Sob o olhar compassivo do médico, inclinei a cabeça e engoli os analgésicos potentes.
Minha vida entrava nos últimos três dias.
Ao sair do consultório, fui até o quarto da Ema. O ambiente era acolhedor e silencioso; meus pais estavam ao redor dela, cercando-a de cuidados.
— Ema, vem provar o bolo que a mamãe fez.
— Bebe mais suco, é bom pra repor as vitaminas.
Assim que apareci, o clima congelou no mesmo instante.
— O que veio fazer aqui?
— Fingir doença não funcionou mais e agora quer implicar com a Ema de novo?
— Yasmin, não vamos mais deixar você maltratá-la.
Mamãe se postou diante de mim, a voz fria como gelo.
Papai também se aproximou, protegendo a Ema atrás de si.
— É inacreditável termos criado uma filha tão mesquinha como você. Se soubéssemos disso, nunca teríamos te colocado no mundo.
Sorri com amargura. Antes eu discutia, brigava, desmascarava a Ema. Mas qual era o resultado? Apenas mais parcialidade e acusações. Agora que estou prestes a morrer, discutir não faz mais sentido.
— Já que está aqui, tenho algo a dizer. — Disse papai com frieza.
— Deixa que eu falo primeiro. — Interrompi, sorrindo.
— A empresa, as patentes, os projetos de design... a Ema sempre quis, não é? Pode ficar com tudo.
Meus pais ficaram imóveis, espantados.
— Você realmente concordou?
— Não está armando mais um plano contra a Ema, está?
Abaixei a cabeça e dei um leve sorriso.
— Antes, quando me forçavam e eu não concordava, diziam que eu era egoísta. Agora que aceitei, ainda tem problema?
Mamãe enfim sorriu, satisfeita:
— Assim sim, parece uma boa irmã.
— A Ema sempre foi melhor do que você em design desde a época da escola. Quando sair do hospital, com certeza vai transformar a empresa em a número um da América do Norte.
Assenti em silêncio e entreguei o contrato de transferência.
Os olhos da Ema brilharam; ela sorriu de orelha a orelha e assinou na hora, sem esquecer de me lançar um olhar vitorioso.
Nesta casa, não importa o quanto eu me esforçasse — sempre fui a perdedora.
— Toma, Yasmin, prova um pedaço do bolo também. A Ema deixou um pedacinho.
Senti um nó na garganta e apenas assenti com dificuldade.
Talvez só entregando tudo eles aceitassem me dirigir a palavra com um sorriso.
Engoli as lágrimas.
Fico realmente curiosa: quando souberem da minha morte, souberem tudo o que a Ema fez... ainda vão conseguir sorrir?
Será que vão se arrepender, nem que seja só um pouquinho?
Dei entrada nos papéis de alta e voltei para casa.
Davi e nossa filha estavam fazendo bombons artesanais, e uma torta de maçã assava no forno.
Eles riam felizes, sem notar que eu havia chegado.
Davi só percebeu minha presença ao lavar as mãos, e seu sorriso sumiu na hora.
— Por que você não ligou antes de vir?
Fiquei imóvel, olhando os cartões sobre a mesa.
O papel era rosa, com lantejoulas e estrelinhas nos cantos.
Estavam escritas duas linhas com caligrafia delicada:
[Para a madrinha Ema mais linda do mundo.]
[Querida Ema, seja sempre feliz e alegre!]
A assinatura era da minha filha. Ao lado, uma frase rabiscada, mas afetuosa, do Davi:
[A torta de maçã que fiz pra você deve estar quase pronta. Não vale roubar um pedaço!]
Estou prestes a morrer, e só agora descubro que Davi sabe cozinhar.
E quando eu estava viva, me matando para ganhar dinheiro e cuidar da casa, o que recebia eram críticas e desprezo.
Antes, eu me revoltava, questionava, brigava.
Agora, não disse nada. Apenas fui até o quarto e comecei a arrumar minhas malas.
— Yasmin, preciso conversar com você. É sobre... a sua irmã, a Ema.
Davi se aproximou e puxou assunto.
— Então... depois da cirurgia, a Ema continuou muito fraca.
— Meus pais encontraram lá na cidade um mestre de tarô que disse que ela precisa se casar com um homem para melhorar.
— E como não conseguimos encontrar alguém de confiança de uma hora pra outra, eles querem que eu me case com a Ema primeiro.
— Talvez assim ela se recupere mais rápido...