A noite estava animada no salão principal.
Os residentes tinham se empolgado com a ideia do “jantar dançante” — uma tradição do asilo nas noites de sexta, resgatada por Ana como forma de trazer alegria e memórias boas. A música era antiga, mas animada. Algumas senhoras usavam batom e vestidos floridos. Seu Aníbal resmungava, como sempre, mas mesmo ele balançava os ombros discretamente quando achava que ninguém via.
Eu sorria, tentando entrar no clima. Por dentro, ainda havia uma nuvem de ressentimento que insistia em pairar depois dos últimos dias — especialmente depois da discussão pública com Otávio. Mas, por algum motivo que eu mesma ainda não queria admitir, aquela nuvem parecia instável. Quase elétrica. Quase