Tank passou a mão nos cabelos, a dor o fez fechar os punhos e apertar os olhos. Deixou a irmã para trás, se esqueceu do lanche, o corpo implorava por algum descanso, mas o pensamento gritava por Dállia, queria falar com a menina, dizer que estava bem, procurou nos quartos, não encontrou as coisas de Russo. Ficou confuso.Continuou vasculhando e quando encontrou as roupas de Dállia ele gritou com o tom que misturava desespero e raiva. AMARA! A garota paralisou, estava limpando a bagunça que havia ficado no chão, mas largou tudo e correu para o andar superior. O coração acelerado, sem entender nada, ainda assim assustada. Tank quase nunca a chamava pelo nome.Encontrou o irmão retirando tudo de dentro do guarda-roupas, uma montanha de vestidos e ele pálido como se tivesse visto um fantasma. — TANK! O QUE ESTÁ FAZENDO? Ele a encarou segurando um dos vestidos de Dállia, os soldados que organizaram tudo acabaram se confundindo, tiveram ordens de não recolher as coisas de Russo e da e
Quando a ficha de Russo finalmente chegou, o soldado já tinha experimentado, ao menos, um pouco, do jogo que Endi gostava de jogar. O galpão tinha aquele cheiro de sangue seco e tabaco que encantava os sentidos do capo, não se lembrava quando havia começado a gostar daqueles cheiros, ou talvez sim, a primeira vez que torturou um homem era alguém que havia ousado desejar Mel Bianchi, a única mulher que ele se lembrava de amar. Acha estranho quando ouvia falar de segundos amores.Era possível amar duas vezes? Endi tinha certeza que não. — Tem tudo? — Tudo branquelo, o passado, o juramento, as missões, ele é daquele tipo. Daquele tipo, a forma como o subchefe chamava os soldados que pareciam não ter consciência, não entendia como pessoas podiam gostar de matar, ele detestava. Fazia, se fosse preciso, mas nunca por prazer. O capo permitiu que Rodolpho saísse. Russo estava com os tornozelos e os pulsos presos, uma amostra inútil de impotência, ainda assim, o homem tentava negociar, i
O capo deixou o jogo e a decisão para mais tarde, sabia a versão da filha daquele homem, mas não sabia ainda como ele era visto pela esposa, aliás a esposa que ele negava possuir. — Ela é a marmita que eu trouxe para casa, sabe como é, com a minha idade não temos mais a mesma condição de caçar na rua, mas jamais casaria com uma puta sob o código. Aquela resposta enojava e tranquilizava o capo na mesma proporção, não significava um atenuante para Russo, mas poderia significar um novo começo para a menina. Quando ela chegou, ele viu nos olhos de Dállia um tipo de bondade e doçura quase impossíveis de existir em alguém que vivesse aprisionada. O coração se acalmou por alguns instantes, mas foi realmente apenas por alguns instantes. Endi pediu para que Dállia fosse levada até a sua casa, queria que a menina se sentisse tranquila, Mel estaria por perto e Dállia não se sentiria em um julgamento, não era. Ao menos não o dela. Ouviu coisas tão pesadas que fizeram o seu mundo voltar para
Dállia ficou olhando para os presentes enquanto pensava que a única pessoa com quem gostaria de conversar, provavelmente já estava morta. Estava sozinha quando se olhou no espelho e se perguntou como se o reflexo pertencesse a outra pessoa. — Ainda aceitando presentes de monstros, Dállia? Apesar de Mel parecer um anjo, Dállia sabia perfeitamente que ela era casada com o homem que havia decretado a morte de Tank. Contou o que foi perguntado porque foi levada até aquela casa sem que ninguém perguntasse a sua opinião, mas Endi era a pessoa que mais odiava no mundo, a pessoa que tinha tirado dela bem mais do que qualquer um dos homens que cruzaram o seu caminho antes dele. Olhou em volta, o quarto era maior do que a casa em que morava com Russo e os dois filhos do ex-marido. Ainda assim, tudo o que sentia era saudade da antiga prisão, talvez os voos não fossem feitos para ela, gostava bem mais da gaiola em que vivia. Lembrou de uma coisa que chamava a sua atenção muito antes da prim
Tank tentou de todas as formas chamar pelo capo, mas nem Endi estava com pressa, nem os cães permitiram que ele chamasse mais de uma vez. Caiu e com a queda um dos animais subiu sobre ele enquanto o outro puxava sua perna, os dentes presos na calça, mas também na carne. Um tipo de pesadelo sem fim que parecia inútil lutar contra.E enquanto Tank lutava pela vida. Endi desceu as escadas com calma, olhou o sangue que invadia a sala por baixo da porta e pensou que teria trabalho para limpar o piso antes que a esposa voltasse.Abriu a porta, não porque queria ajudar e sim porque sentiu vontade de brincar com a coragem de quem havia tido a ousadia de invadir o seu espaço.Contudo, algo na determinação de Tank o fascinou. Demorou alguns segundos antes de dar o comando para os cães, havia apenas uma palavra capaz de pará-los, um idioma esquecido, mas não era apenas isso, aqueles animais respondiam apenas a sua voz ou do seu filho. — ETXEKOAKOs cães se afastaram, um deles ainda choraming
Enquanto falava se esfregava nela, perdia o controle todas as vezes em que ficavam sozinhos. Deslizou a mão entre as pernas dela, a sentiu molhada. Beijou os lábios da menina quase como uma prece silenciosa, a amava e não tinha ideia de como mudar isso. Afastou os cabelos de Dállia, abriu o registro do chuveiro, a despiu, testou a temperatura da água e entrou com ela no banho. Cuidou dela com carinho, em coisas que não tinha nenhuma relação com o prazer e ainda assim, a masculinidade continuava firme. Se ajoelhou na frente da menina, passou um óleo de banho que pertencia a irmã, deslizou uma lâmina de barbear pelas pernas da garota, a cada vez que descia a gilete Tank aproveitava para beijar as coxas de Dállia. — Tank, eu. — Me deixa cuidar de você, Dállia. De um jeito estranho ele se sentia triste por perceber que ela nunca olhava para si mesma, não havia vaidade, apesar da beleza sedutora que ela possuía. Ainda estava de joelhos quando a virou de costas, passou o rosto nas
Tank não saberia dizer o que doía mais, as feridas ou ter falado não para um pedido tão simples. Quis perguntar por ela, dizer que faria qualquer coisa para que o capo não condenasse a sua Flor, confessar para aquele homem o amor que havia se recusado a admitir até para si mesmo. Quis, mas o corpo não aguentou. Desmaiou lembrando do olhar triste da menina que apesar de ter todos os motivos, não o rejeitou. Endi olhou para o soldado com uma expressão curiosa, avisou a baba dos filhos. — Não deixe a Miran descer, estou trabalhando. Arrastou Tank para os fundos da casa, não quis sujar o chão da sala, Mel ficaria assustada. — Você falou o nome dela, não falou? Foi isso que te fez ter coragem para vir a minha porta? Endi tinha um certo interesse por histórias de amor real, não aquelas vorazes que fazem a alma sair do corpo. Gostava de saber que ainda existiam sentimentos capazes de enraizar na carne e fazer um homem perder a razão. Todos os soldados sabiam que ir a casa de Endi era
Tank poderia dar milhões de explicações, dizer que quando Dállia chegou ele ficou mais tranquilo, seria ela, e não Amara. Russo cercava a própria filha o tempo inteiro e Tank não conseguia nem sequer dormir. Passava as noites acordado, vigiando, levava ela a escola, trocava a menina de colégio todas as vezes que o pai descobria o endereço. Só comia o que cozinhava e não saía de perto das panelas nem mesmo um minuto, com medo de ser dopado. Na época ele não enxergou Dállia como um ser humano, e doía pensar nisso. Poderia falar que havia prometido no leito de morte da mãe que jamais entregaria Russo a organização, ou que quando fizeram amor ela nunca o recusou. Mas ele sabia a verdade e foi com ela que respondeu. — É isso, eu me aproveitei. Ela é linda, estava na minha casa e não me recusou. Tank não se importava com o que poderia acontecer com ele, só precisava convencer Endi a deixar Dállia ir embora, qualquer lugar que fosse longe de Russo.Depois contaria sobre Amara, ela hav