Ponto de vista: Enzo
 A água gelada desceu pelos meus ombros como uma faca. Eu poderia ter ajustado a temperatura, mas não queria conforto. Queria foco. Controle. Distância.
 Coisas que eu estava perdendo.
 Abaixei a cabeça, os olhos fechados, as mãos apoiadas nas paredes de azulejo do chuveiro enquanto o vapor inexistente se dissipava no ar frio do banheiro. O som da água preenchia o espaço, abafando os pensamentos — mas não os calando.
 Sara.
 Desde o momento em que ela entrou na sala de aula com aquele jaleco azul e os olhos decididos, ela não saiu da minha mente. E isso não era bom.
 Não era o plano.
 Ela era o centro do redemoinho. O alvo. O elo frágil que, se rompido, faria Luca desmoronar e, com ele, todos nós.
 E eu estava me aproximando demais.
 Vendo demais.
 Querendo demais.
 Encostei a testa na parede fria, deixando a água escorrer pelo pescoço. Era a quarta vez que eu revivia o momento em que ela me olhou naquele banco da universidade. Como se eu fosse mais do que uma so