Com o novo pensamento veio um sentimento de plenitude.
Vou acabar de uma vez por todas com essa rixa sem cabimento, escolher um parceiro é pessoal de cada um. Amar e não ser correspondido também é, e eu entendo o Alfa. Mas já durou gerações demais e sinto que está chegando o momento de finalmente ser aniquilada do nosso meio. Algo em meu íntimo me avisa de que vamos precisar juntar forças para algo muito poderoso e que pode nos destruir se lutarmos em frentes diferentes.
Depende unicamente de nós.
Amber e eu.
— Aaron, o que acha de ... — Percebo que meu primo está petrificado ao meu lado, encarando um ponto do outro lado, no território dos Black. Ergo a mão e dou um leve cutucão em seu ombro, mas ele não reage e fico preocupada.
Procurando qualquer ameaça nos arredores, sigo seu olhar e me deparo com duas formas vívidas encostadas no tronco das árvores. Os cabelos negros da mulher estão esvoaçantes, mas por algum motivo seu cheiro não chega até mim. Seus olhos são de um azul cristalino e brilham intensamente conforme encaram meu primo. Sigo atentamente o leve movimento ao seu lado e a segunda forma se apresenta a mim como um homem forte, a tatuagem de um lobo reluzia em seu braço musculoso e seus olhos encaravam meu primo com visível preocupação.
Sem que eu estivesse pronta para o impacto, seus olhos mudam de foco e cravam-se nos meus.
— Mas..., o que... — Resmungo baixinho, com a voz trêmula quando sou atingida como um raio.
“É ele Cassie” ouço a voz da minha loba grunhir em meu subconsciente. “Nossa espera finalmente acabou.”
“Do que está falando?”
“Nosso parceiro está do outro lado do lago”
“Impossível” respondo, completamente indignada com o que diz.
Seus olhos azuis, parecidos com os da mulher ao seu lado, atingem um ponto quase branco que reluzem a distância, como se ele estivesse em conflito com seu lobo e me encaram com um fervor que deixa meus membros trêmulos.
O tempo parecia que tinha parado, o som da queda d’água da cachoeira ficou distante e meu coração acelerou a batida como se a qualquer momento fosse levantar voo. O que estava havendo comigo? Minha visão ficou mais nítida e percebi que minha loba estava tomando a frente sem que eu pudesse travá-la, o homem ficou ainda mais deslumbrante agora em que podia enxergá-lo com clareza.
Meus caninos ameaçaram se mostrar e por um leve momento, entrei em pânico.
“O que está acontecendo Lyra?”
“Ele está nos chamando... é uma ligação poderosa, não dá para evitar”
“Contenha-se”
“Cassandra, é o nosso destinado... Ele é nosso”
“Não!”
Nunca, em todos meus cento e cinquenta anos fui acometida por tamanha falta de controle, nem quando estava verdadeiramente brava minha forma lupina me dominava sem que esse fosse um desejo inteiramente meu e agora, esse homem aparece, me deixando totalmente descontrolada.
O encaro com mais atenção, absorvendo todos os seus detalhes e seus cabelos têm o tom levemente acobreado, muitos semelhantes ao meu. Seu corpo parecia ter sido esculpido à mão pela própria deusa, seu peito subia e descia em uma cadência lenta, como se o ar estivesse rarefeito e ele estivesse impossibilitado de respirar com perfeição.
Então, acontece.
Dando um ligeiro passo a frente, o homem chega mais perto do lago e o seu cheiro me atinge na mesma hora. Pinho recém cortado, âmbar, almíscar. Meu peito vibra reconhecendo seu cheiro, um ronronar lento e alto me escapa, e retumba pelo local o atingindo do outro lado da margem.
“Lyra, controle-se, ele é um Black, é um inimigo.”
“Ele pode ser inimigo de todos os outros, mas não da gente”
Vejo o momento exato em que suas garras aparecem, seus caninos crescem e seu olhar brilha em completa posse, como se eu pertencesse unicamente a ele. O rosnado que sai do seu peito me deixa trêmula, me faz desejar atravessar a margem do rio para puxá-lo a mim.
Procuro dentro de mim qualquer indício de sanidade e dando um passo para trás, caio de volta em minhas patas, dando-lhe uma visão privilegiada da minha loba, que abana a cauda e ronrona manhosa, tentando trazê-lo para perto. Tentando puxá-lo com uma corda invisível que nos liga.
Seus olhos absorvem a imagem à sua frente e um sorriso deslumbrante nasce em seus lábios, fazendo com que Lyra, minha loba teimosa que tomou conta de tudo, se erice completamente. Meus olhos não o abandonam um segundo sequer e como se estivesse respondendo ao chamado invisível do meu animal, seu lobo toma a frente. Fico congelada no tempo, observando seus longos pelos brancos aparecerem, seu focinho se arrebitar e seu olhar cravar em mim com mais intensidade. Sentando-se sobre as patas, o grande lobo branco ergue a cabeça e uiva alto, forte e sou tomada pela necessidade de respondê-lo. Nossos uivos ressoam pela margem, o rio está como testemunha de algo que não consigo compreender e preenchida com uma força diferente, consigo recuperar o controle do meu corpo, enlouquecendo Lyra no processo e decidida, começo me movimentar levemente para trás. O lobo rosna enfurecido quando percebe que estou me afastando cada vez mais do nosso ponto de conexão, dá alguns passos para frente sendo imp
Ser filha do alfa da Matilha Black é carregar um nome que nunca me pertenceu de verdade. Desde pequena, fui moldada para liderar, representar e proteger. Mas ninguém nunca me perguntou se eu queria isso. Ninguém nunca me perguntou se eu queria... ser ela.Amber Black. Futura alfa. Loba de cento e cinquenta anos presa em um mundo onde cada escolha já foi feita por mim.A sala de reuniões da Casa Black era fria e silenciosa. Paredes de vidro escuro revelavam a floresta densa do lado de fora, enquanto dentro tudo era moderno e impecável: a longa mesa retangular, as cadeiras de couro alinhadas, a tecnologia de última geração. Nenhum símbolo antigo. Nenhum resquício de mitos. Apenas estratégias, ordens e decisões.Estavam todos ali.Meu pai, sentado à cabeceira, com sua postura firme de comandante e o olhar calculista de quem carrega o peso de gerações. Minha mãe, sentada ao lado dele, elegante e silenciosa como sempre. Meu tio Dorian, o braço direito do meu pai e conselheiro da matilha. E
Jace não esperou outra palavra. Tocou levemente meu ombro e me guiou para fora da sala de reuniões. O ar frio da floresta nos envolveu assim que cruzamos a porta de vidro. A noite estava silenciosa, mas o peso da conversa ainda pulsava entre nós.Caminhamos lado a lado até o deque de madeira que se estendia sobre o penhasco. Lá de cima, dava para ver a floresta escura se estendendo até onde a vista alcançava, e o som distante de um rio cortava o silêncio como um sussurro antigo."Não importa o que eles digam lá dentro," Nyx murmurou, "só se lembre: Você é feita para liderar, sim... mas nos seus próprios termos.”Jace se recostou na grade e me olhou.— Você está bem?— Não — respondi, finalmente deixando o controle escorregar da minha voz. — Eu tô cansada de sentir que sou uma peça num tabuleiro, Jace. Como se tudo já estivesse escrito, como se eu fosse só... uma ferramenta.Ele me olhou com calma, sem pressa de responder. Como só ele sabia fazer.— Você é mais do que isso, Amber. Semp
Revirei os olhos — ou ao menos, fiz o equivalente canino disso — e me levantei. Eu sabia que ele estava certo. A paz tinha prazo. E já havia acabado.Corríamos lado a lado quando Jace parou abruptamente, o corpo tenso, orelhas erguidas.“Você ouviu isso?” ele perguntou por pensamento.“Ouvi... caiu na água. Perto da cachoeira.”A tensão tomou conta de mim imediatamente. A cachoeira era a fronteira natural entre os nossos territórios — o último limite da matilha Black. Cruzá-la era mais do que imprudente: era violação. A paz frágil entre as alcateias dependia de cada centímetro respeitado."Alerta, Amber." A voz de Nyx soou dentro de mim, firme, mas serena. "Isso pode ser só uma distração... ou o começo de algo maior."“Vamos ver o que é”, disse ele. “Mas com cuidado.”Nos aproximamos silenciosamente, as patas afundando suavemente na vegetação molhada, até os primeiros respingos da queda d’água atingirem nossos pelos. Ali, protegidos entre as árvores, nos olhamos.“Vamos mudar”, sussur
Mas ele apenas sorriu de canto, como se soubesse de algo que eu não sabia.E então… virou-se e desapareceu entre as árvores, sumindo pela floresta como se nunca tivesse estado ali.Foi como se alguém tivesse arrancado o chão debaixo das minhas patas. O elo que me puxava com tanta força se rompeu subitamente, e o vazio que ficou foi quase doloroso. Minhas pernas fraquejaram. Dei um passo para trás, arfando alto.Voltei a mim como quem desperta de um sonho intenso demais. O mundo voltou com violência. O cheiro da floresta, o som da água da cachoeira, a presença de Jace logo atrás de mim.Fiquei ali, parada, olhando para o ponto onde ele sumiu, sentindo o eco de algo que não fazia sentido..., mas que me marcaria para sempre.“Quem... quem era ele?” perguntei, mais para mim do que para Jace.Fiquei parada ali por longos segundos, observando o ponto exato onde ele desapareceu entre as árvores. O coração ainda batia como tambores antigos, e meu lobo rosnava baixinho dentro de mim, frustrado
Alfa: É o desígnio do filho primogênito do atual alfa, podendo ser menino ou menina.Conselho Alpha: Grupo dos lobos líderes, que participa de reuniões importantes para melhorar o futuro da matilha.Beta: Braço direito da futura Alfa Ômegas: Membros da família real da matilha, como irmãos do alfa, primos e demais participantes. Gamas: Membros da matilha, podendo ser machos ou fêmeas. Guardiões: Guardas da Matilha e das fronteiras.Vareth: O elo que uni as almas destinadas a ficarem juntas. Lua de Sangue: Acontece apenas quando um novo alfa está pronto para se tornar líder.Monte Lunar: Zona neutra onde é realizada coroações e casamentos de todas matilhas de Lunaris. Acasalamento: Quando dois parceiros finalmente se aceitam de corpo e alma, marcando um ao outro para sempre. Ciclo de Calor: Período intenso que acomete as fêmeas que só passa quando se relacionam com seus parceiros. Caso não ocorra, torna-se insuportável, causando muito sofrimento para ambos. Podem durar até 7 dias.
A reunião do conselho terminou como todas as outras e nem me surpreendia mais. Cassandra mais uma vez se levantou enfurecida e deu as costas deixando todo mundo boquiaberto com sua atitude. Minha prima era valente, destemida, uma alfa perfeita, nasceu destinada a liderar e eu nasci destinado a ser o seu braço direito, para apoiá-la em quaisquer circunstâncias. Observo-a sair do grande salão a passos largos, fúria emanando dos seus poros e no meu íntimo, sinto graça.Cassandra está cansada de saber que o conselho não vai mudar, se enfurecer e sair pisando dura só os faz perceber o quão afetada ela está, por isso pressionam mais para encontrar a leve fissura e fazê-la ceder. O que o conselho não percebeu ainda, é que minha prima nunca está sozinha.Levanto-me gentilmente e antes que eu possa dar as costas, a voz do alfa me faz parar.— Aaron, vá procurar aquela mimada da sua prima e traga-a de volta. — Meu tio, Benjamin, o poderoso alfa da matilha Redbloom ordena. — Precisamos ajustar e
Reviro os olhos para o que diz, ela sempre reage de forma exagerada e eu sempre vou jogá-la no lago quando tiver oportunidade. Ninguém manda ela ser tão desatenta. Para não ficarmos em uma conversa unilateral, ergo-me mudando de forma, mas no segundo em que meus olhos se encontram com o seu, não me contenho mais e explodo em uma risada capaz de derrubar as árvores dos arredores de tão alta. Começo a soluçar de tanto rir e preciso me dobrar, apoiando-me nos joelhos para recuperar o fôlego e conseguir falar.— Tinha que ver, seus olhos se arregalaram quando percebeu que estava no entorno da cachoeira e não ia conseguir fugir. — Digo e minha voz sai estrangulada devido a risada alta que soltei segundos atrás. — Você é tão fácil de distrair Cassie, só precisei passar na sua frente e tomar outro rumo.Seu semblante muda e nos próximos minutos, entramos em uma conversa séria da qual queria evitar por mais alguns instantes, não queria que clima ameno e tranquilo no qual estávamos mudasse, m