando puxou de mal jeito uma corda e o gancho que estava na ponta acertou o seu rosto, não era o corpo que doía. O suor ardia nos olhos, a raiva pode ser um combustível poderoso. E ele sentia ódio de cada homem e mulher daquele lugar, de todos, mas principalmente de si mesmo. Na mente perturbada pelo álcool e pela dor, a imagem de Dállia sendo beijada por um homem bonito, bem-vestido, inteligente. Tudo o que ele não era. — Por isso me pediu para usar aquela camisa idiota, né, sua puta! Era
Um raio de sol entrava por uma pequena fresta aberta da janela, a casa de madeira era escura e o cheiro estranho, mas o brilho que entrava potente a encantou. Partículas de poeira dançavam na luz enquanto o corpo de Dállia se movia com o impulso do corpo velho sobre o dela.Os sons eram estranhos, bizarros, mas ela se focou na luz, no tímido raio solar e na poeira dançante. Já estava acostumada com a dor, a maioria das vezes nem incomodava mais.Foi virada de bruços sobre a mesa, a toalha branca ficou enrolada sob o seu corpo, os movimentos continuaram, firmes, violentos e acompanhados daqueles ruídos animalescos.E foi exatamente nesse minuto que tudo mudou.Quando Dállia foi virada sobre a mesa ela lamentou que não pudesse mais olhar para a luz e foi na escuridão que seus olhos cruzaram com os de Tank pela primeira vez.Ele estava ali, parado, olhando para ela como se visse um animal ser abatido. Uma mistura de desprezo e pena que a fez fechar os olhos, segurou mais firme na borda d
Ele era diferente, não se parecia em nada com os homens da comunidade em que Dállia vivia antes de ser vendida ao marido. Tank parecia rústico e ao mesmo tempo os olhos traziam uma força diferente, dilacerante, algo que a atraia.Mas os dias passaram e ele nem sequer a olhou, nem mesmo uma única vez. Tank passava por ela como se ninguém existisse, somente ele e Amara.De certa forma, havia beleza naquele desprezo, era como se Tank e a irmã pudessem viver em um mundo próprio, algo só deles, onde as risadas e as músicas se espalhavam pela casa de um jeito que Dállia achava lindo.Em uma manhã, depois que o marido saiu para o trabalho, ela se aproximou devagar do quarto de Amara, a música estava alta e os irmãos conversavam animados enquanto comiam algo que Tank havia comprado.Eles não comiam nada que ela cozinhasse, não importava o quanto Dállia se esforçasse para agradar, Tank sempre passava em algum lugar e trazia marmitas que dividia com a irmã. Se esforçou para ouvir o que falavam.
Tank voltou para casa após o treino ser cancelado, detestava todas as vezes que isso acontecia, mas Dylan não era um soldado comum, tinha manias estranhas, não avisava quando faltaria e vivia correndo atrás da mulher como um cachorrinho abandonado.Ninguém achava Zoey bonita o bastante para receber tanta atenção, mas jamais alguém ousou falar isso, ao menos não para o chefe de treinamento. Seria como pedir para passar uma longa temporada no centro médico e talvez, nem voltar.Abriu a porta com um humor péssimo, odiava aquela casa e tudo o que ligava ao pai. Russo nunca foi um pai amoroso, mas as coisas tinham piorado muito desde que a mãe de Tank faleceu.Respirou fundo e entrou, teria ido direto para o quarto se a música que vinha do quarto da irmã não tivesse chamado a sua atenção.— Amara, droga! Faltou à aulaReclamou apenas em pensamento, não quis chamar atenção da irmã, achou que a pegaria em flagrante. Precisava que ao menos Amara tivesse um futuro, que alguém daquela família f