Capítulo Dois

Sofia

Os dias passaram como um piscar de olhos, o que lamentei profundamente com aproximação da cerimônia. A cada dia que passava eu me sentia mas angustiada, aflita com esse dia. O dia que deveria ser o mas feliz da minha vida, agora é uma real condenação ao meu sofrimento, ao lado de um homem sem um rosto. Casar com um homem a quem não amo, e nem ao menos sei seu nome. Implorei para que Mamãe, me dissesse qualquer informação sobre ele, mas como era de se esperar ela negou, o medo que sente de Papai, ou melhor de perdê-lo vai além do seu amor de Mãe, de protetora. Me sinto deslocada, apavorada, vários pensamentos sobre que tipo de pessoa eu veria no altar era sufocante, e os comentários desastrosas de Laura, não ajudaram em nada. Eu evitava minha irmã caçula mas do que antes, como era de se esperar Mamãe, contou toda a história a Laura, sobre o casamento arranjado, e com certeza o motivo disso está acontecendo já que ela não poupou esforços em fazer comentários maldosos, e piadas as custas do meu peso. Eu sentia uma pressão aumentar sobre mim, um desespero interno ao pensar na lua de mel, será que ele me tomará a força? Ou não colocara um dedo em mim por conta de minha aparência, meu peso? Mas ele aceitou casar comigo, então imagino que já tenha visto alguma foto minha, ou não. Papai, aparentava está tão desesperado por me casar que me nego a acreditar que ele tenha cometido esse deslize. Minhas mãos soam, a boca seca, um calafrio percorre minha espinha causando arrepios, sinto frio mas o tempo hoje é de sol. Sei que muitos dos sócios de Papai, são homens com idades avançada, não conheço nenhum que esteja abaixo da casa dos sessenta anos. A dois dias cogitei a ideia de fugir, ir embora dessa loucura. Mas me contive, não sou mas uma garotinha assustada. Sou uma mulher forte, não deixarei um pensamento leviano me assombrar.

Quando Mamãe, chegou ao meu quarto já estava desperta. Mal tinha dormido a noite passada, e a noite anterior. Ela fez questão de acompanhar cada passo da arrumação, e escolher tudo. Desde o meu penteado até meu vestido. Laura, não saiu do quarto um minuto sequer, saboreando do meu sofrimento e angustia. Mamãe, me proibiu de comer, ela queria que eu aparentasse ser mas magra, o que séria impossível. Até mesmo uma cinta reforçada ela me fez vestir, dificultando minha respiração. Não a contestei, me sentia fraca para rebater, abalada. Mesmo se eu pudesse comer, não faria. Meu estômago está embrulhado, nenhum alimento passaria por minha garganta. Qualquer oportunidade que aparecia Laura, fazia uma crítica. Eu via bem no olhar dela que queria me destabilizar, mexer com meus sentimentos. E de certa forma ela conseguiu, mas não vou admitir e dar esse gostinho a ela.

— Sofia, eu tenho que admitir. Você aparenta está dois quilos mais magra querida — diz sorridente, noto o sarcasmo em sua voz ao dizer a última palavra. Um brilho maldoso se destaca nos olhos verdes — não que isso faça alguma diferença, não é. Afinal, milagres não existem.

Mordo o lábio inferior, seu comentário me irrita. Ela anda em volta de mim como um lobo que acabou de achar sua presa. Seu vestido vermelho destaca sua pele pálida como porcelana, e as curvas turduosas do seu corpo. As pernas longas, o bumbum redondo e os seios medianos. O longo cabelo loiro descendo em cascatas por sua costas desnudas. Laura, é atraente, linda. Não conheço um homem sequer que não cairia aos seus pés. Volto meus olhos em direção ao espelho a minha frente. A saia bufante se destaca, segundo Mamãe, daria mas curva a minha cintura. Mas a cima as pedras cravejadas brilham no tecido branco, o espartilho espreme meus seios fartos. Meu cabelo preso em um penteado bem feito, a maquiagem leve diferente de Laura, com batom vermelho chamativo e cílios postiços longos.

— Uma pena não ser mais magra — diz tocando meus ombros cobertos pela renda longa até meu pulso.

Sua boca cospe o veneno, sinto que cheguei ao limite. Seus insultos ao meu peso é insuportável, sempre fui pacífica, tenho horror a violência, mas a palma da minha mão coça com a vontade incontrolável de estápea-la. Abro a boca para retrucar, mas me detenho com a entrada súbita de Mamãe. Ela sorri esplendidamente, os olhos brilhando. Qualquer pessoa que olhasse para ela agora, pensaria que isso é um casamento real, com amor e felicidade. Mas não é, é minha sentença a uma vida miserável, um casamento forçado. Só Deus, sabe as atrocidades que irei enfrentar.

— Sofi! Sofi! O seu futuro marido acabou de chegar.

Laura, se afasta. Mamãe, segura minhas mãos animada, enquanto eu sinto que estou sendo enterrada vida. Sinto calafrios em minhas espinhas, o suor gélido em meu couro cabeludo. Meu estômago embrulhar com a ideia de que em alguns minutos estarei frente a frente com esse estranho, na realidade um monstro já que aceitou casar comigo por negócios, dinheiro. Me pergunto o quanto sua vida é infeliz para aceitar uma proposta inominável como essa. Torço o nariz, meus olhos ardem pelas lágrimas que insistem em cair.

— Mamãe, por favor...

Peço em um último suplício, seu olhar vacilar por alguns instantes antes que Papai, entre no quarto. Ela toma sua postura, e solta minhas mãos. Encaro Papai, seus olhos são duros, a postura reta e esguia.

— Deixe de choro menina, essa é a melhor oportunidade que terá em sua vida — suas palavras são frias, ele permanece imparcial na soleira da porta.

— Ele está certo, Sofi — como sempre ela apóia Papai, posso ouvi a risada baixa de Laura, atrás de mim - Vamos secar essas lágrimas, olha só, você acabou borrando a maquiagem.

Diz aborrecida passando um lenço em meu rosto. Minhas forças foram sugadas, me sinto cansada, abalada. Todas as minhas barreiras viraram pó, sendo levado por uma leve brisa. Fecho os olhos com força, deixando as últimas lágrimas molhar meu rosto. Eu tenho que ser forte, não irei me render tão facilmente. Serei mas fria que um iceberg, e dura como uma rocha. Com essa nova determinação que sinto, reabro os olhos.

— Olha só pra isso, agora vai ter que usar o véu.

Diz Mamãe, se afastando pegando o véu na poltrona. Pego o tecido que ela me estende e coloco sobre a cabeça, cobrindo meu rosto. Minha visão se torna meio limitada, sinto a presença de Laura, ao meu lado. Ela me estende o buquê, vejo o sorriso de satisfação em seu rosto por se livrar da mim. Agora ela terá toda atenção que sempre quis dos nossos Pais. Sei que ela pensa que roubo toda atenção deles, mas isso não é verdade. Nunca desejei isso, penso que minha vida teria sido mas simples assim. Pego o buquê, em seguida seguro a mão que Papai, me estende. Entrelaço meu braço ao de Papai, ao sairmos do quarto prometo a mim mesma! Jamais serei tomada por esse desconhecido, ele nunca me possuirá. Eu prometo!

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