Mikhail Volkov Ouvi toda a conversa entre Sophie e minha mãe e, no instante em que escutei minha própria mãe dizendo que queria Sophie como mãe de Alek, fui tomado pelo ódio. Ninguém nunca, jamais, será capaz de substituir Ekaterina. Ela foi e sempre será a única mulher que merece meu amor. Meu coração.Fecho os olhos por um instante, e as lembranças me atingem como um soco. O jeito que ela sorria para mim. O som da sua risada suave. A forma como seus dedos sempre encontravam os meus, mesmo nos momentos mais sombrios. Eu nunca quis amar ninguém. Nunca quis me apegar. Mas Ekaterina atravessou todas as minhas barreiras e, quando percebi, ela já fazia parte de mim.E então, ela se foi.Deixando um vazio que nada poderia preencher.Balanço a cabeça, afastando as lembranças antes que me engulam por completo. Respiro fundo e me afasto da porta do quarto de Sophie, seguindo para o de Alek.Entro no quarto e encontro meu filho sentado no chão, rodeado de bonecos de super-heróis.— Papai! —
Sophie WilliamsA semana foi uma loucura. Elena quase enlouqueceu — e me arrastou junto. Agora, ando de um lado para o outro no quarto, sentindo o coração bater fora do compasso, enquanto Irina e Victoria me observam. Estou surtando.— O vestido deu problema de novo! — exclamo, exasperada. Não que eu me importe de verdade com esse casamento. Eu nem queria me casar. Mas, inferno, a maldita roupa ainda não chegou! Já estou maquiada, o penteado está impecável… e a porcaria vestido simplesmente não aparece.— Calma, minha querida. Ainda é cedo, tudo vai dar certo. Venha, sente-se aqui. — Irina segura minhas mãos com suavidade, o olhar gentil. Um contraste gritante com Victoria, que tamborila os dedos no braço da poltrona, impaciente. Ela está furiosa porque Elena ainda não chegou com o vestido. Nada pode dar errado, eu tenho que agir como esperado.— É normal esse nervosismo, filhinha. Sente-se e tome um pouco de água. Se continuar andando assim, vai despentear esse cabelo maravilhoso. —
Meu coração bate rápido demais, mas meu rosto permanece inalterado. Viktor me avisou:— Se demonstrar fragilidade lá dentro, senhorita, será vista como fraca. E quem parece fraco… vira alvo fácil.Então, finjo. Ergo o queixo, respiro fundo e visto minha máscara.Para quem vê de fora, talvez eu pareça uma noiva ansiosa por se casar com o amor da sua vida. Um engano perfeito.A verdade? Estou prestes a ser entregue a um homem que não conheço… por outro que me destruiu.Viktor sai primeiro e abre a porta para mim. Me encara por um segundo, como se reforçasse com o olhar tudo o que já disse.— Seja forte.Assinto com sutileza, forçando o corpo a obedecer. Desço do carro com a elegância que aprendi a dominar — não por vaidade, mas como armadura.James me espera a poucos passos, com o braço estendido. Um gesto vazio, quase cínico, vindo do mesmo homem que passou vinte e três anos me ignorando e quebrando cada parte de mim. Ele não diz nada. Apenas me espera.E eu vou.Porque nesse jogo, hes
Sophie Williams Ouvia um zumbido irritante nos ouvidos, como se o mundo ao meu redor estivesse se dissolvendo em um vácuo, e meu corpo, frágil, ameaçasse ceder a qualquer momento. Sabia que, se desmoronasse, ninguém viria me socorrer. O que acontece dentro dos portões da mansão Williams é um segredo que deve ser enterrado junto com as esperanças de quem ali vive. — Sophie, você está bem? Parece exausta. — A voz do fotógrafo me puxou bruscamente de volta à realidade. Havia preocupação em seu tom, mas seus olhos, como os de todos ali, estavam apenas curiosos, famintos por um deslize. Eu era um espetáculo. — Estou bem, sim. Apenas me distraí por um momento, me perdoem. — Forcei um sorriso, sentindo o peso da mentira em cada palavra. Todos voltaram aos seus afazeres, e agradeci mentalmente por ninguém notar minha farsa. Enquanto a câmera me capturava, eu me sentia livre — irônico, considerando minha situação. Os flashes traziam uma sensação de poder, algo que parecia faltar no resto da
À distância, as vozes de Victoria e James ecoavam como fantasmas, repetindo o mantra de sempre: que eu era uma vadia ingrata, que eles haviam me dado tudo — uma vida boa, comida e um lar — e que agora eu me recusava a pagá-los. Que ironia cruel: pagar por terem me trazido a um mundo onde sou agredida física e emocionalmente por eles.— Vá para o seu quarto e só saia de lá arrumada para o jantar com seu noivo e a família dele. — A voz de James cortou o ar como uma lâmina.Assenti, sentindo o alívio breve de poder sair daquele inferno, mas, assim que toquei a maçaneta, ouvi sua voz novamente, gelando meu sangue:— Lembre-se, Sophie, não me envergonhe. Seja a filha obediente e a noiva perfeita. Você sabe que as consequências podem ser ainda piores.Um frio percorreu minha espinha. Não tive coragem de responder. Apenas abaixei a cabeça e saí da sala em silêncio, com passos pesados me levando até as escadas. Cada degrau parecia mais um fardo.Ao entrar em meu quarto — ou melhor, na minha p
Mikhail Volkov Londres continua tão fria quanto eu lembrava, mas essa frieza é, de certa forma, encantadora. A capital da Inglaterra mantém seu charme inabalável, com suas ruas impecavelmente ordenadas, a educação refinada de seus habitantes e uma sofisticação impossível de ignorar. Negócios prósperos, bons vinhos, mulheres deslumbrantes... e, nesse caso, uma mulher específica. — Você está ansioso para conhecer sua futura esposa, irmão? — Andrei pergunta, com um tom sarcástico que me faz apertar os dentes, lutando contra a vontade de socá-lo. — Andrei, você está testando a minha paciência. Se continuar com essa conversa, vai se arrepender. — Falo com firmeza, sem sequer olhar para ele enquanto caminho em direção ao carro que já nos aguarda. Antes de o carro começar a andar, meu celular vibra no bolso. Atendo imediatamente, sem nem olhar o nome, porque já sei quem é. — Papai? — A voz doce e inocente de Alek enche meus ouvidos, trazendo uma sensação de paz instantânea. — Olá, meu g
Caminhamos pelo jardim, e aos poucos, uma conversa se inicia — talvez uma forma de nos conhecermos melhor, ou ao menos, tentarmos.— O que gosta de fazer, senhor Volkov? — ela pergunta, com a voz baixa, mas curiosa.“Senhor Volkov.” Soa formal demais vindo dela. Mas talvez seja só a forma que encontrou de manter alguma distância.Observo o rosto dela enquanto formulo uma resposta. — Gosto de lutas. Também gosto de viajar, mas, para mim, voltar para casa é sempre a melhor parte. Com a vida que levo, isso é o mais próximo de normalidade que consigo: viagens, negócios, empresas... e a outra parte, que você provavelmente já conhece. — Digo, sem pressa, sabendo que suas reações vão me dizer mais do que suas palavras. Ela não demonstra surpresa, mas a tensão que emana de seu corpo é palpável. Não é algo que me incomode, já esperava essa reação. — Imagino que ainda esteja se acostumando com essa realidade. — Comento, de forma objetiva. — Sim. — Ela responde, simples, sem querer se aprofun
Sophie WilliamsAo adentrar a sala de jantar da mansão Williams, fui envolvida pelo brilho e pela opulência que pareciam competir para exibir o poder e o status de nossa família. O teto alto, adornado por lustres de cristal, lançava reflexos suaves sobre a mesa longa. Esta, coberta por uma toalha de linho imaculada, exibia porcelanas finas, talheres de prata reluzentes e arranjos florais estrategicamente posicionados. O aroma das flores misturava-se ao leve perfume de cera polida, criando uma atmosfera que parecia dizer: Aqui, tudo está sob controle.Meu pai, James, ocupava a cabeceira da mesa, como ditava a etiqueta, enquanto Victoria, minha mãe, estava ao seu lado, irradiando a postura impecável e a autoridade que sempre a acompanhavam. Eventos como este eram o palco ideal para ela exibir sua visão de "perfeição familiar".— Sophie, querida, sente-se aqui, ao meu lado. — A voz dela era doce, mas o tom cortante carregava uma ordem implícita.Antes que eu pudesse responder, senti o toq