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Assim que puder ela retorna

Depois de sair do quarto de hóspedes, Pedro decidiu descer até o escritório para ligar para Ana e depois trabalhar mais um pouco. Depois de fechar a porta ele está se senta no sofá, o celular na mão, olhando para o teto com uma expressão de quem desvendou a cura para uma doença terminal. Há um silêncio pesado no ar, quebrado apenas pelo tic-tac de um relógio antigo. Ele respira fundo, como se estivesse prestes a fazer o maior sacrifício da sua vida. 'Ela ficou chateada, sempre foi um boa esposa'.

_ Quer saber? Ela vai ver que estou sendo o homem mais maduro do mundo. Quem liga primeiro depois de uma discussão é o mais inteligente, o que pensa no futuro do relacionamento. E, convenhamos, o jantar... foi só um detalhezinho, não foi?

Ele dá uma risadinha forçada, tentando se convencer mais do que qualquer um.

Pedro então disca o número de Mariana, o dedo pairando sobre o botão de chamada por um segundo dramático. 'Ela está esperando que eu me desculpe'. Mas não é bem uma desculpa. É mais um... um reconhecimento de que as coisas saíram um pouco do roteiro. Mas nada que um bom papo não resolva. E eu sou bom de papo. Ótimo, na verdade', pensa convencido de que seu gesto vai amolecer o coração dela e trazê-la de volta. Ele aperta o botão. O telefone começa a chamar. Pedro se recosta no sofá, com um sorriso presunçoso no rosto, como se já tivesse vencido a batalha. Mas então, a chamada é desligada.

Pedro olha o aparelho atônito, ela desligou?

Uma pausa. Ela nunca rejeitou uma chamada minha, o que ela está pensando?

Então com uma expressão de irritação contida ele continua tentando, mas ela continua a rejeitar a chamada. É a décima vez nos últimos quinze minutos.

Pedro já perdeu toda a paciência e boa vontade que tinha a alguns minutos e falando sozinho, com raiva:

_ Atende, Ana! O que custa atender essa droga de telefone?

Ele desliga a chamada e imediatamente liga de novo. O som da chamada a ser completada é a única coisa que se ouve. Depois de alguns toques, a caixa postal.

_ Você está brincando comigo? Sério?

Ele j**a o celular no sofá com força, depois o pega de novo, as mãos tremendo levemente. Ele rola a lista de contatos, o cenho franzido em concentração e fúria. Para em um nome: JÉSSICA.

Elas devem estar juntas, Ana sempre vai pra ela quando quer desabafar. Respirando fundo, tentando se acalmar, mas a raiva ainda transparece. 'Ah, é assim? Se você não atende, outra pessoa vai atender.'

Ele liga para Jéssica. O telefone toca várias vezes. Pedro começa a bater o pé impacientemente.

Resmungando para si mesmo enquanto disca:

_ Mas que droga! Onde essa mulher se meteu? Não atende, não responde… Ah, mas ela vai me ouvir!

Ele espera, a linha chama, e quando Jéssica finalmente atende, o som de música alta e vozes abafadas de um bar ecoa no fundo.

Jéssica com a voz um pouco alterada pelo álcool, mas tentando ser clara:

_ Alô? Pedro? Que surpresa!

Pedro com o tom já subindo, indignado com o barulho:

_ Jéssica?! Onde você está? Que barulheira é essa? Dá pra ouvir que você está num boteco!

Ela hesita, olhando ao redor, meio sem graça:

_ Oi, Pedro! Eu estou…em um bar, sim. Saí com a Ana. Por que?

Pedro paralisa, o telefone quase escorrega da sua mão. O barulho ao fundo parece amplificar a sua raiva e incredulidade.

Pedro com a voz carregada de fúria contida, quase um sibilo:

_ Você está COM A ANA?! Num bar?! E ela não me atende, nem me dá satisfação? Eu estou aqui, preocupado, depois de… depois do que aconteceu, e ela está se divertindo?! Isso é um absurdo! Ela não tem o direito de fazer isso comigo!

Sem rodeios, ele respira fundo tentando controlar as emoções, a voz controlada, mas com uma pontada de agressividade passiva

_ Jéssica, preciso falar com a Ana. Ela não está atendendo minhas ligações.

Jéssica lançando um olhar significativo para Ana responde com indiferença:

_ Ah, Pedro, ela... ela está ocupada agora. Não pode falar.

O tom de Pedro endurece, a fachada de calma desmoronando, o que Ana estava pensando?

_ Ocupada? Ocupada com o quê que é mais importante do que falar com o próprio marido? Passe o telefone para ela, agora!

_ Pedro, eu sinto muito, mas ela realmente não pode. Estamos em uma comemoração.

Levanta-se do sofá, começando a andar de um lado para o outro, a voz subindo de tom, 'o que está mulher está fazendo?' Para Pedro tudo não passava de cena para chamar a atenção, uma vingança por trazer a Sofia hoje.

_ Comemoração? Que tipo de comemoração? Isso é inaceitável, Jéssica. Eu sou o marido dela! Tenho o direito de saber onde ela está e com quem! Ponha-a no telefone, senão...

Ele para de falar, mas sua ameaça fica no ar.

Um suspiro audível do outro lado da linha, a voz agora cansada.

_ Pedro, por favor. Não faça isso. Ela vai te ligar assim que puder.

_ Assim que puder não é o suficiente! Eu quero falar com ela agora! Você está acobertando ela de mim? É isso?

Não, Pedro. Eu não estou acobertando ninguém estou ao lado dela, coisa que você deveria fazer em um dia como hoje.

A voz dela se torna mais séria, perceptivelmente irritada com o tom de Pedro:

_ Ela não tem que te dar satisfação de tudo que faz. Ela é uma pessoa adulta e…

Interrompendo-a, a voz agora um grito, a frustração subindo rápido:

_ Ela me desrespeitou! Me envergonhou na frente da minha convidada, me deixou aqui sozinho, sem notícias, enquanto está por aí na farra! Eu sou o marido dela! Ela tem que me dar satisfação, sim! Você não entende? Isso é uma afronta! Eu estou indignado! INDIGNADO!

Ele desliga o telefone na cara de Jéssica, ofegante. O som do bar, mesmo que apenas uma lembrança na sua mente, o enche de uma fúria ainda maior. Ele j**a o celular no sofá, sem se importar que ele quique e quase caia no chão.

_ Que audácia! Que absoluta falta de respeito! Ela vai ver só! Ah, se vai!

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