— Sabe que se fosse possível me casava com você para que parassem de te encher o saco, mas não posso. — Ele diz sério, me olhando com seus olhos preocupados.
— Jamais permitiria tal coisa... Eu sei Aaron, sinto em meu âmago, que meu parceiro existe, ele está em algum lugar desse mundo, só não o encontrei ainda.
— Eu não...
— Você não acredita nessa possibilidade, te entendo, não existe nenhum casal que seja destinado em nossa matilha para provar que isso é real... mas eu sinto! Juro que sinto!
— Acredito em você!
— Mesmo?
— Claro lobinha e acho que temos pouco tempo para encontrá-lo, antes que seu pai te force ao matrimônio com o Andrei.
Bufo e olho para a lua, inconformada em como o destino pode ser tão ordinário dessa forma. Meus pais puniram a xamã de nossa aldeia por ter me contado histórias antigas, sobre os destinados e como eram raros os que conseguiam de encontrar nesse mundo enorme. Que em Lunaris não havia histórico de nenhum até o presente momento e foi nessa hora, que eu decidi que seria a primeira a encontrá-lo, para deixar às gerações seguintes confiantes de que sim, era possível ser verdadeiramente completa no mundo.
Mas não sabia por onde começar a procurar.
— Precisamos conversar sobre a matilha Black. — Aaron começa e sinto um comichão me atingir na mesma hora.
Cresci sendo ensinada sobre como os Black eram e ouvi histórias que tudo começou quando um alfa antepassado se apaixonou por uma alfa Redbloom. O que ele não esperava, era que ela já era apaixonada por um lobo que cresceu com ela, foram amigos próximos, cúmplice e companheiro. Quando chegou o momento de ela ascender como líder, não houve qualquer relutância sobre casarem-se, já que o sentimento entre os dois afloraram com o tempo e somente a hipótese de não ficarem juntos era desoladora. O Alfa Black não aceitou a recusa, declarou guerra aos Redbloom alegando que se ela não fosse dele, não seria de ninguém mais e aniquilaria nossa matilha de uma vez por todas.
Obviamente ele não conseguiu esse intento, a briga foi feia e com muitas baixas, mas as matilhas persistiram bravamente e houve o recuo dos Black. Mas o Alfa fez da vingança sua nova razão de viver, e tomou para si a missão de fazer todos seus descendentes odiarem a matilha Redbloom.
Meus antepassados também não fizeram por menos, a Alfa jurou vingança a todos que foram mortos por causa de um sentimento obsessivo e desde então, nos odiamos com o sangue quente fervendo em nossas veias.
— Ouvi dizer que Amber também será nomeada a nova líder da matilha em poucos meses, mas, ela não foi obrigada a casar como você.
— Jurava que eles eram mais antiquados do que nós.
— Talvez eles ainda não saibam que seu pai encontrou um pretendente para você... não me surpreenderia se logo Amber fosse obrigada a casar também.
Solto um resmungo baixo.
— Acha que ela se submeteria a isso?
— Não sei.
O pouco que conheço sobre Amber, é que ela não abaixaria a cabeça facilmente para qualquer desígnio do conselho da matilha e devo admitir, essa atitude de não se deixar levar por decisões de outras pessoas, me faz querer ser alguém que não se rende fácil. Desde sempre ouço sobre os passos que ela dá, sobre os estudos que ela fez e o único fato de não a conhecer, de meus pais ficarem nos comparando, me faz odiá-la.
A voz do meu pai volta com tudo para meus ouvidos.
“Amber está pronta para liderar, pronta para nos atacar, enquanto você fica desdenhando de tudo o que aconteceu no passado da nossa matilha. Você tem que ser melhor do que ela, tem que ser superior a todos em Lunaris, tem que ser uma líder nata”
“As vezes me pergunto por que a deusa lua me deu essa missão ingrata de criar uma alfa, que quer ser inferior aos seus inimigos”
“Entenda de uma vez por todas Cassandra, esteja um passo à frente dos seus inimigos ou eles passaram por cima de você.”
Não aguentava mais ser imposta aos desejos da matilha, eu seria uma líder poderosa e todos me temeriam, não pelo histórico familiar, mas por minha honra e lealdade. Começaria com uma reunião com a nova alfa da matilha Black. Sei que isso não será fácil tampouco rápido, conseguir agendar qualquer coisa que seja entre nossas matilhas é terrivelmente perigoso. Talvez o jeito seria entrar em contato com ela por meio eletrônico, mas usando um nome distinto, pelo menos, até Aaron descobrir se nossos e-mails seriam supervisionados.
Com o novo pensamento veio um sentimento de plenitude.Vou acabar de uma vez por todas com essa rixa sem cabimento, escolher um parceiro é pessoal de cada um. Amar e não ser correspondido também é, e eu entendo o Alfa. Mas já durou gerações demais e sinto que está chegando o momento de finalmente ser aniquilada do nosso meio. Algo em meu íntimo me avisa de que vamos precisar juntar forças para algo muito poderoso e que pode nos destruir se lutarmos em frentes diferentes.Depende unicamente de nós.Amber e eu. — Aaron, o que acha de ... — Percebo que meu primo está petrificado ao meu lado, encarando um ponto do outro lado, no território dos Black. Ergo a mão e dou um leve cutucão em seu ombro, mas ele não reage e fico preocupada. Procurando qualquer ameaça nos arredores, sigo seu olhar e me deparo com duas formas vívidas encostadas no tronco das árvores. Os cabelos negros da mulher estão esvoaçantes, mas por algum motivo seu cheiro não chega até mim. Seus olhos são de um azul cristal
Seus olhos absorvem a imagem à sua frente e um sorriso deslumbrante nasce em seus lábios, fazendo com que Lyra, minha loba teimosa que tomou conta de tudo, se erice completamente. Meus olhos não o abandonam um segundo sequer e como se estivesse respondendo ao chamado invisível do meu animal, seu lobo toma a frente. Fico congelada no tempo, observando seus longos pelos brancos aparecerem, seu focinho se arrebitar e seu olhar cravar em mim com mais intensidade. Sentando-se sobre as patas, o grande lobo branco ergue a cabeça e uiva alto, forte e sou tomada pela necessidade de respondê-lo. Nossos uivos ressoam pela margem, o rio está como testemunha de algo que não consigo compreender e preenchida com uma força diferente, consigo recuperar o controle do meu corpo, enlouquecendo Lyra no processo e decidida, começo me movimentar levemente para trás. O lobo rosna enfurecido quando percebe que estou me afastando cada vez mais do nosso ponto de conexão, dá alguns passos para frente sendo imp
Ser filha do alfa da Matilha Black é carregar um nome que nunca me pertenceu de verdade. Desde pequena, fui moldada para liderar, representar e proteger. Mas ninguém nunca me perguntou se eu queria isso. Ninguém nunca me perguntou se eu queria... ser ela.Amber Black. Futura alfa. Loba de cento e cinquenta anos presa em um mundo onde cada escolha já foi feita por mim.A sala de reuniões da Casa Black era fria e silenciosa. Paredes de vidro escuro revelavam a floresta densa do lado de fora, enquanto dentro tudo era moderno e impecável: a longa mesa retangular, as cadeiras de couro alinhadas, a tecnologia de última geração. Nenhum símbolo antigo. Nenhum resquício de mitos. Apenas estratégias, ordens e decisões.Estavam todos ali.Meu pai, sentado à cabeceira, com sua postura firme de comandante e o olhar calculista de quem carrega o peso de gerações. Minha mãe, sentada ao lado dele, elegante e silenciosa como sempre. Meu tio Dorian, o braço direito do meu pai e conselheiro da matilha. E
Jace não esperou outra palavra. Tocou levemente meu ombro e me guiou para fora da sala de reuniões. O ar frio da floresta nos envolveu assim que cruzamos a porta de vidro. A noite estava silenciosa, mas o peso da conversa ainda pulsava entre nós.Caminhamos lado a lado até o deque de madeira que se estendia sobre o penhasco. Lá de cima, dava para ver a floresta escura se estendendo até onde a vista alcançava, e o som distante de um rio cortava o silêncio como um sussurro antigo."Não importa o que eles digam lá dentro," Nyx murmurou, "só se lembre: Você é feita para liderar, sim... mas nos seus próprios termos.”Jace se recostou na grade e me olhou.— Você está bem?— Não — respondi, finalmente deixando o controle escorregar da minha voz. — Eu tô cansada de sentir que sou uma peça num tabuleiro, Jace. Como se tudo já estivesse escrito, como se eu fosse só... uma ferramenta.Ele me olhou com calma, sem pressa de responder. Como só ele sabia fazer.— Você é mais do que isso, Amber. Semp
Revirei os olhos — ou ao menos, fiz o equivalente canino disso — e me levantei. Eu sabia que ele estava certo. A paz tinha prazo. E já havia acabado.Corríamos lado a lado quando Jace parou abruptamente, o corpo tenso, orelhas erguidas.“Você ouviu isso?” ele perguntou por pensamento.“Ouvi... caiu na água. Perto da cachoeira.”A tensão tomou conta de mim imediatamente. A cachoeira era a fronteira natural entre os nossos territórios — o último limite da matilha Black. Cruzá-la era mais do que imprudente: era violação. A paz frágil entre as alcateias dependia de cada centímetro respeitado."Alerta, Amber." A voz de Nyx soou dentro de mim, firme, mas serena. "Isso pode ser só uma distração... ou o começo de algo maior."“Vamos ver o que é”, disse ele. “Mas com cuidado.”Nos aproximamos silenciosamente, as patas afundando suavemente na vegetação molhada, até os primeiros respingos da queda d’água atingirem nossos pelos. Ali, protegidos entre as árvores, nos olhamos.“Vamos mudar”, sussur
Mas ele apenas sorriu de canto, como se soubesse de algo que eu não sabia.E então… virou-se e desapareceu entre as árvores, sumindo pela floresta como se nunca tivesse estado ali.Foi como se alguém tivesse arrancado o chão debaixo das minhas patas. O elo que me puxava com tanta força se rompeu subitamente, e o vazio que ficou foi quase doloroso. Minhas pernas fraquejaram. Dei um passo para trás, arfando alto.Voltei a mim como quem desperta de um sonho intenso demais. O mundo voltou com violência. O cheiro da floresta, o som da água da cachoeira, a presença de Jace logo atrás de mim.Fiquei ali, parada, olhando para o ponto onde ele sumiu, sentindo o eco de algo que não fazia sentido..., mas que me marcaria para sempre.“Quem... quem era ele?” perguntei, mais para mim do que para Jace.Fiquei parada ali por longos segundos, observando o ponto exato onde ele desapareceu entre as árvores. O coração ainda batia como tambores antigos, e meu lobo rosnava baixinho dentro de mim, frustrado
Alfa: É o desígnio do filho primogênito do atual alfa, podendo ser menino ou menina.Conselho Alpha: Grupo dos lobos líderes, que participa de reuniões importantes para melhorar o futuro da matilha.Beta: Braço direito da futura Alfa Ômegas: Membros da família real da matilha, como irmãos do alfa, primos e demais participantes. Gamas: Membros da matilha, podendo ser machos ou fêmeas. Guardiões: Guardas da Matilha e das fronteiras.Vareth: O elo que uni as almas destinadas a ficarem juntas. Lua de Sangue: Acontece apenas quando um novo alfa está pronto para se tornar líder.Monte Lunar: Zona neutra onde é realizada coroações e casamentos de todas matilhas de Lunaris. Acasalamento: Quando dois parceiros finalmente se aceitam de corpo e alma, marcando um ao outro para sempre. Ciclo de Calor: Período intenso que acomete as fêmeas que só passa quando se relacionam com seus parceiros. Caso não ocorra, torna-se insuportável, causando muito sofrimento para ambos. Podem durar até 7 dias.
A reunião do conselho terminou como todas as outras e nem me surpreendia mais. Cassandra mais uma vez se levantou enfurecida e deu as costas deixando todo mundo boquiaberto com sua atitude. Minha prima era valente, destemida, uma alfa perfeita, nasceu destinada a liderar e eu nasci destinado a ser o seu braço direito, para apoiá-la em quaisquer circunstâncias. Observo-a sair do grande salão a passos largos, fúria emanando dos seus poros e no meu íntimo, sinto graça.Cassandra está cansada de saber que o conselho não vai mudar, se enfurecer e sair pisando dura só os faz perceber o quão afetada ela está, por isso pressionam mais para encontrar a leve fissura e fazê-la ceder. O que o conselho não percebeu ainda, é que minha prima nunca está sozinha.Levanto-me gentilmente e antes que eu possa dar as costas, a voz do alfa me faz parar.— Aaron, vá procurar aquela mimada da sua prima e traga-a de volta. — Meu tio, Benjamin, o poderoso alfa da matilha Redbloom ordena. — Precisamos ajustar e