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Capítulo 01 - Cassandra (Parte 4)

Com o novo pensamento veio um sentimento de plenitude.

Vou acabar de uma vez por todas com essa rixa sem cabimento, escolher um parceiro é pessoal de cada um. Amar e não ser correspondido também é, e eu entendo o Alfa. Mas já durou gerações demais e sinto que está chegando o momento de finalmente ser aniquilada do nosso meio. Algo em meu íntimo me avisa de que vamos precisar juntar forças para algo muito poderoso e que pode nos destruir se lutarmos em frentes diferentes.

Depende unicamente de nós.

Amber e eu. 

— Aaron, o que acha de ... — Percebo que meu primo está petrificado ao meu lado, encarando um ponto do outro lado, no território dos Black. Ergo a mão e dou um leve cutucão em seu ombro, mas ele não reage e fico preocupada. 

Procurando qualquer ameaça nos arredores, sigo seu olhar e me deparo com duas formas vívidas encostadas no tronco das árvores. Os cabelos negros da mulher estão esvoaçantes, mas por algum motivo seu cheiro não chega até mim. Seus olhos são de um azul cristalino e brilham intensamente conforme encaram meu primo. Sigo atentamente o leve movimento ao seu lado e a segunda forma se apresenta a mim como um homem forte, a tatuagem de um lobo reluzia em seu braço musculoso e seus olhos encaravam meu primo com visível preocupação.

Sem que eu estivesse pronta para o impacto, seus olhos mudam de foco e cravam-se nos meus.

— Mas..., o que... — Resmungo baixinho, com a voz trêmula quando sou atingida como um raio.

“É ele Cassie” ouço a voz da minha loba grunhir em meu subconsciente. “Nossa espera finalmente acabou.”

“Do que está falando?”

“Nosso parceiro está do outro lado do lago”

“Impossível” respondo, completamente indignada com o que diz.

Seus olhos azuis, parecidos com os da mulher ao seu lado, atingem um ponto quase branco que reluzem a distância, como se ele estivesse em conflito com seu lobo e me encaram com um fervor que deixa meus membros trêmulos.

O tempo parecia que tinha parado, o som da queda d’água da cachoeira ficou distante e meu coração acelerou a batida como se a qualquer momento fosse levantar voo. O que estava havendo comigo? Minha visão ficou mais nítida e percebi que minha loba estava tomando a frente sem que eu pudesse travá-la, o homem ficou ainda mais deslumbrante agora em que podia enxergá-lo com clareza.

Meus caninos ameaçaram se mostrar e por um leve momento, entrei em pânico.

“O que está acontecendo Lyra?”

“Ele está nos chamando... é uma ligação poderosa, não dá para evitar”

“Contenha-se”

“Cassandra, é o nosso destinado... Ele é nosso”

“Não!”

Nunca, em todos meus cento e cinquenta anos fui acometida por tamanha falta de controle, nem quando estava verdadeiramente brava minha forma lupina me dominava sem que esse fosse um desejo inteiramente meu e agora, esse homem aparece, me deixando totalmente descontrolada. 

O encaro com mais atenção, absorvendo todos os seus detalhes e seus cabelos têm o tom levemente acobreado, muitos semelhantes ao meu. Seu corpo parecia ter sido esculpido à mão pela própria deusa, seu peito subia e descia em uma cadência lenta, como se o ar estivesse rarefeito e ele estivesse impossibilitado de respirar com perfeição.

Então, acontece.

Dando um ligeiro passo a frente, o homem chega mais perto do lago e o seu cheiro me atinge na mesma hora. Pinho recém cortado, âmbar, almíscar. Meu peito vibra reconhecendo seu cheiro, um ronronar lento e alto me escapa, e retumba pelo local o atingindo do outro lado da margem.

“Lyra, controle-se, ele é um Black, é um inimigo.”

“Ele pode ser inimigo de todos os outros, mas não da gente”

Vejo o momento exato em que suas garras aparecem, seus caninos crescem e seu olhar brilha em completa posse, como se eu pertencesse unicamente a ele. O rosnado que sai do seu peito me deixa trêmula, me faz desejar atravessar a margem do rio para puxá-lo a mim.

Procuro dentro de mim qualquer indício de sanidade e dando um passo para trás, caio de volta em minhas patas, dando-lhe uma visão privilegiada da minha loba, que abana a cauda e ronrona manhosa, tentando trazê-lo para perto. Tentando puxá-lo com uma corda invisível que nos liga. 

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