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Capítulo 02 - Amber (Parte 3)

Revirei os olhos — ou ao menos, fiz o equivalente canino disso — e me levantei. Eu sabia que ele estava certo. A paz tinha prazo. E já havia acabado.

Corríamos lado a lado quando Jace parou abruptamente, o corpo tenso, orelhas erguidas.

“Você ouviu isso?” ele perguntou por pensamento.

“Ouvi... caiu na água. Perto da cachoeira.”

A tensão tomou conta de mim imediatamente. A cachoeira era a fronteira natural entre os nossos territórios — o último limite da matilha Black. Cruzá-la era mais do que imprudente: era violação. A paz frágil entre as alcateias dependia de cada centímetro respeitado.

"Alerta, Amber." A voz de Nyx soou dentro de mim, firme, mas serena. "Isso pode ser só uma distração... ou o começo de algo maior."

“Vamos ver o que é”, disse ele. “Mas com cuidado.”

Nos aproximamos silenciosamente, as patas afundando suavemente na vegetação molhada, até os primeiros respingos da queda d’água atingirem nossos pelos. Ali, protegidos entre as árvores, nos olhamos.

Vamos mudar”, sussurrei pelo elo mental.

Jace assentiu.

A transformação foi rápida, mas poderosa. Meus músculos se contorceram, os ossos se ajustando com estalos abafados enquanto o pelo se retraía, dando lugar à pele. Em segundos, minha forma humana estava de volta. As roupas, que se fundiam magicamente à nossa pele durante a mudança, retornaram ao seu lugar como sempre — um dom antigo, passado pelas linhagens puras.

Nos esgueiramos pelas pedras até a borda da mata. A cachoeira jorrava à nossa frente, iluminada pela lua. Do outro lado do lago, no território RedBloom, dois corpos humanos estavam em pé, em plena discussão.

— Aquela ali — disse Jace, os olhos estreitados — é Cassandra RedBloom. 

Ela era imponente. Alta, postura altiva, cabelos vermelho-escuros que caíam pelas costas como labaredas. Mas, naquele momento, estava com os braços cruzados e a expressão contida por pura força de vontade. À sua frente, um homem ria.

Era um riso debochado. Provocador.

Ele gesticulava, falando algo que não conseguíamos ouvir daqui, mas era óbvio que zombava dela. Cassandra parecia pronta para explodir — e ele parecia adorar cada segundo.

O homem era forte. De ombros largos, pele dourada e expressão desafiadora. E quando ele riu novamente, jogando a cabeça levemente para trás... eu travei.

Tudo em mim se contraiu, como se um raio silencioso tivesse atravessado meu peito. Um arrepio percorreu minha espinha e se espalhou por cada célula do meu corpo.

"Sente isso?" Nyx sussurrou, quase sem fôlego. "Amber... ele é diferente. Algo nele nos chama.”

Os olhos dele deslizaram pelo lago até se encontrarem com os meus. E naquele instante... o mundo inteiro parou.

Era diferente de tudo que eu já havia sentido. O tempo pareceu desacelerar. Meu coração, por um segundo, esqueceu de bater. E então disparou como se quisesse sair do meu peito.

— Amber? — a voz de Jace soou ao meu lado, tensa. — O que foi?

Eu mal consegui responder.

— Eu... eu não sei. Mas... ele...

Jace seguiu meu olhar e franziu ainda mais o cenho.

— Nunca vi esse cara. Mas ele claramente é RedBloom. E tá zombando dela. Isso não é comum.

Não é”, pensei, mas minha mente estava longe. Estava nele.

"É como se o universo tivesse prendido a respiração," murmurou Nyx, "e nós estivéssemos no centro desse silêncio.”

Por algum motivo, mesmo sem conhecê-lo, mesmo com tudo que representava... algo dentro de mim reagia a ele como se o reconhecesse.

Meus olhos estavam colados naquele homem como se o resto do mundo tivesse desaparecido. A forma como seu corpo se movia — firme, confiante, tão absurdamente à vontade mesmo diante da tensão — fazia meu coração bater mais forte. Os músculos marcados, a pele molhada que refletia o luar como um convite proibido... tudo nele era feito para ser notado.

Mas foi o cheiro... aquele maldito cheiro... que destruiu qualquer réstia de controle que eu ainda tinha.

— É o cheiro dele... — Sussurrei para mim mesma, ofegante. — É... envolvente. Picante. Sensual. Quente... irresistível. Dominante.

Eu me afoguei naquele aroma como se fosse o próprio ar que eu precisava para viver. E minha loba sentiu. Ela sentiu antes de mim. Despertou com um rugido silencioso, faminto.

"Ele."

"Cheiro dele."

"Corre. Vai."

"Amber, não resiste," rosnou Nyx, "ele é importante. Eu sinto isso no meu instinto.”

Não consegui impedir. A transformação foi rápida, impulsiva. Um segundo e já não era mais a mulher controlada. Era a loba negra, pulsando com desejo, instinto e algo mais primitivo do que qualquer ensinamento da minha matilha. Minhas patas cravaram no solo, o corpo em alerta, os olhos brilhando com uma intensidade selvagem.

Tudo dentro de mim gritava para me aproximar. Para cruzar a maldita divisa se fosse preciso. Porque ele estava ali. E ele era meu.

A loba dentro de mim clamava por ele com uma certeza que eu não compreendia.

"Ele é nosso, Amber." Nyx sussurrou. "Mesmo que o mundo diga o contrário.”

Mas então… algo mudou.

Ele olhou para mim de novo. Os olhos azuis, intensos, fixos nos meus. E por um instante, pensei que ele também sentia. Que havia algo ali. Um reconhecimento.

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