Inicio / Lobisomem / Sob a Lua Dividida / Capítulo 02 - Amber (Parte 2)
Capítulo 02 - Amber (Parte 2)

Jace não esperou outra palavra. Tocou levemente meu ombro e me guiou para fora da sala de reuniões. O ar frio da floresta nos envolveu assim que cruzamos a porta de vidro. A noite estava silenciosa, mas o peso da conversa ainda pulsava entre nós.

Caminhamos lado a lado até o deque de madeira que se estendia sobre o penhasco. Lá de cima, dava para ver a floresta escura se estendendo até onde a vista alcançava, e o som distante de um rio cortava o silêncio como um sussurro antigo.

"Não importa o que eles digam lá dentro," Nyx murmurou, "só se lembre: Você é feita para liderar, sim... mas nos seus próprios termos.”

Jace se recostou na grade e me olhou.

— Você está bem?

— Não — respondi, finalmente deixando o controle escorregar da minha voz. — Eu tô cansada de sentir que sou uma peça num tabuleiro, Jace. Como se tudo já estivesse escrito, como se eu fosse só... uma ferramenta.

Ele me olhou com calma, sem pressa de responder. Como só ele sabia fazer.

— Você é mais do que isso, Amber. Sempre foi. Mas... essa decisão? Vai mudar tudo.

Eu encarei a escuridão à frente, sentindo o vento frio no rosto. Lá embaixo, em algum ponto da floresta, a matilha RedBloom se preparava para a mesma guerra silenciosa. Cassandra RedBloom estava pronta para assumir o trono... com um parceiro escolhido a dedo. E agora, eu teria que fazer o mesmo?

"Isso não é justo com você," a voz de Nyx veio suave, mas carregada de força. "Eles te veem como peça, mas eu vejo a guerreira. A fêmea que carrega poder suficiente para mudar tudo inclusive as regras.”

Fechei os olhos por um instante, deixando as palavras dela se assentarem em mim como um manto protetor.

O vento frio soprava do Norte, fazendo as folhas dos pinheiros sussurrarem ao longe. Lá de baixo, a floresta parecia respirar com a noite. A lua, quase cheia, pendia no céu como uma promessa antiga — e um lembrete do que éramos.

Jace se afastou um pouco da grade, os olhos azuis fixos em mim.

— Quer correr um pouco? — perguntou com um meio sorriso. — Só nós dois. Como nos velhos tempos.

Assenti em silêncio. Era tudo o que eu precisava. Liberdade. Ar. Instinto. Longe da pressão dos olhares, dos títulos, das decisões.

"Vai, Amber." Nyx sussurrou, ansiosa sob minha pele. "Vamos sentir o vento, lembrar quem somos. Somos matilha..., mas também somos selvagens.”

A grama sob meus pés parecia vibrar com a energia da transformação que se aproximava. Respirei fundo, fechei os olhos... e deixei acontecer.

O calor começou no centro do peito, se espalhando pelos membros como um fogo líquido. Meus ossos estalaram em silêncio, se reorganizando, se alongando. A pele se retraiu, dando lugar ao pelo escuro como a noite. Senti meu corpo baixar até as quatro patas, os músculos se moldando, os sentidos se ampliando. Cada som, cada cheiro, cada detalhe da floresta era agora parte de mim.

Quando abri os olhos novamente, não era mais Amber, a filha do alfa.

Era Nyx, a loba negra. Ágil, silenciosa, feroz.

Ao meu lado, Jace também se transformava. Seu corpo cresceu, se alongou com elegância e precisão. O pelo branco cobriu suas costas como neve recém caída, com alguns fios creme em volta do pescoço e patas, como se o sol tivesse tocado sua pelagem só um pouco. Seus olhos, ainda os mesmos, brilhavam com familiaridade e proteção.

Ele se aproximou de mim, a cauda baixa num gesto de calma e confiança. Toquei meu focinho no dele. Era nosso gesto antigo. Aquele que só nós dois usávamos.

Você precisava disso”, a voz dele surgiu na minha mente, suave, acolhedora. “A floresta. O silêncio. O instinto. Longe de tudo.”

Eu me sinto viva quando estou assim”, respondi. “Como se pudesse ser qualquer coisa... menos uma peça naquele maldito jogo.”

Corremos.

Descemos o deque e atravessamos o terreno aberto até a borda da floresta. As patas afundavam suavemente na terra úmida, e cada galho que se partia, cada cheiro no ar, era uma nota na sinfonia da natureza ao nosso redor.

Jace corria ao meu lado, os músculos se movendo com precisão sob a pelagem clara. Eu era uma sombra ao seu lado — rápida, silenciosa, com os olhos brilhando no escuro.

Saltamos sobre troncos, contornamos pedras, e nos deixamos guiar pelo instinto. Não havia caminhos certos. Não havia paredes. Apenas nós.

“Você acha que meu pai está certo?” perguntei, diminuindo o ritmo.

“Acho que ele acredita que está”, respondeu Jace. “Mas acreditar que está certo não significa que ele está vendo você.”

Parei perto de uma clareira onde a lua batia forte. A luz prateada refletia no meu pelo escuro, como se eu mesma fosse feita de sombras. Jace parou ao meu lado.

“Eu não quero Martin”, confessei. “Não por ele. Não assim.”

Eu sei.”

Ele se deitou ao meu lado, e eu o imitei. Por um momento, apenas respiramos juntos, sentindo o cheiro da terra, ouvindo os sons da floresta e das batidas dos nossos próprios corações.

Seja o que for que você escolher, Amber... eu vou estar com você”, disse Jace. “Mesmo que o mundo inteiro vire contra você.”

“Infelizmente, temos que voltar”, disse Jace, erguendo o focinho em direção à mansão.

Agora?” resmunguei, girando as orelhas para trás, contrariada. “A gente mal respirou…”

Ele soltou um sopro leve, algo entre um suspiro e uma risada abafada.

“Se você quiser, a gente corre mais dez minutos…, mas depois seu pai vai colocar o mundo abaixo.”

Sigue leyendo este libro gratis
Escanea el código para descargar la APP

Capítulos relacionados

Último capítulo

Explora y lee buenas novelas sin costo
Miles de novelas gratis en BueNovela. ¡Descarga y lee en cualquier momento!
Lee libros gratis en la app
Escanea el código para leer en la APP