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Capítulo 02 - Amber (Parte 1)

Ser filha do alfa da Matilha Black é carregar um nome que nunca me pertenceu de verdade. Desde pequena, fui moldada para liderar, representar e proteger. Mas ninguém nunca me perguntou se eu queria isso. Ninguém nunca me perguntou se eu queria... ser ela.

Amber Black. Futura alfa. Loba de cento e cinquenta anos presa em um mundo onde cada escolha já foi feita por mim.

A sala de reuniões da Casa Black era fria e silenciosa. Paredes de vidro escuro revelavam a floresta densa do lado de fora, enquanto dentro tudo era moderno e impecável: a longa mesa retangular, as cadeiras de couro alinhadas, a tecnologia de última geração. Nenhum símbolo antigo. Nenhum resquício de mitos. Apenas estratégias, ordens e decisões.

Estavam todos ali.

Meu pai, sentado à cabeceira, com sua postura firme de comandante e o olhar calculista de quem carrega o peso de gerações. Minha mãe, sentada ao lado dele, elegante e silenciosa como sempre. Meu tio Dorian, o braço direito do meu pai e conselheiro da matilha. E Jace, meu primo e melhor amigo, com os braços cruzados e o maxilar travado. Ele sabia o que estava por vir. Eu sentia.

— A RedBloom está se movendo — começou meu pai, sem rodeios. — Cassandra RedBloom assumirá a liderança em breve. A menina cresceu, treinou, e agora eles dizem que ela está pronta para o trono.

Cassandra.

Eu a conhecia de longe. Bonita, cruel, estratégica. Uma alfa no sangue e no coração. E, diferente de mim, ela parecia querer o poder.

— E eles já encontraram um parceiro para ela — ele continuou, digitando algo no notebook e projetando uma imagem na tela da parede.

Um homem forte, de postura imponente e olhos escuros. Eu não o conhecia, mas a presença dele já dizia o suficiente. Ele era RedBloom. E estava pronto para a guerra... ou para o domínio.

— Não podemos ficar para trás — meu pai disse, olhando diretamente para mim. — Martin é nossa resposta.

A tensão na sala se espalhou como eletricidade.

— Ele é forte, leal, respeitado. Já provou seu valor incontáveis vezes em campo. E mais importante: está pronto para proteger você... e a liderança da nossa linhagem.

— Então é isso? — perguntei, a voz seca. — Porque Cassandra tem um parceiro, agora eu também preciso ter um?

— Não é sobre ter um parceiro, Amber — respondeu meu tio, com o tom diplomático que ele sempre usava quando queria me convencer. — É sobre equilíbrio. Força. Estratégia. Se os RedBloom formam um par de alfas, precisamos fazer o mesmo.

— E Martin é a sua melhor jogada? — questionei, cruzando os braços. — Nem sequer perguntaram o que eu quero.

Meu pai bateu a palma da mão sobre a mesa. Não com raiva — mas com decisão.

— Isso não é uma questão de desejo, Amber. É uma questão de dever.

"Não se cale, Amber." A voz surgiu repentina dentro de mim, firme como o aço e ao mesmo tempo acolhedora como um abraço quente na escuridão.

Nyx.

Minha loba interior despertava, agitada sob a superfície da minha pele.

"Você tem o direito de lutar por si. Não deixe que decidam seu destino por conveniência. Nós somos mais do que isso. Você é mais do que isso."

Meu coração bateu mais forte. Por um instante, me ancorei naquela presença familiar feroz, instintiva, minha.

Olhei para Jace. Ele não disse nada, mas seus olhos diziam tudo: Eu estou com você, aconteça o que acontecer.

— E se eu não quiser isso? — minha voz soou mais baixa do que eu esperava, mas firme. — E se eu quiser escolher por mim? E se eu quiser algo diferente?

O silêncio caiu pesado.

Meu pai me olhou como se eu tivesse dito a coisa mais absurda do mundo. Não de forma cruel, mas com a frustração silenciosa de alguém que vê um plano perfeito ameaçado por uma única peça fora de lugar.

— Amber — ele disse, com aquele tom de voz que sempre usava quando queria que eu me lembrasse de quem eu era —, a Matilha Black conta com você. Você é a próxima alfa. Seu sangue, sua força, sua liderança... são o que mantém todos nós seguros. Essa união com Martin não é apenas uma escolha estratégica. É proteção. É continuidade. É o que precisamos.

— E o que eu preciso? — perguntei, encarando-o. — Alguém pensou nisso?

"Eles não veem o que você sente, mas eu vejo." Nyx sussurrou, mais suave agora. "Eu sinto sua dor, sua angústia. Você não está sozinha nessa luta. Eu estou com você. Sempre estarei.”

Minha mãe desviou o olhar. Meu tio ajeitou a gravata, desconfortável. Martin, que não estava presente, parecia mais uma sombra pairando sobre a sala do que uma pessoa de verdade. Mas antes que meu pai respondesse, uma cadeira se arrastou.

Jace se levantou.

Ele foi até mim devagar, o maxilar ainda travado, como se cada palavra que segurava fosse uma luta interna.

— Com todo o respeito, Alfa — ele disse, dirigindo-se ao meu pai —, gostaria de pedir permissão para levar Amber lá fora. Só por alguns minutos. Ela precisa respirar... e pensar.

Meu pai observou o primo com um olhar avaliador. Jace era um ano mais velho que eu — cento e cinquenta e um anos —, mas sempre me tratou como igual. Não como a futura alfa, não como a filha do líder... apenas como Amber.

Após alguns segundos, o Alfa Black assentiu com um breve movimento de cabeça.

— Mas não demorem. Ainda temos decisões a tomar.

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